segunda-feira, 1 de junho de 2009

20. A Política Americana para o Oriente Médio

MITO
“Os EUA sempre emprestam bilhões
de dólares a Israel a fundo perdido”.


FATO
As doações econômicas dos EUA a Israel terminaram em 1959. Desde então,
até 1985, o auxílio consistiu principalmente de empréstimos e bens excedentes,
que Israel respectivamente pagou e comprou. Israel passou a comprar
armas dos Estados Unidos em 1962, mas só recebeu doações de ajuda militar
após a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Em conseqüência disso, o país
endividou-se seriamente para financiar seu desenvolvimento econômico e
a aquisição de armas. Naquele ano, a decisão de converter o auxílio militar
em doação foi baseada na opinião majoritária do Congresso americano de
que, sem um Israel forte, a guerra no Oriente Médio seria mais provável;
nesse caso, os EUA teriam que fazer frente a gastos diretos mais altos.

É minha responsabilidade (em primeiro lugar) fazer com que a
nossa política para Israel esteja integrada à nossa política no
mundo inteiro; segundo, meu desejo é ajudar a construir na
Palestina um país democrático, forte, próspero, livre e independente.
Este deve ser suficientemente grande, livre e forte para
tornar seu povo auto-suficiente e seguro.
- Harry S. Truman, presidente dos EUA,
em discurso de campanha no Madison Square Garden
(28 de outubro de 1948).


Por vários anos a maior parte da ajuda econômica a Israel foi destinada a
quitar dívidas antigas. Em 1984, a legislação de ajuda externa incluiu a
Emenda Cranston (inspirada no nome do senador que a propôs), que dizia
que os EUA dariam a Israel uma assistência econômica “não menor do que”
o montante que Israel deve aos Estados Unidos em serviços anuais de
pagamento da dívida.


MITO
“Israel continua pedindo ajuda
econômica mesmo sendo um país rico”.


FATO
Desde o ano fiscal de 1987, somadas todas as doações, Israel recebeu por ano
US$ 1,2 bilhão em ajuda econômica e US$ 1,8 bilhão em ajuda militar. Em
1998 Israel se ofereceu a reduzir voluntariamente sua dependência
da economia americana. Conforme um acordo firmado com o governo Clinton
e o Congresso americano, o pacote de ajuda econômica de US$ 1,2 bilhão será
reduzido em US$ 120 milhões a cada ano, até deixar de existir em dez anos.
Metade daquilo que deixará de ser gasto em assistência econômica (US$60
milhões) será acrescentado ao pacote de ajuda militar a Israel, em reconhecimento
às suas necessidades de segurança crescentes. Em 2001 Israel
recebeu US$ 840 milhões em ajuda econômica e US$ 1,98 bilhão em ajuda
militar. Em 2002 a ajuda econômica foi reduzida para US$ 720 milhões e a
militar foi orçada em US$ 2,04 bilhões.

Israel fez essa oferta porque já não tem a mesma necessidade de assistência
de outrora. Atualmente as bases da economia israelense são fortes; não
obstante, o país permanece preso a dívidas antigas com os EUA que,
diferentemente das da Jordânia e do Egito, não foram perdoadas.
Além disso, Israel ainda pode fazer uso da ajuda americana.

O país ainda tem um grande ônus financeiro com a absorção
de dezenas de milhares de imigrantes da ex-União Soviética, um alto nível
de desemprego e um número alarmante de pessoas vivendo abaixo
da linha de pobreza. A situação ficou ainda mais
exacerbada devido à violência dos últimos anos, que tem devastado a indústria
do turismo e todos os setores de serviços afins da economia. Mais do que
isso, as concessões feitas nas negociações de paz têm exigido o desmonte de
bases militares e a perda de recursos valiosos que necessitam de reposição.

MITO
“Israel se vangloria de ser a quarta nação mais forte do mundo
e, por isso, não precisa da assistência militar americana”.

