segunda-feira, 30 de julho de 2007

6. A Guerra dos Seis Dias

MITO
“Os governos árabes estavam preparados
para aceitar Israel após a Guerra de Suez”.

FATO
Israel expressou de maneira consistente o desejo de negociar com seus vizinhos. Em discurso na Assembléia Geral da ONU em 10 de outubro de 1960, a ministra das Relações Exteriores, Golda Meir, desafiou os líderes árabes a se reunirem com o primeiro-ministro David Ben-Gurion para negociar um acordo de paz. Nasser respondeu em 15 de outubro, dizendo que Israel estava tentando enganar o mundo, e reiterou que seu país jamais reconheceria o Estado judeu.1

Os árabes foram igualmente teimosos na recusa a negociar um acordo em separado para os refugiados. Como Nasser disse na Assembléia Nacional da República Árabe Unida1a em 26 de março de 1964:

Israel e o imperialismo ao nosso redor, que nos confronta, são duas coisas distintas. Há tentativas de separá-los a fim de segmentar os problemas e apresentá-los sob uma luz imaginária, como se o problema de Israel fosse o dos refugiados, com cuja solução a questão da Palestina também seria solucionada e não ficaria qualquer resíduo. O perigo de Israel consiste na sua própria existência, tal como é no presente e o que representa.2

Enquanto isso, a Síria usava as Colinas de Golã, que se elevam a 914 metros acima da Galiléia, para bombardear os campos e povoados israelenses. Os ataques da Síria tornaram-se mais freqüentes em 1965 e 1966, enquanto a retórica de Nasser tornava-se cada vez mais belicosa: “Não entraremos na Palestina com o solo coberto de areia”, declarou em 8 de março de 1965. “Entraremos com o solo saturado de sangue”.3

Mais uma vez, alguns meses depois Nasser expressou a aspiração dos árabes:
“... a restauração plena dos direitos do povo palestino. Em outras palavras, aspiramos à destruição do Estado de Israel. O objetivo imediato: a perfeição do poderio militar árabe. O objetivo nacional: a erradicação de Israel”.4


MITO
“O ataque militar de Israel em 1967 não foi provocado”.

FATO
Uma combinação de retórica árabe belicosa, comportamento ameaçador e, finalmente, um ato de guerra não deu outra opção a Israel além de um ataque preventivo. Para que obtivesse êxito, Israel precisava do elemento surpresa. Caso tivesse esperado por uma invasão árabe, estaria em uma desvantagem potencialmente catastrófica.

Enquanto Nasser continuava a fazer discursos que ameaçavam com a guerra, os ataques terroristas árabes tornavam-se mais freqüentes. Em 1965 houve 35 incursões contra Israel. Em 1966 o número aumentou para 41. Só nos quatro primeiros meses de 1967 ocorreram 37 ataques.5

Enquanto isso, os ataques da Síria aos kibutzim (cooperativas agrícolas) das Colinas de Golã provocaram um ataque de retaliação em 7 de abril de 1967, quando aviões israelenses derrubaram seis aviões Mig sírios. Pouco depois, a União Soviética – que vinha fornecendo auxílio militar e econômico à Síria e ao Egito – informou a Damasco a respeito de um crescimento maciço da preparação militar de Israel, em preparação para um ataque.

Apesar dos desmentidos israelenses, a Síria decidiu invocar seu tratado de cooperação militar com o Egito. Em 15 de maio, Dia da Independência de Israel, tropas egípcias partiram em direção ao Sinai e se concentraram nas proximidades da fronteira israelense. Em 18 de maio, as tropas sírias estavam preparadas para a batalha ao longo das Colinas de Golã. Nasser ordenou que a Força de Emergência das Nações Unidas, estacionada no Sinai desde 1956, se retirasse em 16 de maio. Sem chamar a atenção da Assembléia Geral para o problema, como havia prometido seu predecessor, o secretário-geral U Thant acatou a demanda. Após a retirada das tropas da ONU, a rádio Voz dos Árabes proclamou (18 de maio de 1967):

A partir de hoje, não mais existe uma força de emergência internacional para proteger Israel. Não precisamos mais exercitar a paciência. Não nos queixaremos mais de Israel às Nações Unidas. O único método que aplicaremos contra Israel será a guerra total,
o que resultará no extermínio da existência sionista.6

Em 20 de maio, ouviu-se o eco entusiasmado vindo do ministro da Defesa sírio, Hafez Assad:

Nossas forças estão agora inteiramente prontas, tanto para repelir a agressão como para iniciar o próprio ato de libertação e explodir a presença sionista na pátria árabe. O exército sírio,
com seu dedo no gatilho, está unido... Eu, como militar, creio que chegou a hora de entrar na batalha de aniquilação."7

Em 22 de maio, o Egito fechou os Estreitos de Tirã a toda navegação israelense e a todos os navios que se dirigiam a Eilat. Esse bloqueio cortou a única rota de comércio de Israel com a Ásia e interrompeu o fluxo de petróleo do seu principal fornecedor, o Irã. No dia seguinte, o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, expressou sua crença de que o bloqueio era ilegal e buscou, sem sucesso, organizar uma pequena frota internacional para testar isso.

Nasser estava inteiramente ciente da pressão que exercia sobre as forças israelenses. Um dia após o estabelecimento do bloqueio, afirmou, em tom desafiador: “Os judeus ameaçam fazer a guerra. Eu respondo: Bem-vindos! Estamos prontos para o conflito”.8

Nasser desafiava Israel ao combate quase diariamente. “Nosso objetivo básico será a destruição de Israel. O povo árabe quer lutar”, afirmou em 27 de maio.9 No dia seguinte, acrescentou: “Não aceitaremos qualquer coexistência com Israel (...) Hoje, o problema não é o estabelecimento da paz entre os países árabes e Israel (...) A guerra contra Israel está em vigor desde 1948”.10

O rei Hussein, da Jordânia, assinou um pacto de defesa com o Egito em 30 de maio. Nasser, então, anunciou:

Os exércitos do Egito, da Jordânia, da Síria e do Líbano estão nas fronteiras de Israel (...) para enfrentar o desafio, enquanto atrás de nós estão os exércitos do Iraque, da Argélia, do Kuwait, do Sudão e todos os árabes. Essa ação surpreenderá o mundo. Hoje eles saberão que os árabes estão preparados para a batalha, que o momento crítico chegou. Já alcançamos o estágio de ação
concreta, não de declarações.11

O presidente do Iraque, Abdur Rahman Aref, juntou-se à guerra de palavras:

A existência de Israel é um erro que deve ser retificado. Esta é a nossa oportunidade de varrer para fora a ignomínia que tem estado conosco desde 1948. Nossa meta é clara: varrer Israel do mapa.12

Em 4 de junho, o Iraque aderiu à aliança militar com Egito, Jordânia e Síria. A retórica árabe combinavase à mobilização de suas forças. Aproximadamente 250 mil soldados (quase a metade no deserto de Sinai), mais de dois mil tanques e 700 aviões cercavam Israel.13 Nesse período, as forças israelenses permaneceram em estado de alerta por três semanas. O país não podia permanecer totalmente mobilizado por tempo indefinido e nem podia permitir que sua saída marítima pelo Golfo de Ácaba continuasse interditada. A melhor defesa era o ataque. Em 5 de
junho, foi dada a ordem para atacar o Egito.

MITO
“Nasser tinha o direito de fechar os
Estreitos de Tirã à navegação israelense”.

FATO
Em 1956, os Estados Unidos deram garantias a Israel de que reconheciam o seu direito de acesso aos Estreitos de Tirã. Em 1957, nas Nações Unidas, 17 forças marítimas declararam que Israel tinha o direito de transitar pelo estreito. Além do mais, o bloqueio violava a Convenção sobre o Mar Territorial e Zonas Contíguas, adotada pela Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar em 27 de abril de 1958.14

O fechamento do Estreito de Tirã causou a guerra de 1967. O ataque de Israel foi uma reação a essa primeira agressão egípcia. Johnson reconheceu após a guerra (19 de junho de 1967):

Se algum ato de estupidez foi mais responsável por essa explosão do que qualquer outro, esse ato foi a decisão arbitrária e perigosa de fechar o Estreito de Tirã. O direito de passagem marítima pacífica deve ser preservado para todas as nações.15

MITO
“Os Estados Unidos ajudaram Israel
a derrotar os árabes em seis dias”.

FATO
Os Estados Unidos tentaram evitar a guerra por meio de negociações, mas não conseguiram persuadir o Egito e os demais países árabes a cessar suas declarações e ações beligerantes. Imediatamente antes da guerra, Johnson advertiu: “Israel não estará sozinho a menos que decida por isso”.16 Quando a guerra começou, o Departamento de Estado dos EUA anunciou: “Nossa posição é neutra em pensamento, palavras e ações”.17

Além disso, enquanto os árabes acusavam falsamente os Estados Unidos de municiarem Israel por via aérea, Johnson impôs um embargo de armas para a região. A França, outro importante fornecedor de armas para Israel, também embargou o envio de equipamentos militares).

