MITO
“Os britânicos ajudaram os judeus a desalojar a população árabe nativa da Palestina”.
FATO
Herbert Samuel, judeu inglês e primeiro alto-comissário da Palestina, impôs restrições à imigração judaica “em favor dos ‘interesses da população presente’ e da ‘capacidade de absorção’ do país”.1 Considerou-se que a chegada de colonos judeus forçava os felahin (camponeses) árabes a sair de sua terra. Isso foi numa época em que menos de um milhão de pessoas vivia na área que atualmente tem mais de nove milhões de habitantes.
Os britânicos, na verdade, fizeram a partilha do território, limitando a imigração. Em 1921, Winston Churchill, futuro primeiro-ministro, separou quase 80% da Palestina – mais ou menos 56.300 km2 – para criar uma entidade árabe, a Transjordânia. Como prêmio de consolação por Hejaz e Arábia (que compõem hoje, juntos, a Arábia Saudita) terem sido entregues à família Saud, Churchill recompensou Abdula,2 filho do rei Hussein, por sua contribuição na guerra contra a Turquia, nomeando-o emir da Transjordânia.
Os britânicos foram mais longe e impuseram restrições às compras de terra por judeus no que restou da Palestina, contradizendo o estipulado no Mandato (Artigo 6): “... a administração de Palestina (...) deve encorajar, em cooperação com a Agência Judaica (...), o assentamento de judeus na terra, incluindo áreas estatais e desabitadas que não foram adquiridas para fins públicos”. Por volta de 1949, os britânicos haviam loteado 354 km2 do total de 759 km2 de terras cultiváveis entre os árabes, destinando apenas 17 km2 aos judeus.3
Finalmente, os britânicos aceitaram o argumento de que a capacidade de absorção do país fora subestimada. A Comissão Peel afirmou: “A forte imigração entre 1933 e 1936 parece mostrar que os judeus têm sido capazes de aumentar a capacidade de absorção do país”.4
MITO
“Os britânicos permitiram o fluxo de judeus para a Palestina, enquanto a imigração árabe era rigidamente controlada”.
FATO
A resposta britânica à imigração judaica segue um precedente de aplacar os árabes, o que foi mantido durante o Mandato. Os britânicos impuseram restrições à imigração judaica ao mesmo tempo em que permitiam aos árabes entrar livremente no país. Aparentemente, Londres não acreditava que um fluxo de imigrantes árabes afetaria a capacidade de absorção do país.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a população judaica da Palestina caiu devido à guerra, à fome, às doenças e à expulsão pelos turcos. Em 1915, eram 83 mil judeus e 590 mil árabes muçulmanos ou cristãos. Conforme o censo de 1922, a população judaica era de 84 mil habitantes, enquanto os árabes somavam 643 mil.5 Portanto, a população árabe cresceu, enquanto a dos judeus estagnou.
Em meados da década de 1920, a imigração judaica para a Palestina aumentou em razão de uma legislação econômica antijudaica na Polônia e à imposição de cotas de imigração nos Estados Unidos.6
O número recorde de imigrantes em 1935 foi uma resposta à crescente perseguição de judeus na Alemanha nazista. A administração britânica considerava este número demasiadamenteo alto; assim sendo, a Agência Judaica foi informada de que menos da terça parte da cota solicitada seria aprovada em 1936.7
Os britânicos cederam ainda mais às exigências árabes ao anunciarem, no Livro Branco de 1939, que um Estado árabe independente seria criado em dez anos e que a imigração judaica deveria ser limitada a 75 mil para os próximos cinco anos, após os quais deveria cessar por completo. Também foi proibida a venda de terras a judeus em 95% do território da Palestina. Os árabes rejeitaram a proposta. Em contrapartida, durante o período do Mandato Britânico, a imigração árabe era irrestrita.