FATO
Israel só tem tratados de paz com dois de seus vizinhos e permanece tecnicamente
em guerra com o restante do mundo árabe/islâmico; e muitos países,
sobretudo Iraque e Irã, são abertamente hostis. Dadas as ameaças potenciais,
a manutenção de uma defesa forte por parte de Israel continua sendo uma
necessidade. Israel é um país poderoso. Contudo, como indica o quadro de
equilíbrio de armas (ver quadros), o país permanece inferior aos inimigos em
número de homens e armamentos e, portanto, precisa confiar em sua
vantagem qualitativa como garantia de que pode derrotar seus inimigos, o
que só pode ser garantido com a compra constante dos armamentos mais
modernos. Entretanto, tanques, mísseis e aviões novos são caros e Israel não
pode bancar suas necessidades sozinho. Portanto, a ajuda americana
constante é vital à sua segurança. Além disso, os inimigos de Israel têm
muitos fornecedores, enquanto Israel depende quase que inteiramente dos
Estados Unidos para manter sua estrutura.

MITO
“A indústria americana financia a ajuda militar a Israel”.

FATO
Ao contrário da crença popular, não é verdade que os Estados Unidos simplesmente
assinam cheques de bilhões de dólares e os entregam para Israel
gastar como quiser. Apenas por volta de 26% (US$ 555 milhões de US$ 2,1
bilhões em 2003) do que Israel recebe em Financiamento Militar Estrangeiro
(FMF – Foreign Military Financing) pode ser gasto na aquisição de
equipamento militar. Os 74% remanescentes são gastos nos Estados Unidos,
gerando lucros e empregos. Por meio desse programa, mais de mil companhias
em 47 estados, além dos distritos de Colúmbia e Porto Rico, assinaram
contratos de bilhões de dólares nos últimos anos.


MITO
“As garantias de empréstimo dos EUA proporcionam a
Israel bilhões de dólares dos contribuintes americanos,
usados na construção de assentamentos para judeus
russos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza”.

FATO
Desde 1989 um milhão de judeus imigraram para Israel. A maioria, 80%,
tem saído da ex-União Soviética. Israel precisa provê-los com alimento,
moradia, emprego e capacitação. A tarefa ainda é mais desafiadora quando
se trata da absorção de judeus de países não-desenvolvidos como a Etiópia,
quando é comum ter que ensinar tudo, desde usar a descarga até sacar
dinheiro. Israel tem investido bilhões de dólares para fazer frente a estes
desafios. Além disso, a comunidade judaica americana contribui com centenas
de milhões de dólares por meio de diversas instituições filantrópicas.

A tarefa é tão desalentadora que Israel pediu ajuda aos Estados Unidos. Para
ser ter uma idéia de perspectiva desse desafio, deve-se levar em conta que
os Estados Unidos – um país de 250 milhões de habitantes e com um PIB
multitrilionário – recebe 125 mil refugiados por ano. Só em 1990, 185 mil
judeus imigraram para Israel.

Os Estados Unidos lideraram o Mundo Livre na ajuda para garantir a liberdade
dos judeus soviéticos. O Congresso americano destinou fundos para ajudar
no reassentamento de judeus soviéticos desde 1972. A partir de 1992 foram
destinados US$ 80 milhões para esse propósito.

Depois que a União Soviética abriu suas fronteiras, o gotejamento de
imigrantes se converteu em inundação e subiu vertiginosamente de pouco
menos de 13 mil em 1989 para mais de 185 mil pessoas em 1990. Israel
então solicitou um tipo diferente de ajuda. Os Estados Unidos atenderam em
1990 com a aprovação de US$ 400 milhões e garantias de empréstimos para
ajudar Israel a abrigar os recém-chegados.

Garantias não são doações – nem um centavo dos fundos do governo americano
é transferido para Israel. Os Estados Unidos são simplesmente consignatários
dos empréstimos, o que faz com que os bancos confiem em emprestar dinheiro
a Israel em condições mais favoráveis: taxas de juros mais baixas e períodos
de devolução mais longos – até 30 anos em vez de cinco a sete. Essas
garantias de empréstimo não afetam programas ou garantias internas dos
EUA. Mais do que isso, não causam qualquer impacto aos contribuintes
americanos, a menos que Israel deixasse de pagar seus empréstimos, algo
que jamais aconteceu. Além do mais, grande parte do dinheiro que Israel pede
emprestado é gasto nos Estados Unidos para a compra de bens americanos.

