sábado, 31 de março de 2012

Os refugiados palestinos esquecidos

Por Daniel Schwammenthal*

Encontro Yussuf Khoury, um refugiado palestino de 23 anos de idade. Não, ele não é um desses descendentes de refugiados que nasceram em campos administrados pelas Nações Unidas que jamais pisaram em sua alegada terra natal, mantidos na miséria eterna como arma publicitária contra Israel. Yussuf Khoury realmente fugiu de sua terra natal há apenas dois anos. Ele não estava fugindo de israelenses, mas de seus ‘irmãos’ palestinos em Gaza, buscando refúgio seguro na “ocupada” Margem Ocidental.

O crime de Khoury, no território administrado pelo Hamas, era ser um cristão. E essa grande transgressão foi agravada – aos olhos dos muçulmanos – quando souberam que ele escreveu poemas de amor.

Antes de fugir de Gaza,”muçulmanos do Hamas tentaram raptar-me duas vezes”, diz Khoury. Ele não quer saber o que lhe teria acontecido se tivesse sido sequestrado. Ele não vê sua família desde o Natal de 2007 e tem medo até mesmo de falar com eles por telefone.

Falando a um grupo de jornalistas estrangeiros na Faculdade Biblíca de Belém, onde reiniciou seu curso de teologia cristã, Khoury descreve uma vida de medo em Gaza. “Minha irmã está sob muita pressão por usar um véu. As pessoas estão se voltando cada vez mais para o fundamentalismo islâmico e a situação dos cristãos está muito difícil”, diz ele.

Em 2007, um ano após o Hamas ter assumido o poder, o dono da única livraria cristã de Gaza (Rami Khader Ayyad, de 32 anos) foi sequestrado e assassinado – encontrado morto com diversos tiros na cabeças e seu corpo com diversas perfurações a facas. Lojas e escolas cristãs foram bombardeadas. Não é de se admirar que a maioria dos amigos cristãos de Khoury também deixaram Gaza.

Nas raras vezes em que a midia ocidental divulga a situação dos cristãos nos territórios palestinos e em outras em sociedades árabes é para acusar Israel e seu “muro de separação”. No entanto, até que grupos terroristas palestinos começaram a usar Belém como refúgio seguro e trampolim para ataques suicidas à Israel. Antes, os habitantes de Belém eram livres para entrar e sair de Israel quando desejavam, com as mesmas facilidades com que muitos israelenses rotineiramente visitavam Belém.

Outra verdade, geralmente ignorada pelo Ocidente e raramente divulgada pela imprensa, é que a barreira de proteção ajudou a restaurar a calma e segurança não somente em Israel, mas também na Cisjordânia, e Belém. A Igreja da Natividade, que terroristas palestinos invadiram e profanaram em 2002, para escapar das forças de segurança israelenses, está novamente cheia de turistas e peregrinos de todo o mundo.

No entanto, mesmo na cidade onde Jesus nasceu, que está sob o controle da Autoridade Palestina, os cristãos vivem diariamente no fio da navalha. Khoury diz-nos que “…frequentemente os muçulmanos ficam em frente do portão do Colégio Biblíco, lendo o Alcorão em voz alta para intimidar os estudantes cristãos. Outros muçulmanos colocam seus tapetes de oração na Praça da Manjedoura.” Perguntado sobre o motivo dos muçulmanos rezarem tão perto de um dos lugares mais sagrados do cristianismo, o Pastor Alex Awad, decano dos estudantes da Faculdade Biblíca, diplomaticamente, aconselha-nos a apresentar esta questão aos próprios muçulmanos. Consciente da precária situação de sua comunidade, ele, como a maioria dos representantes dos palestinos cristãos, faz uma pausa e salienta que “…qualquer problema que os cristãos possam ter com seus vizinhos muçulmanos, não é culpa da ANP”.

“Os muçulmanos e os cristãos vivem aqui em relativa harmonia”, diz ele a imprensa, acrescentando apenas que os cristãos “sentem a pressão do Islã… Existe intimidação e fanatismo, mas estes são casos isolados e não há nenhuma perseguição geral.”

Samir Qumsieh, fundador do que ele diz ser a única estação de TV cristã da Terra Santa, enfatiza que não há sofrimento “cristão” e que os problemas dos cristãos não são orquestrados pela ANP. No entanto, suas histórias de roubo de terras, espancamentos e intimidações pintam um quadro bem diferente. Se a Autoridade Palestina realmente não aprovam tais injustiças, por que faz tão pouco para reprimi-las?

Só recentemente alguns cristãos começaram a falar sobre como gangues de muçulmanos simplesmente invadem e tomam posse de suas terras, e como os serviços de segurança palestinos – formados em quase sua totalidade por uçulmanos – não fazem absolutamente nada para reprimir esses roubos.

O Sr. Qumsieh nos fala sobre um homem cristão que foi raptado e torturado por muçulmanos em Hebron, e que a polícia palestina, mesmo sabendo do ocorrido e dos autores do crime, nada fez. Sua própria casa foi bombardeada há três anos e os autores jamais foram capturados. “Nós jamais sofremos como estamos sofrendo agora”, confessa Qumsieh, violando a sua própria advertência introdutória aos correspondentes estrangeiros, para não usarmos a palavra “sofrimento.”

Sempre uma religião minoritária entre os palestinos predominantemente muçulmanos, os cristãos estão, nas palavras do Sr. Qumsieh, “derretendo-se”, até mesmo em Belém. A 60 anos os cristãos representavam aproximadamente 80% da população de Belém, hoje são cerca de 20%, e diminuíndo rapidamente. Isto é resultado não somente da alta natalidade dos muçulmanos como também pela generalizada emigração cristã.

“Nosso futuro como comunidade cristã aqui é sombrio”, disse o Sr. Qumsieh.

O mundo continua ignorando os cristãos palestinos. Por que o sofrimento de palestinos não imputável a Israel não está registrado na consciência coletiva ocidental é uma pergunta que poucas pessoas parecem dispostas a fazer.



* Daniel Schwammenthal é editor do The Wall Street Journal Europa

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