Em 1930 a Comissão Hope Simpson, enviada de Londres para investigar as revoltas árabes de 1929, disse que a prática britânica de ignorar a imigração árabe ilegal e sem controle vinda do Egito, da Transjordânia e da Síria tinha o efeito de impedir o estabelecimento de futuros imigrantes judeus.8 O governador britânico para o Sinai entre 1922 e 1936 observou: “Essa imigração ilegal não provém somente do Sinai, mas também da Transjordânia e da Síria, e é muito difícil avaliar a miséria dos árabes se, ao mesmo tempo, seus compatriotas dos países vizinhos não podem ser impedidos de se juntar a essa miséria”.9
A Comissão Peel informou em 1937 que a “escassez de terra (...) deve-se menos ao montante de terra adquirido por judeus do que ao aumento da população árabe”.10
MITO
“Os britânicos mudaram de política após a Segunda Guerra Mundial para permitir que os sobreviventes do Holocausto pudessem se estabelecer na Palestina”.
FATO
As portas da Palestina permaneceram fechadas por todo o período da guerra, abandonando centenas de milhares de judeus na Europa, muitos dos quais foram vítimas da Solução Final (decisão política que levou ao extermínio em massa dos judeus nos países da Europa ocupados pelo nazismo) de Adolf Hitler. Após a guerra, os britânicos se recusaram a permitir que os sobreviventes do pesadelo nazista encontrassem refúgio na Palestina. Em 6 de junho de 1946, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, exigiu que o governo britânico aliviasse o sofrimento dos judeus confinados em campos de refugiados na Europa, mediante a aceitação imediata de cem mil imigrantes judeus.
O ministro das Relações Exteriores britânico, Ernest Bevin, respondeu, com sarcasmo, que os Estados Unidos queriam que os judeus refugiados emigrassem para a Palestina “porque eles não queriam muitos deles em Nova York”.11
Alguns judeus conseguiram chegar à Palestina, usando navios avariados que as organizações de resistência usaram para transportá-los às escondidas.
Entre agosto de 1945 e maio de 1948 (quando foi criado o Estado de Israel), 65 navios de imigrantes “ilegais” com 69.878 pessoas chegaram da Europa. Entretanto, em agosto de 1946, os britânicos passaram a levar para acampamentos na Ilha de Chipre os que eram capturados. Aproximadamente 50 mil pessoas foram detidas nesses acampamentos, 28 mil das quais ainda estavam aprisionadas quando Israel declarou independência.12
MITO
“Enquanto a população judaica da Palestina
crescia, a situação dos árabes palestinos só piorava”.
FATO
A população judaica chegou a 470 mil pessoas entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, enquanto a não-judaica alcançou 588 mil.14 De fato, a população árabe permanente cresceu 120% entre 1922 e 1947. (15) Esse rápido crescimento foi resultado de diversos fatores. Um foi a imigração a partir dos Estados vizinhos – constituindo 37% do total antes da criação do Estado de Israel – por árabes que queriam se aproveitar do padrão de vida mais elevado que os judeus tornaram possível.15
A população árabe também cresceu devido às melhores condições de vida criadas pelos judeus, depois que esses drenaram os pântanos infestados de malária e trouxeram uma melhor condição sanitária e de saúde para a região. Assim, por exemplo, a mortalidade infantil muçulmana caiu de 201 por mil em 1925 para 94 por mil em 1945 e a expectativa de vida subiu de 37 anos (em 1926) para 49 anos (em 1943).16
A população árabe cresceu principalmente nas cidades onde grandes populações judaicas haviam criado oportunidades econômicas. Entre 1922 e 1947, a população não-judaica cresceu 290% em Haifa, 131% em Jerusalém e 158% em Iafo. O crescimento nos povoados árabes foi mais modesto: 42% em Nablus, 78% em Jenin e 37% em Belém.17
MITO
“Os judeus roubaram a terra dos árabes”.