Quando ficou evidente que o fluxo de refugiados era ainda maior do que se
pensava e que dezenas de milhares continuavam a chegar todos os meses,
Israel percebeu que necessitava de mais ajuda e pediu mais US$ 10 bilhões
em garantias aos Estados Unidos.

Em 1992, o Congresso americano autorizou o presidente a fornecer garantias
de empréstimo a Israel como resultado do extraordinário esforço humanitário
do país de reassentar e absorver imigrantes. Essas garantias foram dadas na
forma de incrementos anuais de US$ 2 bilhões por cinco anos. Enquanto
não havia custo para o governo americano, Israel pagou aos EUA parcelas
anuais que alcançavam algumas centenas de milhões de dólares para cobrir
custos administrativos e outros.

Segundo as normas vigentes, nenhuma ajuda externa a Israel pode ser
usada além das fronteiras pré-1967. Mais do que isso, para sublinhar sua
insatisfação com a política de assentamentos de Israel, o presidente foi
autorizado a reduzir as garantias anuais de empréstimo no mesmo montante
do valor estimado das atividades israelenses na Cisjordânia e Faixa de Gaza
do ano anterior.

Assim, o Departamento de Estado determinou que Israel gastasse pouco
menos de US$ 1,4 bilhão em assentamentos entre 1993 e 1996. Entretanto,
o presidente estava autorizado a rescindir deduções quando os fundos
colocados à disposição de Israel fossem em favor dos interesses da segurança
dos Estados Unidos. O presidente Clinton usou essa opção nos últimos três
anos do programa, de modo que a redução real no montante de garantias
dado a Israel foi de US$ 773,8 milhões.

A verba destinada aos assentamentos tampouco tinha que ver com os novos
imigrantes, porque nenhum deles foi obrigado a viver nos territórios. De fato,
apenas uma porcentagem mínima optou por fazê-lo. A programa de garantia
de empréstimos dos EUA foi de um sucesso retumbante em todos os sentidos.
Israel usou os fundos emprestados fundamentalmente para aumentar o
montante de divisas disponível ao setor empresarial do país, bem como para
apoiar projetos de infra-estrutura, como estradas, pontes, redes de saneamento
básico e de distribuição elétrica. As garantias também ajudaram Israel a
fornecer moradia e emprego a virtualmente todos os novos imigrantes.

MITO
“Jamais se acreditou que Israel tivesse qualquer
valor estratégico para os Estados Unidos”.


FATO
Em 1952, o general Omar Bradley, chefe do Estado-Maior Conjunto, acreditava
que o Ocidente precisava de 19 divisões para defender o Oriente Médio, das
quais Israel poderia fornecer duas. Para 1955 ele também contava com apenas
três países para fornecer ao Ocidente apoio aéreo em defesa do Oriente
Médio: Grã-Bretanha, Turquia e Israel. A análise de Bradley foi rejeitada porque
o escalão político decidiu que era mais importante para os Estados Unidos
trabalhar com o Egito e, mais adiante, com o Iraque. Temia-se que a integração
das forças israelenses à estratégia ocidental marginalizasse os árabes.11

A vitória esmagadora de Israel sobre as forças de coalizão árabes em 1967
fez com que essa atitude fosse revista. No ano seguinte os Estados Unidos
venderam aviões sofisticados (jatos Phantom) a Israel pela primeira vez.
Washington mudou sua política em relação ao Oriente Médio de buscar um
equilíbrio de forças e passou a garantir que Israel desfrutasse de uma vantagem
qualitativa sobre seus inimigos.

