“Os judeus deram início à primeira guerra contra os árabes”.
FATO
O presidente do Supremo Comitê Árabe afirmou que os árabes lutariam para defender “cada polegada de seu país”.1 Dois dias depois, os líderes espirituais da Universidade de Al-Azhar do Cairo convocaram o mundo muçulmano para proclamar uma jihad (guerra santa) contra os judeus.2 Jamal Husseini, porta-voz do Supremo Comitê Árabe, havia dito às Nações Unidas, antes da votação da partilha, que os árabes inundariam “o solo do nosso amado país até a última gota do nosso sangue...”.3
O vaticínio de Husseini transformou-se em realidade quase imediatamente após a ONU aprovar a resolução em 29 de novembro de 1947. Os árabes fizeram uma greve de protesto e provocaram rebeliões que custaram a vida de 62 judeus e 32 árabes. A violência seguiu em escalada até o fim do ano.4
Os primeiros ataques em larga escala começaram em 9 de janeiro de 1948, quando aproximadamente mil árabes atacaram comunidades judaicas no norte da Palestina. Em fevereiro, os britânicos admitiram que não tinham tropas suficientes para detê-los, tamanha era a quantidade de árabes na região.5
Na verdade, os britânicos entregaram suas bases e armamentos à Legião Árabe e a forças não-regulares. Na primeira fase da guerra, de 29 de novembro de 1947 a 1o de abril de 1948, os árabes palestinos partiram para a ofensiva com a ajuda de voluntários dos países vizinhos. Os judeus sofreram pesadas baixas e tiveram suas principais rodovias bloqueadas.
Em 26 de abril de 1948, o rei Abdula, da Transjordânia, afirmou:
“Todos os nossos esforços para encontrar uma solução pacífica para o problema palestino têm fracassado. O único caminho que nos resta é a guerra. Terei o prazer e a honra de salvar a Palestina”.6
Em 4 de maio de 1948, a Legião Árabe atacou Kfar Etzion. Os defensores os repeliram, mas a legião voltou uma semana depois. Após dois dias, os colonos judeus, numericamente inferiores e mal equipados, foram vencidos. Muitos foram massacrados, mesmo após terem se rendido.7 Isso aconteceu antes da invasão dos exércitos regulares árabes que se seguiu à declaração de independência de Israel.
As Nações Unidas culparam os árabes pela violência. A Comissão das Nações Unidas para a Palestina jamais recebeu permissão dos árabes ou dos britânicos para ir à Palestina e fiscalizar o cumprimento da resolução. Em 16 de fevereiro de 1948, a comissão informou ao Conselho de Segurança:
“Interesses árabes poderosos, dentro e fora da Palestina, estão desafiando a resolução da Assembléia Geral e estão empenhados num esforço deliberado para alterar, pela força, o acordo
concebido a respeito”.8
Os árabes assumiram rispidamente a responsabilidade pelo início da guerra. Jamal Husseini afirmou ao Conselho de Segurança em 16 de abril de 1948:
“O representante da Agência Judaica nos disse ontem que eles não eram os atacantes, que os árabes haviam iniciado o combate. Não negamos isso. Dissemos ao mundo inteiro que estávamos indo à luta”.9
O comandante britânico da Legião Árabe da Jordânia, John Bagot Gubb, admitiu:
“No início de janeiro, os primeiros destacamentos do Exército de Libertação Árabe se infiltraram na Palestina vindos da Síria. Alguns vieram pela Jordânia e até mesmo por Amã. Na verdade eles estavam por desferir o primeiro golpe para a ruína dos árabes da Palestina”.10
Apesar das desvantagens em números, organização e armamentos, os judeus passaram a assumir a iniciativa entre 1o de abril e 14 de maio (quando foi declarada a independência). A Haganá11 tomou cidades importantes, como Tiberíades e Haifa, e reabriu temporariamente a rodovia para Jerusalém.
A resolução que determinou a partilha do território nunca foi suspensa ou rescindida. Assim, Israel, o Estado judeu na Palestina nasceu em 14 de maio, dia em que os britânicos finalmente deixaram o país. No mesmo dia, cinco exércitos árabes (Egito, Síria, Transjordânia, Líbano e Iraque) invadiram Israel. Suas intenções foram anunciadas assim pelo secretário-geral da Liga Árabe, Azzam Pasha: “Esta será uma guerra de extermínio e de um massacre instantâneo que será lembrado como os massacres mongóis e as Cruzadas”.12
MITO
“O Plano Bernadotte era uma alternativa viável à partilha”.
