quinta-feira, 15 de março de 2012

A Guerra Intra-Muçulmana

Politicamente Falando...


Neste começo de 2012, além do conflito árabe-israelense, há um outro conflito no Oriente Médio fervendo e exacerbando a fragmentação entre os muçulmanos. As guerras entre os muçulmanos está sendo travada em todos os níveis: religioso, tribal, ideológico e geográfico.

O número de mortos na Síria está rapidamente aproximando os 7 mil. Os confrontos entre os Kurdos e Turcos já causou mais de 40 mil mortos desde 1984. Carros-bomba, homens-bomba e bombas improvisadas são rotina no Iraque apesar do Primeiro Ministro ser shiita, o Presidente ser um Kurdo e o Vice Presidente um sunita.

O Iraque se transformou na plataforma de vingança dos shiitas que formam 60% da população. Eles foram oprimidos pelos 20% da minoria sunita desde o século 17. O conflito securlar entre os árabes do Iraque e os 15% de minoria Kurda que quer sua independência, complica mais a coisa.

O conflito entre sunitas e shiitas que existe desde o século VII, reapareceu no Iraque com toda a força depois da saída dos americanos em dezembro e vem sendo exacerbado pelo expansionismo iraniano shiita. A retirada americana do Iraque e proximamente do Afganistão, seu abandono de Mubarak e as vitórias simultâneas dos Islamistas no Egito, Líbia, Tunísia e Marrocos deram forças ao Irã, aumentando a ansiedade dos governos mais moderados no Oriente Médio.

Este Inverno Árabe desestabilizou a enfraqueceu os 3 principais regimes da região: o Egito, o Iraque e a Síria. Guerras civis fomentadas pelo Irã se espalharam no Yemen e em Bahrain aonde o regime só conseguiu acabar com os protestos com a intervenção da Arábia Saudita. Apesar de Bahrain ser pequena, o fim dos Al-Khalifa poderá determinar o futuro do Kuwait e outros estados do Golfo inclusive a Arábia Saudita que tem uma população shiita expressiva.

Historicamente, este conflito nunca esteve tão exacerbado como nos últimos 40 anos. O genocídio de centenas de milhares no Sudão, 1.2 milhões de Bangladeshis mortos por Paquistaneses, 200 mil mortos na Algéria; 1 milhão de mortos na guerra Irã – Iraque; 300 mil kurdos e shiitas mortos por Saddam Hussein; 80 mil iranianos mortos durante a revolução islâmica; 25 mil mortos no Setembro Negro na Jordânia e 20 mil mortos por Hafez Hassad em Hama na Síria. Em 2007 foi estimado que 11 milhões de muçulmanos morreram em conflitos desde 1948। Destes 11 milhões apenas 35 mil morreram em conflitos com Israel - ou 0.3%. [Arab-Israeli Fatalities Rank 49th]

A violência intra-muçulmana é enraizada numa educação de ódio e intolerância com opiniões diversas e com a atitude islâmica para com conversos. De acordo com o Professor Bernard Lewis, a apostasia não é só um pecado, mas um crime de traição da comunidade. Um membro podre que deve ser amputado.

Um pesquisa em dezembro de 2010 do Instituto Pew revelou que a maioria dos muçulmanos são a favor de impor leis em seus países para permitir o apedrejamento de mulheres por adultério, a amputação das mãos por roubo e a pena de morte para muçulmanos que se converterem para outra religião. No Paquistão, por exemplo, 76% da população tem esta opinião ou mais de 125 milhões de pessoas. Isto não é uma minoria inexpressiva.

A ilusão da Primavera Árabe, da “Religião de Paz”, da Coalisão Árabe, da coexistência Árabe pacífica não durou nem um ano. 2012 pode se tornar um dos anos mais instáveis nos confrontos entre muçulmanos, completamente separado do conflito com Israel ou os palestinos. E porque isto é importante?

O Quarteto está pressionando Israel para novas concessões para reanimar este “processo de paz” incluindo a cessassão de construção por judeus na Judéia, Samária e Jerusalém que hoje, na mente esquizofrênica destes líderes, deve ser entregue aos palestinos.

E os Estados Unidos, nestas últimas semanas, chegaram mais próximo do que nunca de abrir negociações com os Talibãs. Há um ano atrás, a América decidiu que iria falar com o grupo se ele concordasse em baixar as armas, renunciar à Al-Qaeda e ao terrorismo e aceitar as regras da Constituição do Afganistão. Estas eram as pré-condições americanas mas ultimamente, Obama decidiu desistir delas.