Israel atestou seu valor em 1970 quando os Estados Unidos pediram sua
ajuda para respaldar o regime do rei Hussein. A disposição israelense de
ajudar Amã e o movimento de tropas até a fronteira jordaniana persuadiram
a Síria a retirar os tanques enviados à Jordânia em apoio às forças da OLP que
desafiaram o rei durante o Setembro Negro.12
Estava claro, no início da década de 1970, que nenhum país árabe poderia
ou iria contribuir com a defesa do Ocidente no Oriente Médio. O Pacto de
Bagdá já há muito expirara e os regimes aliados dos Estados Unidos eram
fracos se comparados às forças anti-Ocidente no Egito, na Síria e no Iraque.
Mesmo após a reorientação do Egito depois de assinar seu tratado de paz com
Israel, os Estados Unidos não puderam contar com qualquer governo com
fins de assistência militar.

O Governo Carter passou a implementar uma forma de cooperação estratégica
(cuja denominação não era essa) para tornar Israel apta a vender equipamento
militar para os Estados Unidos. A disposição na integração de Israel em
esforços militares conjuntos concentrados era vista pelo presidente Carter
como uma maneira de recompensar o país por sua “boa conduta” nas
conversações de paz com o Egito.

Embora ainda houvesse alguma relutância em formalizar esse
relacionamento, a cooperação estratégica se converteu num foco importante
da relação EUA-Israel quando Ronald Reagan chegou ao poder. Antes de sua
eleição, Reagan havia escrito: “Só pelo pleno reconhecimento do papel crítico
que o Estado de Israel desempenha em nossos cálculos estratégicos é que
poderemos construir as bases para nos opor aos planos de Moscou sobre
territórios e recursos vitais à nossa segurança e ao bem-estar nacional”.13

A atitude de Reagan culminou com a assinatura, em 30 de novembro de
1981, de um memorando de entendimento sobre “cooperação estratégica”.
Em 29 de novembro de 1983 foi assinado um acordo criando o Grupo Conjunto
Político-Militar (JPMG – Joint Political-Military Group) e outro para supervisionar
a assistência em matéria de segurança, o Grupo Conjunto de Planejamento de
Assistência em Segurança (JSAP – Joint Security Assistance Planning Group).

O JPMG foi desenvolvido originalmente para discutir os meios de se contrapor
à ameaça apresentada pelo crescente envolvimento soviético no Oriente
Médio. Entretanto, o grupo tem enfatizado mais as preocupações bilaterais
sobre a proliferação de armas químicas e mísseis balísticos.

O JSAP foi criado como resposta à crise econômica israelense em meados da
década de 1980. Esse organismo binacional se reúne anualmente em
Washington com o objetivo de examinar pedidos israelenses, presentes e
futuros, de aquisição de equipamento militar, bem como para formular planos
de alocação dos créditos das vendas militares externas dos EUA à luz de
avaliações correntes e das possibilidades orçamentárias dos Estados Unidos.

Em 1987, o Congresso americano designou Israel como um grande aliado fora
da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Israel foi formalmente
considerado um aliado, o que permitiu que suas indústrias competissem em
pé de igualdade com as de países da Otan e de outros aliados dos EUA por
contratos de produção de um número significativo de itens de defesa.

Desde o renascimento do Estado de Israel tem havido um vínculo
férreo entre aquela democracia e esta.
- Presidente Ronald Reagan, em discurso para a Bnai Brith,
3 de setembro de 1980.


Em abril de 1988, o presidente Reagan assinou outro memorando de entendimento
que integrava todos os acordos anteriores, institucionalizando o
relacionamento estratégico.

No fim do governo Reagan, os EUA haviam colocado equipamentos militares
em Israel, faziam regularmente exercícios de treinamento conjuntos, iniciaram
o desenvolvimento conjunto do míssil balístico antitático Arrow e estavam
envolvidos numa gama de outros programas de cooperação militar.
A cooperação estratégica entre EUA e Israel continua a evoluir desde então.
Hoje em dia esses laços estratégicos estão mais fortes do que nunca. Israel
agora é um aliado de fato dos Estados Unidos.

MITO
“Os israelenses podem viver confortavelmente
graças ao apoio americano e não vêem razão
para reformar seu sistema econômico”.