FATO
Apesar do crescimento de sua população, os árabes continuaram a afirmar que estavam sendo desalojados. A verdade é que, desde o início da Primeira Guerra Mundial, parte da terra da Palestina estava nas mãos de proprietários ausentes que viviam no Cairo, em Damasco e em Beirute. Por volta de 80% dos árabes palestinos eram camponeses, seminômades e beduínos endividados.18
Na realidade, os judeus se esforçaram para evitar a compra de terras em áreas onde os árabes pudessem ser desalojados. Eles buscaram terras que eram praticamente não-cultivadas, pantanosas, baratas e, o mais importante, desabitadas. Em 1920, o líder trabalhista sionista David Ben-Gurion18a expressou preocupação acerca dos felahin árabes, os quais via como “o ativo mais importante da população nativa”. Ben-Gurion disse que “sob nenhuma circunstância devemos tocar a terra pertencente aos felahin ou trabalhada por eles”. Ele defendeu que eles fossem libertados de seus opressores. “Somente no caso de um felah abandonar o seu lugar de assentamento”, acrescentou Ben-Gurion, “é que devemos nos oferecer a comprar sua terra, e por um preço adequado”.19
Só depois que os judeus compraram toda a terra não-cultivada disponível foi que adquiriram as cultivadas. Muitos árabes desejavam vendê-las, seja porque queriam se mudar para as cidades do litoral, seja porque precisavam de dinheiro para investir na indústria de cítricos.20
Quando John Hope Simpson chegou à Palestina em maio de 1930, comentou:
“Eles [os judeus] pagaram altos preços pela terra; além disso, pagaram a alguns dos seus ocupantes um montante considerável de dinheiro que legalmente não eram obrigados a pagar”.21
Em 1931, Lewis French levantou a quantidade de árabes sem-terra e ofereceu lotes aos interessados. Foram recebidas três mil inscrições, das quais 80% foram consideradas inválidas pelo assessor legal do governo, porque os inscritos não atendiam ao requisito básico, ou seja, não eram árabes sem-terra. Sobraram apenas 600 inscritos, dos quais cem aceitaram a oferta de terras do governo.22
Em abril de 1936, uma nova seqüência de ataques árabes aos judeus foi instigada por um guerrilheiro sírio chamado Fawzi al Cawukji, comandante do Exército de Libertação Árabe. Em novembro, quando os britânicos finalmente enviaram uma nova comissão de investigação encabeçada por Lord Peel, 89 judeus haviam sido mortos e mais de 300 feridos.23
O relatório da Comissão Peel descobriu que as queixas árabes sobre a aquisição de terras pelos judeus eram infundadas. Ele indicou que “grande parte da terra agora carregada de laranjais antes eram dunas de areia ou pântanos e não-cultivadas quando foram compradas (...) havia, na época das primeiras vendas, poucas evidências de que os proprietários possuíssem até mesmo recursos ou preparo necessário para desenvolver a terra”.24
Além disso, a comissão descobriu que a escassez “se devia menos à quantidade de terra adquirida pelos judeus do que pelo crescimento da população árabe”. O relatório concluiu que a presença de judeus na Palestina, juntamente com o trabalho da administração britânica, resultaram em maiores ganhos, padrão de vida mais elevado e amplas oportunidades de emprego.25
Em suas memórias, o rei Abdula da Transjordânia escreveu:
“Está bastante claro para todos, tanto pelo mapa traçado pela
Comissão Simpson quanto por outro compilado pela Comissão
Peel, que os árabes são tão pródigos em vender suas terras como
o são em prantos e choros inúteis”26
Mesmo na época da revolta árabe de 1938, o Alto-Comissariado britânico para a Palestina acreditava que os proprietários árabes se queixavam das vendas aos judeus para aumentar os preços das terras que pretendiam vender. Muitos deles foram tão aterrorizados por rebeldes árabes que decidiram abandonar a Palestina e vender suas propriedades aos judeus.27
Os judeus pagavam preços exorbitantes a ricos proprietários de terra por pequenos lotes de terra árida. “Em 1944, os judeus pagavam entre US$ 1.000 e US$ 1.100 por acre na Palestina, em sua maior parte terras áridas ou semi-áridas; no mesmo ano, a rica terra preta de Iowa (EUA) era vendida por aproximadamente US$ 110 por acre”.28