Em contrapartida, os soviéticos estavam fornecendo quantidades maciças de armas aos árabes. Simultaneamente, os exércitos do Kuwait, da Argélia, da Arábia Saudita e do Iraque contribuíam com soldados e armamentos para as frentes egípcia, síria e jordaniana.18


MITO
“Israel atacou a Jordânia para capturar Jerusalém”.

FATO
O primeiro-ministro Levi Eshkol enviou uma mensagem ao rei Hussein dizendo que Israel não atacaria a Jordânia a menos que ele iniciasse as hostilidades. Quando o radar jordaniano captou uma esquadrilha voando do Egito para Israel e os egípcios convenceram Hussein de que os aviões eram deles, o rei da Jordânia mandou cercar Jerusalém Ocidental. Descobriuse
que os aviões eram de Israel e estavam retornando após destruírem a força aérea egípcia em terra. Enquanto isso, tropas sírias e iraquianas atacavam a fronteira norte de Israel.

Se a Jordânia não tivesse tomado a iniciativa, a situação de Jerusalém teria permanecido inalterada durante o decorrer da guerra. Entretanto, uma vez que a cidade fora atacada, Israel teve que defendê-la e, ao fazê-lo, aproveitou a oportunidade para unificar sua capital de uma vez por todas.

MITO
“Israel não tinha que atirar primeiro”.

FATO
Após exatamente seis dias de combate, as forças israelenses ultrapassaram as linhas inimigas e estavam em posição de marchar sobre o Cairo, Damasco e Amã. Em 10 de junho, foi pedido um cessar-fogo. A vitória veio a um custo muito alto. Na conquista das Colinas de Golã, Israel teve 115 mortos – aproximadamente o número de americanos mortos durante a Operação Tempestade no Deserto, em 1991. Nos seis dias de guerra, proporcionalmente ao tamanho de sua população, Israel perdeu o dobro de homens (777 mortos e 2.586 feridos) em comparação ao que os Estados Unidos perderam lutando por oito anos no Vietnã.19 Além disso, apesar do incrível sucesso da campanha aérea, a Força Aérea israelense perdeu 46 de seus 200 aviões de combate.20 Se Israel tivesse esperado que os árabes atacassem primeiro, como fez em
1973, e não tivesse iniciado uma ação preventiva, o custo teria sido com certeza muito mais elevado e a vitória poderia não ter sido assegurada.

MITO
“Israel considerou os territórios capturados
como terras conquistadas e não teve qualquer
intenção de negociar a sua devolução”.

FATO
No fim da guerra, Israel havia capturado mais de três vezes a dimensão do seu território anterior, passando de 20.720 km2 para 67.340 km2. A vitória permitiu a Israel unificar Jerusalém. As forças israelenses capturaram também o Sinai, as Colinas de Golã, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Os líderes de Israel esperavam negociar um acordo de paz com seus vizinhos envolvendo algum arranjo territorial. Quase imediatamente após a guerra, expressaram o desejo de negociar uma devolução de pelo menos alguns dos territórios. Israel em seguida devolveu todo o Sinai ao Egito, o território reclamado pela Jordânia foi devolvido e quase toda a Faixa de Gaza e mais de 40% da Cisjordânia foram entregues aos palestinos para o estabelecimento da Autoridade Palestina.

Atualmente, aproximadamente 93% dos territórios conquistados na guerra defensiva foram entregues por Israel a seus vizinhos árabes como resultado de negociações, o que demonstra o seu desejo de negociar a paz.

MITO
“Israel expulsou árabes pacíficos da Cisjordânia
e os impediu de retornar após a guerra”.

FATO
Depois que a Jordânia lançou seu ataque em 5 de junho, 325 mil palestinos que viviam na Cisjordânia fugiram.21 Eram cidadãos jordanianos que se moveram de uma parte para outra daquele que consideravam seu país para evitar ser atingidos pelo fogo cruzado de uma guerra.