FATO
Os israelenses estão entre os que mais pagam impostos no mundo, com
descontos de Imposto de Renda que alcançam até 50% – isso num país onde
o ganho médio por habitante é de US$18 mil ao ano.

Durante anos os israelenses viram o seu padrão de vida declinar, em grande
parte devido aos gastos extraordinários do governo com a defesa que
comprometeram entre 20% e 25% do orçamento. A situação tem melhorado
nos últimos anos em boa parte graças ao processo de paz, de modo que os
gastos com a defesa foram reduzidos a 16% do orçamento.

Quando Israel entregou os campos petrolíferos que desenvolvera no Sinai
como parte do acordo de paz com o Egito, sacrificou a oportunidade de se
tornar um país auto-suficiente em energia. Em conseqüência disso, sua
economia sofre com as oscilações do preço do petróleo.

Mais recentemente, com o influxo de centenas de milhares de imigrantes da
ex-União Soviética e da Etiópia, os israelenses vêm aceitando voluntariamente
sacrifícios ainda maiores para facilitar a absorção dos recém-chegados.

Há muito que os israelenses reconhecem a necessidade de reformar dramaticamente
a sua economia. Em 1985 Israel implementou um programa de
estabilização com um conjunto de características principais: grande corte
nos subsídios para produtos e serviços básicos; forte desvalorização da moeda
corrente, seguida de taxa de câmbio estável em relação ao dólar; controle de
salários e preços e interrupção da indexação de salários e poupança à inflação;
e uma política monetária para controlar o aumento do crédito por meio do
aumento das taxas de juros.

O New York Times descreveu mais tarde os sacrifícios do povo israelense e a
mensagem do programa de estabilização como “Todos dão um passo para
trás – juntos”.14

O programa de estabilização de Israel funcionou como um “pequeno milagre”.
A inflação caiu fortemente de um patamar de três dígitos para zero em 2000.
Estabilizou-se a taxa de câmbio do shekel (a moeda israelense), as reservas
em divisas foram recuperadas, aumentaram as exportações e o déficit
orçamentário foi reduzido.

Hoje em dia Israel está se esforçando para ir além da estabilização por meio
da implementação das mudanças estruturais necessárias ao crescimento
econômico sustentado. O governo continua a cortar subsídios em alimentos
e serviços públicos, até mesmo em saúde pública e educação, além de
remover o controle sobre os preços, reformar a estrutura tributária e passar
a privatizar companhias estatais. Embora esses sejam passos traumáticos, os
israelenses reconhecem a necessidade de medidas assim tão difíceis.

Israel vem acolhendo os EUA como um parceiro participativo e tem demonstrado
ser um dos poucos beneficiários da ajuda externa americana que
responde positivamente às recomendações para fazer reformas importantes
em sua economia.

MITO
“Israel adota medidas protecionistas que
criam barreiras ao comércio americano”.


FATO
Israel é um dos mercados mais abertos aos produtos americanos. Grande
parte do crescimento no comércio entre EUA e Israel é resultado do Acordo
de Livre Comércio (FTA – Free Trade Agreement) de 1985. O FTA oferece aos
produtos americanos a oportunidade de competir em igualdade de condições
com produtos europeus, que também têm livre acesso ao mercado doméstico
israelense. Esse foi o primeiro acordo do tipo a ser assinado entre os Estados
Unidos e qualquer outro país.

Desde a assinatura do FTA, as exportações dos Estados Unidos para Israel já
aumentaram em 234%, enquanto o volume de intercâmbio comercial entre
os dois países cresceu 317%, alcançando algo próximo a US$ 20 bilhões.
Esse crescimento vem resultando em mais vendas e lucros para os exportadores
americanos.

MITO
“A contratação de Jonathan Pollard para espionar nos EUA
comprova que Israel age contra os interesses americanos”.