Este é só o último exemplo de como um estado pode se iludir com falsas idéias, pensando poder em negociar com um inimigo, sem derrotá-lo, especialmente um que advoga o radicalismo islâmico. Desde 1998, os liberais mostram o exemplo da Inglaterra que decidiu negociar com o grupo terrorista IRA - Exército Republicano Irlandês terminando assim o conflito na Irlanda do Norte. De fato, os ingleses têm passado incontáveis sermões nos israelenses para que se sentem com o Hamas usando o acordo com o IRA como exemplo.

Mas todos nós sabemos que as situações não são comparáveis. Em 1972 quando os ingleses tentaram falar com o IRA, houve um aumento na violência. O contato foi visto como uma fraqueza e os irlandeses detonaram 22 bombas num só dia. Na década de 90 as negociações foram bem sucedidas por que as forças inglesas os haviam derrotado completamente. O IRA estava severamente infiltrado e sua capacidade operacional deteriorada.

O mesmo não pode ser aplicado aos Talibãs ou ao Hamas ou Hezbollah. O objetivo do IRA era limitado à Irlanda do Norte. Os radicais islâmicos querem impôr sua ideologia no mundo e estão numa onda vencedora no Oriente Médio. O IRA não queria destruir a Inglaterra e controlar Londres. O radicais islâmicos querem eliminar Israel e tomar Jerusalem.

A Constituição do Hamas de 1988 diz que não há solução para o problema palestino a não ser o jihad. Em 2006 o grupo reafirmou que nunca mudará uma só palavra de sua constituição. Assim, quando Abbas se encontrou com os líderes do Hamas e do Jihad Islâmico em dezembro último, a mídia começou uma campanha dizendo que a Fatah estaria “moderando” o Hamas através do diálogo. Os porta-vozes da Fatah inventaram uma série de desculpas para justificar o acordo de reconciliação inclusive dizer que haviam convencido o Hamas a dar uma parada nos ataques à Israel.

Mas ao final dos encontros, o comunicado em árabe foi claro: “Nós do Hamas reafirmamos nosso direito à luta de qualquer forma, particularmente à luta armada para remover a ocupação. O caminho da resistência, jihad, e nosso martírio para Allah provou ser o único caminho para atingir nossos direitos pela força e a liberação de nossa terra, de Jerusalem e nossos lugares santos.”

O próprio Haniyeh disse antes da reunião que “a resistência armada e a luta armada são sua escolha estratégica e o caminho para libertar a terra palestina do mar ao rio Jordão e expulsar os invasores de terra Palestina.”

O fato da Irmandade Muçulmana ter ganho as eleições nos estados árabes vizinhos, deu ao Hamas novo ímpeto para expressar sua verdadeira posição. Hoje não há qualquer pressão para o Hamas mudar. Hoje é Abbas, sem Hosni Mubarak para apoia-lo, quem não teve outra escolha a não ser colocar o rabo entre as pernas e abraçar o Hamas. Seus porta-vozes estão tentando dar um “spin” na coisa para mostrar que Abbas ainda é relevante.

As pressões que Israel irá sofrer nos próximos meses e anos, antes de qualquer negociação com o Hamas, serão diretamente resultado destas negociações dos americanos com os Talibãs. E elas não serão simples. Em setembro do ano passado quando o governo do Afeganistão tentou dar a partida nas negociações, o representante dos Talibãs se matou junto com o representante afegão com uma bomba escondida em seu turbante.

É preciso ter em mente que os Talibãs não estão entrando nestas supostas negociações como derrotados. Os Estados Unidos já anunciaram que irão encerrar as operações de combate no Afganistão em 2014. Tudo o que os Talibãs precisam ter é paciência e eles comemorarão a saída do último americano como uma vitória. E aí não haverá mais negociação ou acordo que sobreviva e o ocidente não mais terá a chance de negociar de uma posição de força. Isto já aconteceu antes com a saída de Israel do sul do Líbano e Gaza e hoje estamos vendo as consequências.

Se olharmos em toda a História da Humanidade, antiga ou moderna, acordos de paz duradouros foram feitos quando houve uma vitória de um lado sobre o outro. Um lado vencedor e o outro o derrotado. Israel já nos mostrou como não se faz no Líbano e em Gaza mas o mundo não aprendeu com a lição. E isso é a prova da insanidade: você fazer a mesma coisa repetidamente esperando obter um resultado diferente.

Se não ganharmos a guerra contra o radicalismo islâmico agora, estaremos sujeitando nossos filhos e as gerações vindouras a muita opressão e derramamento de sangue. E não há mais muito tempo a perder.

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