Por volta de 1947, as propriedades judaicas na Palestina somavam por volta de 463 mil acres (1.874 km2), dos quais aproximadamente 45 mil adquiridos do governo do Mandato Britânico, 30 mil de diversas igrejas e 387.500 dos árabes. Análises das compras de terra entre 1880 e 1948 mostram que 73% dos lotes judaicos foram comprados de grandes proprietários de terra, não dos pobres felahin.29
Entre os que venderam terra estavam os governantes de Gaza, Jerusalém e Iafo. As’ad el-Shukeiri, um erudito religioso muçulmano e pai do presidente da OLP Ahmed Shukeiri, recebeu dinheiro dos judeus por sua terra. Até mesmo o rei Abdula arrendou terra aos judeus. Na verdade, muitos líderes do movimento nacionalista árabe, inclusive membros do Conselho Supremo Muçulmano, venderam terra aos judeus.30
MITO
“Os britânicos ajudaram os palestinos a viver em paz com os judeus”.
FATO
Em 1921, Haj Amin el-Husseini primeiro começou a organizar os fedayin (“os que se sacrificam”) para aterrorizar os judeus. Haj Amin esperava duplicar o sucesso de Kemal Atatürk na Turquia e expulsar os judeus da Palestina assim como Kemal fez com os invasores gregos de seu país.31 Os árabes radicais eram capazes de obter influência porque a administração britânica não estava disposta a agir efetivamente contra eles, até que, por fim, esses se rebelaram contra o governo britânico.
O coronel Richard Meinertzhagen, ex-chefe da inteligência militar britânica no Cairo e, mais tarde, secretário-chefe de Política para Palestina e Síria, escreveu em seu diário que os dirigentes britânicos “estão propensos à exclusão do sionismo na Palestina”. De fato, os britânicos estimularam os palestinos a atacar os judeus. Segundo Meinertzhagen, o Coronel Waters Taylor (assessor financeiro da Administração Militar na Palestina entre 1919 e 1923) reuniu-se com Haj Amin alguns dias antes da Páscoa, em 1920 e disse “que ele tinha uma grande oportunidade, na Páscoa, de mostrar ao mundo (...) que o sionismo era tão impopular junto à Administração Palestina como em Whitehall (sede do Ministério do Exterior britânico), se na Páscoa ocorressem distúrbios bastante violentos em Jerusalém, tanto o General Bols (administrador-chefe da Palestina em 1919-1920) quanto o General Allenby (comandante da Força Egípcia entre 1917 e 1919 e, em seguida, alto-comissário do Egito) defenderiam o abandono da idéia de se criar o Lar Nacional Judaico. Waters Taylors explicou que a liberdade só poderia ser alcançada pela violência”.32
Haj Amin aceitou o conselho do coronel e provocou uma rebelião. Os britânicos retiraram suas tropas e a polícia judaica de Jerusalém, permitindo que a multidão árabe atacasse os judeus e saqueasse seus estabelecimentos comerciais. Os ingleses prenderam Haj Amin porque instigava o pogrom. Todavia, ele escapou e foi sentenciado, à revelia, a dez anos de prisão Um ano depois, alguns arabistas britânicos convenceram o alto-comissário Herbert Samuel a perdoar Haj Amin e a nomeá-lo Mufti. Em contrapartida, Vladimir Jabotinsky e muitos de seus seguidores, que haviam formado uma organização de defesa judaica durante a revolta, foram sentenciados a 15 anos de prisão.33
Samuel reuniu-se com Haj Amin em 11 de abril de 1921 e recebeu garantias de que “as suas influências, bem como de sua família, seriam dedicadas à tranqüilidade”. Três semanas depois, rebeliões em Iafo e em outras partes deixaram 43 judeus mortos.34
Haj Amin consolidou seu poder e passou a controlar todos os fundos religiosos muçulmanos na Palestina. Ele usou sua autoridade para controlar mesquitas, escolas e tribunais. Nenhum árabe podia alcançar uma posição influente sem ser leal ao Mufti. Seu poder era tão absoluto que “nenhum muçulmano da Palestina podia nascer ou morrer sem comprometer-se com Haj Amin”. 35
Os partidários do Mufti também agiam de modo que ele não sofresse oposição, matando sistematicamente os palestinos de clãs rivais que discutiam a cooperação com os judeus.