FATO
Durante o verão de 1948, o conde Folke Bernadotte foi enviado à Palestina pelas Nações Unidas a fim de intermediar uma trégua e tentar negociar o acordo. O plano de Bernadotte propunha que o Estado judeu abrisse mão do deserto de Neguev e de Jerusalém para a Transjordânia e recebesse em troca a Galiléia ocidental. Isso se assemelhava às fronteiras propostas antes da votação da partilha e rejeitadas por todas as partes. Agora, a proposta estava sendo oferecida depois que os árabes foram à guerra para evitar a partilha, bem como da declaração de um Estado judeu. Judeus e árabes rejeitaram o plano.
Ironicamente, Bernadotte encontrou pouco entusiasmo entre os árabes pela independência. Ele escreveu em seu diário:
“No presente momento, os árabes palestinos não têm vontade, tampouco desenvolveram um nacionalismo especificamente palestino. A exigência de um Estado árabe em separado na Palestina é, conseqüentemente, relativamente fraca. É como se, nas circunstâncias existentes, a maioria dos árabes palestinos se sentisse bastante contente em ser incorporada à Transjordânia”.13
O fracasso de Bernadotte ocorreu quando os judeus passaram a ter mais sucesso em repelir as forças árabes invasoras e expandiram o controle sobre o território para além das fronteiras da partilha.
MITO
“Os Estados Unidos foram a única nação que criticou o ataque dos árabes a Israel”.
FATO
Estados Unidos, União Soviética e a maioria dos demais países reconheceram Israel imediatamente após a declaração de independência, em 14 de maio de 1948, e imediatamente acusaram os árabes pela agressão. Os Estados Unidos apresentaram uma resolução condenando os árabes pela quebra da paz. O delegado soviético Andrei Gromyko afirmou no Conselho de Segurança da ONU, em 29 de maio de 1948:
“Esta não é a primeira vez que os países árabes, que organizaram a invasão da Palestina, ignoram uma decisão do Conselho de Segurança ou da Assembléia Geral. A delegação da URSS julga essencial que o Conselho deva declarar sua opinião de maneira mais clara e firme com respeito a essa atitude dos países árabes, diante das decisões do Conselho de Segurança”.14
Em 15 de julho, o Conselho de Segurança ameaçou citar os governos árabes por agressão, conforme a Carta das Nações Unidas. Nesse período, as Forças de Defesa de Israel (FDI) foram bem-sucedidas em deter a ofensiva árabe e a fase inicial da guerra terminou.
MITO
“O apoio do Ocidente a Israel permitiu que os judeus conquistassem a Palestina”.
FATO
Os judeus venceram a sua guerra de independência com ajuda mínima do Ocidente. De fato, a venceram apesar dos esforços de subverter seu poderio militar. Embora os Estados Unidos tenham apoiado vigorosamente a resolução da partilha, o Departamento de Estado não quis fornecer os meios para os judeus se defenderem. “De outro modo”, argumentou o subsecretário de Estado, Robert Lovett, “os árabes poderiam usar armas de origem americana contra os judeus ou esses poderiam usá-las contra os árabes”.15
Em conseqüência disso, em 5 de dezembro de 1947 os EUA impuseram um embargo de armas na região. Muita gente do Departamento de Estado viu o embargo de armas como outro meio de obstruir a partilha. O presidente Harry Truman, não obstante, continuou apoiando o embargo, na esperança de ser um meio de evitar o derramamento de sangue. Isso era ingênuo, dada a rejeição da Grã-Bretanha ao pedido de Lovett de suspender o envio de armas aos árabes e os acordos subseqüentes para fornecer armas adicionais ao Iraque e à Transjordânia.16
Os árabes não tiveram dificuldades de obter todas as armas de que necessitavam. De fato, a Legião Árabe da Jordânia foi armada e treinada pelos ingleses e dirigida por um funcionário do governo britânico. Entre o fim de 1948 e o início de 1949, aviões da RAF (Força Aérea Real britânica) voaram junto aos esquadrões egípcios sobre a fronteira Israel-Egito. Em 7 de janeiro de 1949, aviões israelenses derrubaram quatro aviões ingleses.17
Os judeus viram-se forçados a contrabandear armas, principalmente da Tchecoslováquia. Quando Israel declarou sua independência em maio de 1948, o Exército não tinha um único canhão ou tanque. Sua Força Aérea consistia em nove aviões obsoletos. Embora a Haganá tivesse 60 mil combatentes, só 18.900 estavam totalmente mobilizados, armados e preparados para a guerra.18 Na véspera da guerra, o chefe de operações, Yigael Yadin, disse a David Ben-Gurion: “O melhor que podemos lhe dizer é que temos 50% de chances”.19
A tentativa árabe de destruir Israel fracassou. Por causa dessa agressão, os árabes terminaram ficando com menos território do que teriam caso tivessem aceitado a partilha.