Um refugiado palestino que era administrador de um acampamento da UNRWA (Agência de Auxílio e Trabalho das Nações Unidas) em Jericó afirmou que políticos árabes haviam espalhado rumores por lá. “Eles disseram que todos os jovens seriam assassinados. As pessoas ouviram pelo rádio que isso não era o fim, mas só o começo. Assim imaginam que esta pode ser uma guerra longa e querem, por isso, estar na Jordânia”.22

Alguns palestinos que partiram preferiram viver num país árabe do que sob um governo militar israelense. Membros de diversas facções da OLP fugiram para evitar serem capturados pelos israelenses. Nils-Göran Gussing, nomeado pelo secretário-geral das Nações Unidas para investigar a situação, descobriu que muitos árabes também temiam não poder mais receber dinheiro dos parentes que trabalhavam no exterior.23

As forças israelenses ordenaram a um punhado de palestinos que se mudassem por “razões estratégicas e de segurança”. Em alguns casos, permitiram que retornassem em poucos dias; em outros, Israel ofereceu ajuda para que se estabelecessem em outro lugar.24

Israel então governava mais de 750 mil palestinos, a maioria hostis ao governo. Apesar disso, mais de nove famílias palestinas foram reunificadas em 1967. Finalmente, mais de 60 mil palestinos puderam retornar.25


MITO
"Israel impôs restrições absurdas aos palestinos da
Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental".

FATO
Após a guerra de 1967, Israel decidiu não anexar a Cisjordânia nem a Faixa de Gaza e, em vez disso, instituiu uma administração militar. Isso foi necessário como um passo provisório até que as negociações pudessem solucionar o futuro dos territórios. Isso não era de forma alguma uma situação ideal para seus habitantes, mas as autoridades israelenses trataram de reduzir ao
mínimo o impacto sobre a população. Don Peretz, escritor que aborda com freqüência a situação dos árabes em Israel e crítico mordaz do governo israelense, visitou a Cisjordânia pouco depois de os soldados israelenses a terem conquistado e descobriu que eles estavam tentando voltar à vida normal e evitar quaisquer incidentes que pudessem estimular os árabes a abandonar seus lares.26

Exceto pela requisição de que os textos escolares nos territórios não contivessem linguagem antiisraelense e anti-semita, as autoridades buscaram não interferir na vida dos habitantes. Eles lhes proporcionaram assistência econômica; por exemplo, os palestinos da Faixa de Gaza foram transferidos dos acampamentos para casas novas, o que estimulou protestos por parte do
Egito, que nada havia feito pelos refugiados quando controlava a área.

Os árabes receberam liberdade de movimento. Tiveram permissão de ir e vir da Jordânia. Em 1972, houve eleições na Cisjordânia. Mulheres e pessoas que não tinham propriedades, impedidas de participação política sob o governo jordaniano, agora podiam votar.

Os árabes de Jerusalém Oriental puderam optar entre manter a cidadania jordaniana ou obter a israelense. Foram reconhecidos como residentes da Jerusalém unificada e agora podiam votar e se candidatar ao conselho municipal. Os locais sagrados islâmicos também foram entregues aos cuidados de um Conselho Muçulmano. Apesar do significado do Monte do Templo para a história judaica, os judeus foram proibidos de fazer suas orações nesse local.

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Depois que a Guerra dos Seis Dias terminou, Johnson deu a suaopinião sobre o que deveria ser feito para se chegar ao fim doconflito:
"Certamente os soldados devem ser retirados; mas também devemser reconhecidos direitos de uma vida nacional, progresso nasolução do problema dos refugiados, liberdade de passagem
marítima pacífica, limitação da corrida armamentista e respeitopela independência política e pela integridade territorial". 27
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MITO
“Durante a Guerra de 1967, Israel atacou
deliberadamente o navio USS Liberty”.

FATO
O ataque israelense ao USS Liberty foi um erro grave, atribuído em grande parte ao fato de ter ocorrido em meio às atribulações de uma guerra em larga escala em 1967. Dez investigações oficiais dos Estados Unidos e três inquéritos oficiais israelenses estabeleceram, de maneira conclusiva, que o ataque foi um erro trágico.

Em 8 de junho de 1967, o quarto da Guerra dos Seis Dias, o Alto Comando israelense recebeu informações de que tropas israelenses em El Arish estavam sendo atacadas desde o mar, presumivelmente por um navio egípcio, como já ocorrera no dia anterior. Alguns dias antes, nas Nações Unidas, os Estados Unidos haviam anunciado que não tinham forças navais em centenas de quilômetros de distância da frente de batalha; contudo, o USS Liberty, um navio do serviço de inteligência americano destacado para monitorar o combate, alcançou a área a 14 milhas náuticas (26 km) da costa do Sinai como resultado de uma série de falhas de comunicação americanas, pelas quais as mensagens dirigidas ao navio para que não ultrapassasse o limite
das cem milhas náuticas (185,3 km) não foram recebidas pelo Liberty.