Como porta-voz dos árabes palestinos, em vez de Haj Amin pedir que a Grã-Bretanha lhes concedesse a independência, exigiu, em carta a Churchill em 1921, que a Palestina fosse reunificada à Síria e à Transjordânia.36
Os árabes descobriram que se rebelar era um instrumento político efetivo diante das fracas atitude e resposta por parte dos britânicos à violência contra judeus. Ao lidar com cada revolta, os britânicos faziam de tudo para impedir que os judeus se protegessem e pouco ou nenhum esforço para evitar que os árabes os atacassem. Após cada conflito, uma comissão britânica de investigação tentava estabelecer a causa da violência. A conclusão era sempre a mesma: os árabes temiam ser desalojados por judeus. Para deter as revoltas, as comissões recomendavam que fossem estabelecidas restrições à imigração judaica. Assim, os árabes perceberam que sempre poderiam deter o influxo de judeus por meio de uma rebelião. Esse ciclo começou após uma série de rebeliões em maio de 1921. Após deixarem de proteger a comunidade judaica das multidões árabes, os britânicos nomearam a Comissão Haycraft para investigar a causa da violência. Embora a comissão tenha concluído que os árabes haviam sido os agressores, racionalizou a causa do ataque: “A causa fundamental das rebeliões foi um sentimento, entre os árabes, de descontentamento e hostilidade para com os judeus por motivos políticos e econômicos, e relacionados à imigração judaica e à sua concepção de política sionista...”.37
Uma conseqüência da violência foi a instituição de uma proibição temporária de imigração judaica. O temor dos árabes de serem “desalojados” ou “dominados” foi usado como pretexto para seus ataques impiedosos contra colonos judeus pacíficos. Deve-se notar também que essas rebeliões não eram inspiradas por um fervor nacionalista – nacionalistas teriam se rebelado contra seus dominadores britânicos –, mas motivadas por contendas raciais e incompreensão.
Em 1929 provocadores árabes conseguiram convencer as massas de que os judeus tinham planos para o Monte do Templo (uma tática que se repetiria em diversas ocasiões, a mais recente das quais em 2000, após a visita de Ariel Sharon). Um preceito religioso judaico no Muro Ocidental (Muro das Lamentações), que faz parte do Monte do Templo, serviu como catalisador para uma rebelião árabe contra judeus que se espalhou desde Jerusalém para outros povoados e cidades, incluindo Safed e Hebron. Mais uma vez, a administração britânica não se empenhou em evitar a violência e, depois que essa começou, nada fez para proteger a população judaica. Após seis dias de confrontos, os britânicos finalmente trouxeram tropas para sufocar os distúrbios. Nesse período, praticamente toda a população judaica de Hebron fugiu ou foi morta. No total, 133 judeus foram assassinados e 399 feridos nos pogroms.38
Após o término das rebeliões, os britânicos fizeram uma investigação que resultou no Livro Branco de Passfield. Este dizia que “a imigração, a compra de terras e as políticas de assentamento da Organização Sionista já eram, ou estavam prestes a se tornar, prejudiciais aos interesses árabes. Fica entendido que a obrigação do Mandato com a comunidade não-judaica significa que os recursos para a Palestina devem ser reservados em primeiro lugar fundamentalmente para o crescimento da economia árabe...”.39
Isso, obviamente, significava que era necessário impor restrições à imigração judaica e às aquisições de terra.