FATO
Em novembro de 1985, o FBI prendeu Jonathan Pollard, um analista da inteligência
da Marinha dos EUA, sob acusação de vender informação confidencial
para Israel. Em seguida Pollard foi condenado à prisão perpétua. Sua mulher,
Anne, recebeu cinco anos de prisão por colaborar com o marido. Imediatamente
após a prisão de Pollard, Israel desculpou-se e explicou que a operação
não havia sido autorizada. “É política de Israel se abster de qualquer atividade
de inteligência relacionada aos Estados Unidos”, declarou um membro do
governo, “em vista de uma estreita e especial relação de amizade” entre os
dois países. O primeiro-ministro Shimon Peres declarou: “Espionar os Estados
Unidos está em total contradição com a nossa política”.15

Estados Unidos e Israel trabalharam em conjunto para investigar o caso
Pollard. O inquérito israelense revelou que ele não estava trabalhando para
a inteligência militar israelense ou para o Mossad (serviço secreto), mas para
uma pequena unidade de inteligência científica independente. Foi Pollard
quem iniciou o contato com os israelenses.

Um subcomitê do Comitê de Defesa e Assuntos Externos do Knesset sobre
Serviços de Inteligência e Segurança concluiu: “Sem dúvida alguma... os
escalões operacionais (ou seja, a Unidade de Ligação Científica chefiada por
Rafael Eitan) decidiram recrutar e usar Pollard sem qualquer verificação ou
consulta ao escalão político e tampouco receberam qualquer aprovação
direta ou indireta”. O comitê do Knesset censurou o governo por não ter
monitorado a unidade científica da maneira adequada.

Conforme havia prometido ao governo americano, a unidade de espionagem
que usou Pollard foi desmantelada, seus diretores punidos e os documentos
roubados devolvidos.16

O último ponto foi decisivo para o caso do Departamento de Justiça dos EUA
contra Pollard. Pollard negou que espionava “contra” os Estados Unidos. Ele
afirmou que forneceu informações que considerava vitais à segurança de
Israel e que estavam sendo retidas pelo Pentágono. Isso incluía dados sobre
carregamentos de armas soviéticas para a Síria, armas químicas iraquianas
e sírias, o projeto paquistanês da bomba atômica e os sistemas líbios de
defesa aérea.17

Pollard foi condenado por espionagem. Sua sentença à prisão perpétua foi a
mais severa jamais imposta por espionagem de um aliado, bem como muito
maior do que a condenação comum por espionagem para a União Soviética
e outros inimigos dos Estados Unidos.18

Embora a princípio Israel tenha se esquivado, o Governo Benjamin Netanyahu
admitiu que Pollard trabalhara para a inteligência israelense e recebera
cidadania israelense. Netanyahu pediu clemência para Pollard durante as
conversações de paz para o Oriente Médio em Wye Plantation, Maryland, em
1998. Desde então, membros do governo israelense têm feito apelos em
favor de Pollard.

Os partidários de Pollard nos Estados Unidos também solicitam de tempos em
tempos para que ele seja perdoado. Alega-se que o presidente Clinton
considerou a possibilidade de perdoá-lo, mas funcionários da agência de
inteligência e defesa foram radicalmente contra a idéia. No fim do governo
Clinton, o assunto voltou à tona novamente e o senador Richard Shelby
(Republicano–Alabama), presidente do Comitê Seleto sobre Inteligência, ao
lado da maioria dos senadores, argumentou contra o perdão. “O senhor
Pollard é um espião condenado que colocou nossa segurança nacional em
risco e a vida dos funcionários do nosso serviço de inteligência em perigo”,
afirmou Shelby. “Não há maneira enérgica o suficiente para expressar minha
crença de que o senhor Pollard deve cumprir cada minuto de sua sentença...”.19

Em novembro de 2003, um juiz federal rejeitou os pedidos em favor de
Pollard para que fosse revista a sua sentença de prisão perpétua e que se
relessem documentos governamentais confidenciais que, segundo Pollard,
provariam que sua espionagem não era assim tão danosa quanto
denunciaram seus perseguidores. O juiz afirmou que Pollard esperara demais
– mais de uma década após a imputação da pena – para se contrapor à sua
sentença e considerou que seus advogados não ofereceram uma justificativa
convincente para que os documentos confidenciais dos serviços de
inteligência fossem abertos.20

MITO
“Israel enganou os EUA quando vendeu armas ao Irã em
troca de reféns e ajudou a desviar verbas para os Contras”.