Os israelenses pensaram, equivocadamente, que era o navio que estava atirando; então, aviões de guerra e lanchas com torpedos atacaram, matando 34 membros da tripulação do Liberty e ferindo 171. Inúmeros erros foram cometidos por Estados Unidos e Israel. Por exemplo, primeiro foi informado – incorretamente, como se soube – que o Liberty estava navegando a 30 nós (55,6 km/h, mais tarde recalculados para 28 nós, ou 51,2 km/h). Conforme a doutrina naval israelense (e americana) da época, presumia-se que um navio avançando a essa velocidade era um navio de guerra. O mar estava calmo e a Corte de Inquérito da Marinha dos EUA
descobriu que a bandeira do Liberty muito provavelmente estava baixa e não podia ser vista; além disso, membros da tripulação – incluindo o capitão, William McGonagle – confirmaram que a bandeira fora derrubada depois da primeira ou da segunda incursão.

Segundo as memórias do chefe do Estado-Maior israelense, Yitzhak Rabin,27a havia ordens para atacar qualquer embarcação não-identificada próxima à costa.28 No dia em que a guerra começou, Israel havia pedido que os navios americanos fossem removidos da sua costa ou que fosse notificada a sua posição exata.29 A Sexta Frota foi deslocada porque Johnson temia se envolver numa confrontação com a União Soviética. Ele também ordenou que nenhum
dos seus aviões fosse enviado para as proximidades do Sinai.

Um relatório da CIA sobre o incidente, datado de 13 de junho de 1967, descobriutambém que um piloto excessivamente previdente poderia confundir o Libertycom um navio egípcio, o El Cuseir. Após a incursão aérea, lanchas israelensescom torpedos identificaram o Liberty como um navio de guerra egípcio. Quandoeste passou a disparar contra os israelenses, eles responderam com um torpedo que matou 28 tripulantes. Inicialmente, os israelenses ficaram aterrorizados
por achar que haviam atacado um navio soviético, o que poderia ter provocado a entrada da União Soviética na guerra.30 Assim que se certificaram do ocorrido, comunicaram o incidente à embaixada dos EUA em Tel-Aviv e se ofereceram a fornecer um helicóptero para os americanos voarem até o navio, bem como qualquer ajuda necessária para retirar os feridos e resgatar o navio. A oferta foi aceita e uma embarcação auxiliar naval dos EUA foi levada até o Liberty.

Muitos dos sobreviventes do Liberty ainda guardam rancor e estão convencidos de que o ataque foi deliberado, como deixam claro no seu website. Em 1991, os colunistas Rowland Evans e Robert Novak alardearamsua descoberta acerca de um americano que afirmou ter estado na sala de comando de guerra israelense quando foi decidido atacar com conhecimento
de causa o navio.31 Na verdade, esse indivíduo, Seth Mintz, escreveu uma carta ao jornal Washington Post em 9 de novembro de 1991, na qual dizia que havia sido mal interpetado por Evans e Novak e que o ataque foi, com efeito, um "caso de identificação equivocada". Mais do que isso, o homem que Mintz afirmou originalmente ter estado com ele, um tal general Benni
Matti, não existe. Também, ao contrário das afirmações de que um piloto israelense identificou o navio como sendo americano numa gravação de rádio, esta nunca foi apresentada por alguém. De fato, existe apenas a gravação oficial da Força Aérea de Israel, que estabeleceu claramente que não houve identificação do navio por pilotos israelenses antes do ataque. Esta indica
também que, assim que os pilotos passaram a se preocupar com a identificação do navio, ao lerem o seu número no casco encerraram o ataque. As gravações não contêm qualquer declaração sugerindo que os pilotos viram uma bandeira americana antes do ataque.32

Os críticos afirmaram que a gravação israelense foi adulterada, mas em julho de 2003 a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos divulgou transcrições antes tidas como ultra-secretas que confirmaram a versãoisraelense. Um avião-espião americano foi enviado à área assim que a NSA soube do ataque ao Liberty e gravou as conversações de dois pilotos de helicóptero da Força Aérea Israelense, ocorridas entre 14h30 e 15h37 de 8 de junho.