MITO
“O Mufti não era anti-semita”.
FATO
Em 1941, Haj Amin al-Husseini voou para a Alemanha e reuniu-se com Hitler, Heinrich Himmler, Joachim Von Ribbentrop e outros líderes nazistas. Ele quis persuadi-los a estender o programa antijudaico dos nazistas ao mundo árabe. O Mufti enviou a Hitler 15 esboços de declarações que ele queria que Alemanha e Itália fizessem no tocante ao Oriente Médio. Uma delas pedia que os dois países declarassem a ilegalidade do Lar Judaico na Palestina. Além disso, que “concordassem com o direito da Palestina e demais países árabes de dar uma solução ao problema dos elementos judeus em seus países, conforme os interesses dos árabes e pelo mesmo método com o qual a questão está sendo implementada agora nos países do Eixo”.40
Em novembro de 1941, o Mufti reuniu-se com Hitler, que lhe disse que os judeus eram seus piores inimigos. No entanto, o ditador nazista refutou os pedidos do Mufti por uma declaração de apoio aos árabes, dizendo-lhe que o momento não era propício. O Mufti agradeceu-lhe “pela simpatia que ele sempre demonstrou pelos árabes e especialmente pela causa palestina, para a qual sempre deu clara expressão em seus discursos (...) Os árabes eram amigos naturais da Alemanha porque tinham os mesmos inimigos, a saber (...) os judeus”. Hitler respondeu:
“A Alemanha está numa guerra incondicional contra os judeus.
Isso inclui naturalmente uma oposição ativa ao Lar Nacional Judaico na Palestina (...) A Alemanha forneceria ajuda positiva e prática aos árabes engajados na mesma luta (...) O objetivo da Alemanha [é]... tão somente a destruição do elemento judeu residente na esfera árabe (...) Nessa hora o Mufti seria o porta-voz mais autorizado para o mundo árabe”.
O Mufti agradeceu a deferência de Hitler.41
Em 1945, a Iugoslávia procurou indiciar o Mufti como criminoso de guerra por sua participação no recrutamento de 20 mil voluntários muçulmanos para as SS que participaram do assassinato de judeus na Croácia e na Hungria.
Todavia, ele escapou da prisão francesa em 1946 e prosseguiu sua luta contra os judeus do Cairo e, mais tarde, de Beirute. O Mufti morreu em 1974.
MITO
“O Irgun colocou uma bomba no Hotel King David como parte de uma campanha terrorista contra civis”.
FATO
O Hotel King David era a sede do comando militar britânico e da Divisão de Investigação Criminal Britânica. O Irgun (Irgun Tsevái Leumi – Organização Militar Nacional) o escolheu como alvo depois que tropas britânicas invadiram a Agência Judaica em 29 de junho de 1946 e confiscaram grandes quantidades de documentos. Praticamente no mesmo período mais de 2.500 judeus em toda a Palestina estavam sendo presos. A informação acerca das operações da Agência Judaica, incluindo as atividades de inteligência nos países árabes, estava guardada no Hotel King David. Uma semana depois, as notícias do massacre de 40 judeus em um pogrom na Polônia fizeram lembrar aos judeus na Palestina como a política restritiva de imigração da Grã-Bretanha havia condenado milhares à morte.