FATO
De acordo com o Relatório dos Comitês de Investigação do Congresso para o
Caso Irã-Contras, publicado em novembro de 1987, a venda de armas
americanas para o Irã por meio de Israel teve início no verão de 1985, após
receber a aprovação do presidente Reagan. O relatório mostra que o envolvimento
de Israel foi estimulado por ofertas distintas, em 1985, do negociador
de armas iraniano Manucher Ghorbanifar e do consultor Michael Ledeen, do
Conselho de Segurança Nacional (NSC – National Security Council), que
trabalhava para o Conselheiro de Segurança Nacional Robert McFarlane.

Quando Ledeen pediu auxílio ao primeiro-ministro Shimon Peres, o líder
israelense concordou em vender armas ao Irã em benefício dos EUA, desde
que a venda contasse com a aprovação americana em alto-nível.21

O relatório conta que, antes de participar, os israelenses exigiram “um
consentimento claro, expresso e coeso do governo dos Estados Unidos”.
McFarlane contou ao comitê do Congresso que recebeu a aprovação do
presidente Reagan em julho de 1985. Em agosto Reagan novamente autorizou
verbalmente a primeira venda de armamentos ao Irã, apesar das objeções do
secretário de Defesa, Caspar Weinberger, e do secretário de Estado, George
Shultz.22 Devido a esse acordo, o reverendo Benjamin Weir, mantido cativo
no Líbano por 16 meses, foi libertado.

Quando foi proposto um carregamento de mísseis Hawk em novembro daquele
ano, o então ministro da Defesa israelense, Yitzhak Rabin, voltou a exigir
uma aprovação específica dos Estados Unidos. Segundo McFarlane, o
presidente concordou.

Em dezembro de 1985, o presidente decidiu que as vendas futuras aos
iranianos seriam feitas diretamente pelos Estados Unidos. Segundo o relatório
dos comitês, o assessor do Conselho de Segurança Nacional tenente-coronel
Oliver North usou pela primeira vez o dinheiro da operação com o Irã para
sustentar a resistência nicaragüense em novembro de 1985. Contudo, mais
tarde se verificou que o desvio de fundos para os Contras lhe fora proposto
por Ghorbanifar durante um encontro em janeiro de 1986.

O bilionário negociador saudita de petróleo e armamentos Adnan Khashoggi
afirmou em entrevista para a rede de televisão americana ABC em 11 de
dezembro de 1986 que adiantara US$1 milhão para ajudar a financiar o
primeiro carregamento de armas do escândalo Irã-Contras e acrescentara
US$4 milhões para o segundo carregamento. Segundo o comitê especial de
investigação presidido pelo ex-senador John Tower, um dirigente estrangeiro
(supostamente o rei Fahd, da Arábia Saudita) doou de US$ 1 milhão a US$2
milhões de julho de 1984 a abril de 1985 para cobrir o financiamento aos
Contras. A Arábia Saudita negou que prestara auxílio aos rebeldes
nicaragüenses, mas o New York Times publicou que a contribuição pode ter
feito parte de um acordo secreto, em 1981, entre Riad e Washington “para
grupos de resistência anticomunistas próximos aos sofisticados aviões-radar
americanos Awacs, segundo funcionários dos Estados Unidos e outros cientes
do acordo”.23

O Comitê do Congresso Bicameral (composto pela Câmara e pelo Senado)
elogiou o governo israelense por fornecer uma cronologia detalhada dos
eventos com base em documentos e entrevistas relevantes com participanteschave
dessa operação. Esse relatório também corroborou a conclusão da
Comissão Tower: “Aqueles que decidem nos Estados Unidos tomaram suas
próprias decisões e devem arcar com a responsabilidade pelas conseqüências”.24