A NSA também gravou as ordens transmitidas via rádio aos pilotos por seu supervisor, da base de Hatzor, instruindo-os a procurar por sobreviventes do "navio de guerra egípcio" que havia acabado de ser bombardeado: "Prestem atenção. O navio está identificado agora como egípcio", foi a informação passada aos pilotos. Nove minutos depois, Hatzor lhes disse que se tratava provavelmente de um navio de carga egípcio. Às 15h07, pela primeira vez foi dito aos pilotos que o navio poderia não ser egípcio e eles receberam instruções para buscar sobreviventes e informar imediatamente à base a nacionalidade da primeira pessoa que resgatassem. Só às 15h12, um dos pilotos informou que via uma bandeira americana voando sobre o navio, quando então foi instruído a verificar se de fato era uma embarcação americana.33

Em outubro de 2003, o primeiro piloto a chegar ao navio quebrou um silêncio de 36 anos acerca do ataque. O brigadeiro-general Yiftah Spector, um ás que derrubou 15 aviões inimigos e participou, em 1981, do ataque ao reator nuclear iraquiano, afirmou ter ouvido que um navio egípcio estava na costa de Gaza. "Esse navio positivamente não tinha qualquer símbolo ou bandeira que eu pudesse ver. Fiquei preocupado se era ou não um dos nossos. Procurei
pelo símbolo do nosso navio, que era uma grande cruz branca no convés. Ela não estava lá, portanto não era um dos nossos".

O jornal israelense Jerusalem Post obteve uma gravação da transmissão de rádio de Spector na qual ele dizia: "Não posso identificá-lo, mas em todo caso é um navio militar".34

Nenhum dos acusadores de Israel é capaz de explicar por que Israel atacaria deliberadamente um navio americano numa época em que os Estados Unidos eram os únicos amigos e aliados de Israel no mundo. A única explicação mais provável é a confusão em diversos pontos das comunicações, que ocorreram num clima tenso tanto do lado americano como do israelense (cinco mensagens da União dos Chefes de Estado-Maior para que o navio permanecesse a pelo menos 25 milhas náuticas (46,3 km) – as últimos quatro falavam de 100 milhas náuticas (185,3 km) – da costa egípcia chegaram após o fim do ataque).

Os acidentes causados por "fogo amigo" são comuns em tempos de guerra.
Em 1988, a Marinha dos EUA derrubou um avião de passageiros iraniano, matando 290 civis. Durante a Guerra do Golfo, 35 dos 148 americanos que morreram em batalha foram atingidos por "fogo amigo". Em abril de 1994, dois helicópteros Black Hawk americanos com grandes bandeiras americanas pintadas de cada lado foram derrubados por aviões F-15 da Força Aérea dos Estados Unidos num dia claro, dentro da zona de exclusão aérea do Iraque, matando 26 pessoas. Em abril de 2002, um caça F-16 americano lançou uma bomba que matou quatro soldados canadenses no Afeganistão. Um dia antes do ataque ao Liberty, pilotos israelenses bombardearam acidentalmente uma de suas próprias colunas de blindados.35

O almirante aposentado Shlomo Erell, chefe da Marinha de Israel em junho de 1967, disse à Associated Press (5 de junho de 1977): "Ninguém jamais poderia sonhar que um navio americano estaria ali. Nem os Estados Unidos sabiam onde ele estava. Fomos informados pelas autoridades de que não havia qualquer navio americano em 100 milhas náuticas".

O secretário de Defesa, Robert McNamara, afirmou ao Congresso americano em 26 de julho de 1967: "A conclusão da equipe de investigação, encabeçada por um almirante da Marinha no qual temos grande confiança, é que o ataque não foi intencional".

Em 1987, McNamara repetiu sua convicção de que o ataque havia sido um erro, dizendo a um espectador do Larry King Show (programa de entrevistas americano) que não havia visto nada em 20 anos que mudasse sua opinião, a saber, que não houve acobertamento.36

Israel pediu desculpas pela tragédia e pagou US$ 13 milhões em reparações humanitárias aos Estados Unidos e às famílias das vítimas, em montantes estabelecidos pelo Departamento de Estado dos EUA. O caso entre os dois governos foi oficialmente encerrado com uma troca de notas diplomáticas em 17 de dezembro de 1987.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito interesante adorei!!!!!!!!!!!!!