O custo da guerra foi enorme para Israel. “Muitas de suas terras mais produtivas foram arruinadas e destruídas. Seus campos cítricos, que foram por décadas a base da economia do Yishuv (comunidade judaica), foram em grande parte destruídos”.20 Os gastos militares totalizaram US$ 500 milhões. Pior de tudo: 6.373 israelenses foram mortos, quase 1% da população judaica de 650 mil.
Se o Ocidente tivesse imposto a resolução da partilha ou oferecido condições para que os judeus se defendessem, muitas vidas poderiam ter sido poupadas. Os países árabes assinaram acordos de armistício com Israel em 1949, a começar pelo Egito (24 de fevereiro), seguido pelo Líbano (23 de março), pela Jordânia (3 de abril) e pela Síria (20 de julho). O Iraque foi o único país que não assinou o acordo, decidindo, em vez disso, retirar suas tropas e entregar seu setor à Legião Árabe da Jordânia. Nenhum país árabe negociaria um acordo de paz.
MITO
“O boicote econômico árabe a Israel foi imposto depois da guerra de 1948”.
FATO
O boicote árabe foi declarado formalmente pelo recém-criado Conselho da Liga Árabe em 2 de dezembro de 1945: “Os produtos e bens manufaturados judaicos devem ser considerados indesejáveis para os países árabes”. Todas as “instituições, organizações, comerciantes, agentes comissionados e indivíduos” árabes foram chamados a “se recusar a vender, distribuir ou consumir produtos ou bens manufaturados sionistas”.21 Como fica evidente nessa declaração, os termos “judeu” e “sionista” são usados como sinônimos.
Portanto, mesmo antes do estabelecimento de Israel, os países árabes já haviam declarado boicote econômico aos judeus da Palestina. O boicote, tal como evoluiu após 1948, teve três componentes: o boicote primário proíbe o comércio direto entre Israel e nações árabes; o secundário se dirige às companhias que fazem negócios com Israel; o boicote terciário inclui a lista negra de empresas que negociam com outras companhias que fazem negócios com Israel.22
O objetivo teria sido o de isolar Israel de seus vizinhos e da comunidade internacional e negar-lhe um mercado que poderia ser usado para aumentar seu poder econômico e militar. Embora tenha, sem dúvida alguma, isolado Israel e separado o Estado judeu dos seus mercados mais naturais, o boicote foi incapaz de prejudicar a economia de Israel até o nível pretendido. Em 1977, o Congresso americano proibiu as companhias dos EUA de cooperar com o boicote árabe. Quando o presidente Jimmy Carter assinou a lei, afirmou que “a questão atinge o coração do livre comércio entre nações” e que foi concebida “para dar um fim aos efeitos de divisão na vida americana por boicotes estrangeiros dirigidos contra membros judeus de nossa sociedade”.23
A Liga Árabe ameaçou tomar uma atitude decisiva contra a nova lei, considerada como parte de “uma campanha de leis e decretos histéricos (...) que Israel e o sionismo mundial tentam impor tanto aos EUA como também a alguns países da Europa Ocidental”.
Ao contrário dos argumentos de que o decreto levaria a uma redução drástica do comércio americano com o mundo árabe, as importações e exportações aumentaram substancialmente, bem como as relações exteriores diplomáticas e culturais. Não obstante, certas companhias americanas foram incluídas na lista negra por suas relações com Israel.