Menahem Begin43 manifestou seu desejo de evitar baixas civis. De fato, seu plano era advertir os britânicos para que evacuassem o prédio antes que fosse explodido. Seriam feitas três chamadas telefônicas: uma para o hotel, outra para o consulado francês e uma terceira para o Palestine Post, avisando que em breve seriam detonados explosivos no Hotel King David. As chamadas foram feitas em 22 de julho de 1946. O telefonema para o hotel foi aparentemente recebido e ignorado. Begin cita um funcionário britânico que supostamente se recusou a evacuar o prédio, dizendo: “Não recebemos ordens dos judeus”.44 Como resultado, quando as bombas explodiram, o saldo de baixas foi elevado: 91 mortos e 45 feridos. Entre as baixas havia 15 judeus. Poucas pessoas do hotel propriamente dito foram feridas pela explosão.45
Contrastando com os ataques árabes contra judeus, que eram amplamente comemorados pelos líderes árabes como ações heróicas, o Conselho Nacional Judaico condenou o atentado do Hotel King David.46
Durante décadas os britânicos negaram que haviam sido avisados. Contudo, em 1979 um membro do Parlamento Britânico apresentou evidências de que o Irgun havia realmente feito a advertência. Ele ofereceu o testemunho de um funcionário britânico que ouviu outros, no bar do Hotel King David, ironizando a ameaça sionista ao quartel-general. O funcionário que ouviu a conversa abandonou imediatamente o hotel e sobreviveu.47
Notas
1 Aharon Cohen. Israel and the Arab World. Nova York: Funk and Wagnalls, 1970, pág. 172; Howard Sachar. A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time. Nova York: Alfred A. Knopf, 1979, pág. 146.
2 Abdula. Soberano do reino hachemita da Jordânia (a Transjordânia, criada em 1946), assassinado em 1951 por um agente do Mufti de Jerusalém, Haj Amin el-Husseini. Abdula foi sucedido pelo neto Hussein. Hoje, a Jordânia é governada pelo bisneto, que também se chama Abdula. O Mufti, confesso admirador de Adolf Hitler, é tio do atual presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat.
3 Moshe Auman. Land Ownership in Palestine, 1880-1948, em Michael Curtis et al. The Palestinians. New Jersey: Transaction Books, 1975, pág. 25.
4 Palestine Royal Comission Report (Relatório Peel). Londres: 1937, pág. 300.
5 Arieh Avneri. The Claim of Dispossession. Tel-Aviv: Hidekel Press, 1984, pág.28; Yehoshua Porath. The Emergence of Palestinian-Arab National Movement, 1918-1929. Londres: Frank Cass, 1974, pág. 17-18.
6 Porath (1974), pág. 18.
7 Cohen, pág. 53.
8 Yehoshua Porath. Palestinian Arab National Movement: From Riots to Rebellion: 1929-1939, vol. 2. Londres: Frank Cass and Co., Ltd., 1977, págs.17-18, 39.
9 John Hope Simpson. Palestine: Report on Immigration, Land Settlement and Development. Londres, 1930, pág. 126.
10 Palestine Royal Comission Report, pág. 291.
11 Palestine Royal Comission Report, pág. 242.
12 George Lenczowski. American Presidents and the Middle East. North Caroline: Duke University Press, 1990, pág. 23.
13 Cohen, pág. 174.
14 Dov Friedlander e Calvin Goldscheider. The Population of IsraelI. New York: Columbia Press, 1979, pág. 30.
15 Avneri, pág. 254.
16 Curtis, pág. 38.
17 Avneri, pág. 264; Cohen, pág. 60.
18 Avneri, pág. 254-55.
18a David Ben-Gurion. Pseudônimo de David Gruen (1886-1973). Em 1906 estabeleceu- se na Palestina, onde fundou e dirigiu o movimento social-democrata Poale Sion (Trabalhadores de Sion). Em 1930, transformou o movimento no Mapai (Partido Trabalhista). Conseguiu na ONU uma resolução favorável à criação do Estado de Israel. Foi eleito presidente do ConselhoNacional Provisório, que proclamou a independência em 1948. Organizou o Exército, foi ministro da Defesa e primeiro-ministro. Em 1965, desligou-se do Mapai e organizou um pequeno partido de oposição, o Rafi. Embora vivendo retirado, continuou exercendo influência na política de Israel.