Em 30 de setembro de 1994, os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo anunciaram que deixavam de apoiar o boicote secundário, que impedia o comércio com companhias que fizessem negócios com Israel. Em Taba, no Egito, em 7 e 8 de fevereiro de 1995, líderes comerciais egípcios, americanos, jordanianos e palestinos assinaram documento conjunto (a Declaração de Taba) apoiando “todos os esforços para encerrar o boicote a Israel”.
Desde a assinatura dos acordos de paz entre Israel, a OLP e a Jordânia, o boicote tem sido gradualmente destruído. A Liga Árabe foi obrigada a cancelar reuniões sobre o boicote convocadas pelos anfitriões sírios devido à oposição de países como Kuwait e Tunísia. O boicote primário – que proíbe relações diretas entre países árabes e Israel – acabou quando nações como Qatar, Omã e Marrocos negociaram acordos com Israel. Poucos países fora do Oriente Médio se submeteram ao boicote, que apesar disso continua tecnicamente em vigor em diversos países, notadamente na Arábia Saudita (que proíbe produtos que levam a estrela de Davi).24
Notas
1 New York Times (1º de dezembro de 1947).
2 Facts on File Yearbook. New York: Facts on File, Inc., 1948, pág. 48.
3 C. Hurewitz. The Struggle for Palestine. New Yorh: Schocken Books, 1976, pág. 308.
4 Facts on File Yearbook, 1948, pág. 231.
5 Facts on File Yearbook, 1947, pág. 231.
6 Howard Sachar. A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time. New York: Alfred A. Knopf, 1979, pág. 322.
7 Netanel Lorch. One Long War. Jerusalém: Keter Books, 1976, pág.47; Ralph Patai, ed. Encycopledia of Zionism and Israel. (New York: McGraw Hill, 1971, pág. 307-308.
8 Security Council Official Records, Special Supplement (1948), pág. 20.
9 Security Council Official Records (16 de abril de 1948), pág. 19.
10 John Bagot Glubb. A Soldier with the Arabs. Londres: Staughton and Hodder, 1957, pág. 79.
11 Haganá (do hebraico defesa). Organização militar sionista criada em 1920 e extinta em 1948, quando serviu de base para o exército israelense. Seus 60 mil integrantes atuaram com poder de polícia na Palestina, durante o Mandato Britânico, e participaram da Segunda Guerra Mundial em unidades formadas somente por judeus.
12 Isi Leibler. The Case for Israel. Austrália: The Globe Press, 1972, pág. 15.
13 Folke Bernadotte. To Jerusalem. Londres: Hodder and Stoughton, 1951, pág. 113.
14 Security Council Official Records (29 de maio de 1948), pág. 2.
15 Foreign Relations of the United States 1947. District of Columbia: GPO, 1948), pág. 1.249 (daqui em diante será usada a sigla FRUS).
16 Mitchell Bard. The Water’s Edge and Beyond. New Jersey: Transaction Books, 1991, pág. 171-175; FRUS, pág. 537-539; Robert Silverberg. If I Forget Thee O Jerusalem: American Jews and the State of Israel. New York: William Morrow and Co., Inc., 1970, pág. 366, 370; Shlomo Slonim. The 1948 American Embargo on Arms to Palestine, Political Science Quarterly (outono de 1979), pág. 500.
17 Sachar, pág. 345.
18 Larry Collins e Dominique Lapierre. O Jerusalem! New York: Simon and Schuster, 1972, pág. 352.
19 Golda Meir. My Life. New York: Dell, 1975, pág. 213, 222, 224.
20 Sachar, pág. 452
21 Terence Prittie e Walter Nelson. The Economic War Against the Jews. Londres: Corgi Books, 1977, pág. 1; Dan Chill. The Arab Boycott of Israel. New York: Praeger, 1976, pág. 1. 22 Prittie e Nelson, pág. 47-48; Sol Stern. On and Off the Arabs’ List, The New Republic (27 de março de 1976), pág. 9; Kennan Teslik. The Executive Branch and Special Interests. Connecticut:Greenwood Press, 1982, pág. 11.
23 Bard, pág. 91-115.
24 Jerusalem Post (5 de junho de 2002).
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