19 Moshe Aumann. Land Ownership in Palestine, 1880-1948. Jerusalém: Academic Comittee on the Middle East, 1976, pág. 5.
20 Shabtai Teveth. Ben-Gurion and the Palestinian Arabs: From Peace to War. Londres: Oxford University Press, 1985, pág. 32.
21 Porath, pág. 80, 84.
22 Hope Simpson Report, pág. 51.
23 Avneri, pág. 149-158; Cohen, pág. 37. Baseado em Lewis French. The Report on Agricultural Development and Land Settlement in Palestine. Supplementary Report, abril de 1932, e material submetido à Palestine Royal Comission.
24 Netanel Lorch. One Long War. Jerusalém: Keter, 1976, pág.27; Sachar, pág. 201.
25 Palestine Royal Comission Report (1937), pág.242.
26 Palestine Royal Comission (1937), pág.241-242.
27 Rei Abdula. My Memoirs Completed. Londres, Longman Group, Ltd., 1978, pág. 88-89.
28 Porath (77), pág. 86-87.
29 Aumann, pág. 13.
30 Abraham Granott. The Land System in Palestine. Londres: Eyre and Spottiswoode, 1952). pág. 278.
31 Avneri, pág. 179-180, 224-225, 232-234; Porath (77), pág. 72-73.
32 Jon Kimche. There Could Have Been Peace: The Untold Story of Why We Failed With Palestine, and Again With Israel. Inglaterra: Dial Press, 1973, pág. 189.
33 Richard Meinertzhagen. Middle East Diary, 1917-1956. Londres, The Cresset Press, 1959, pág. 49, 82, 97.
34 Samuel Katz. Battleground-Fact and Fantasy in Palestine. New York: Bantam Books, 1977. Howard Sachar. A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time. New York: Alfred A. Knopf, 1979, pág. 97.
35 Paul Johnson. Modern Times: The World from the Twenties to the Nineties. New York: Harper & Row, 1983, pág. 438.
36 Larry Collins e Dominique Lapierre. O Jerusalem! New York: Simon and Schuster, 1972, pág. 52.
37 Kimche, pág. 211.
38 Ben Halpern. The Idea of a Jewish State. Massachusetts, Harvard University Press, 1969, pág. 323.
39 Sachar, pág. 174.
40 Halpern, pág. 201.
41 Grand Mufti Plotted To Do Away With All Jews In Mideast. Response, outono de 1991, pág. 2-3.
42 Gravação da conversação entre o Fuhrer e o Grande Mufti de Jerusalém em 28 de novembro de 1941, na presença do ministro do Exterior do Reich e do ministro Grobba em Berlim, Documents on German Foreign Policy, vol. 13. Londres, 1964, pág. 881ff, em Walter Lacquer e Barry Rubin. The Israel-Arab Reader. New York: Penguin Books, 2001, pág. 51-55.
43 Menahem Begin (1913-1992). Ativista judeu, líder do Irgun, foi eleito primeiro-ministro em 1977 pelo Likud, o partido conservador israelense, e ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1978, junto com o presidente do Egito, Anuar Sadat, após as negociações que resultaram na devolução do Sinai aos egípcios.
44 Menahem Begin. The Revolt. New York: Nash Publishing, 1977, pág. 224.
45 J. Bowyer Bell. Terror Out of Zion. New York: St. Martin’s Press, pág. 172.
46 Anne Sinai e I. Robert Sinai. Israel and the Arabs: Prelude to the Jewish State. New York: Facts on File, 1972, pág. 83.
47 Benjamin Netanyahu, ed. International Terrorism: Challenge and Response, Proceedings of the Jerusalem Conference on International Terrorism, july, 25, 1979. Jerusalém: The Jonathan Institute, 1980, pág. 45.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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