quarta-feira, 8 de agosto de 2007

12. As Guerras do Golfo

MITO
"A Guerra do Golfo de 1991 só existiu por causa de Israel".

FATO
Antes que o presidente dos EUA, George Bush, anunciasse a Operação
Tempestade no Deserto, os críticos de Israel afirmavam que o governo de Tel-
Aviv e seus aliados estavam pressionando Washington para iniciar uma
guerra contra o Iraque. De acordo com esses críticos, o objetivo era eliminar
a ameaça militar iraquiana. Entretanto, Bush deixou clara a posição dos EUA
em seu discurso no dia 2 de agosto de 1990, ao dizer que os Estados Unidos
tinham "interesses vitais de longo prazo" no Golfo Pérsico. Além disso, a
"evidente agressão" do Iraque violara a Carta das Nações Unidas. O presidente
expressou preocupação por outras pequenas nações da área, bem como
pelos cidadãos americanos que viviam ou trabalhavam na região. "Vejo
como uma responsabilidade fundamental da minha presidência a proteção
de cidadãos americanos".1

Durante a crise do Golfo, o presidente e outros altos dirigentes do governo
esclareceram que os interesses dos EUA – a começar pelo fornecimento de
petróleo – foram ameaçados pela invasão iraquiana ao Kuwait.

A maioria dos americanos concordou com a decisão do presidente de ir à
guerra. Foi o que se observou na pesquisa divulgada em conjunto pelo jornal
Washington Post e pela rede ABC News, em 16 de janeiro de 1991: 76%
aprovaram a declaração de guerra e 22% desaprovaram.2

É verdade que Israel via o Iraque como uma séria ameaça à sua segurança,
dada a liderança iraquiana sobre as nações que rejeitavam qualquer acordo.
As preocupações israelenses se mostraram justificadas depois que a guerra
começou e o Iraque lançou 39 mísseis Scud contra populações civis em
Israel. O governo de Tel-Aviv nunca pediu que soldados americanos lutassem
por ele. Embora as forças israelenses estivessem preparadas para participar
da Guerra do Golfo, não o fizeram a pedido dos Estados Unidos. Mesmo
depois da provocação dos ataques com mísseis Scud, Israel atendeu aos
apelos dos Estados Unidos para não responder.


MITO
"Os EUA não precisaram da ajuda de Israel na Guerra do Golfo".

FATO
Israel nunca quis desempenhar um papel importante no conflito do Golfo.
Os americanos sabiam que os árabes não permitiriam que Israel ajudasse a
defendê-los; sabiam também que as tropas dos Estados Unidos tinham que
intervir porque os países do Golfo não tinham capacidade de autodefesa. A
atitude de Israel refletiu uma decisão política em resposta à solicitação dos
Estados Unidos.No entanto, colaborou com a campanha vitoriosa dos EUA
para rechaçar a agressão do Iraque. Por exemplo:


 O exército israelense era a única força militar da região que poderia
desafiar com êxito o exército iraquiano. Esse fato, do qual Saddam Hussein
estava ciente, foi um impedimento para novas agressões iraquianas.
 Ao advertir que tomaria medidas militares caso alguma tropa iraquiana
entrasse na Jordânia, Israel garantiu, na prática, a integridade territorial
do país vizinho contra a agressão iraquiana.
 Os Estados Unidos se beneficiaram do uso de mísseis aéreos Have Nap,
de fabricação israelense, em seus bombardeiros B-52, e de aviões Pioneer,
de reconhecimento por controle remoto, também fabricados por Israel.
 Israel forneceu, ainda, detectores de minas terrestres usados para limpar
o caminho para as forças aliadas, nos campos minados iraquianos.
 Pontes móveis levadas de Israel, via Arábia Saudita, foram empregadas
pelos fuzileiros navais americanos.
 Foi por recomendação dos israelenses que foram feitas mudanças de software
que transformaram o Patriot num sistema de defesa antimíssil eficaz.
 A indústria aeronáutica de Israel desenvolveu tanques de combustível
adaptados que ampliaram a autonomia dos aviões F-15 e foram usados
no Golfo.
 A indústria militar americana General Dynamics fez modificações sugeridas
pelos israelenses para aperfeiçoar a frota mundial de aviões F-16,
incluindo detalhes estruturais, mudanças de software, aumento da
capacidade do trem de pouso, aperfeiçoamento do sistema de rádio e
modificações na eletrônica para aviões.
 Um sistema de mira de produção israelense aumentou a capacidade de
ataque noturno dos helicópteros Cobra.
 Israel fabricou a lataria dos mísseis Tomahawk, de excelente rendimento.
 Os óculos para visão noturna usados pelas forças dos EUA foram fornecidos
por Israel.
 Um sistema de alarme de baixa altitude produzido e desenvolvido em
Israel foi usado nos helicópteros Blackhawk.
 Israel forneceu outros equipamentos às forças americanas, como coletes
blindados, máscaras de gás e sacos de areia.
 Da mesma forma, abriu suas instalações militares e hospitalares. Os
navios dos EUA usaram o serviço de manutenção e o apoio do estaleiro
do porto de Haifa em seu caminho para o Golfo.
 Foram os israelenses que destruíram o reator nuclear do Iraque em
1981. Como conseqüência, as tropas dos EUA não encontraram um
arsenal nuclear em Bagdá.


Como vimos, apesar da pouca participação no conflito, a cooperação israelense
foi extremamente valiosa: ao longo dos anos, o serviço de inteligência militar
de Israel preocupou-se com o Iraque ainda mais do que os serviços de inteligência
americanos. Portanto, os israelenses estavam aptos a fornecer a
Washington informações detalhadas de inteligência tática a respeito das
atividades militares iraquianas. O então secretário de Defesa, Richard Cheney,
reconheceu esse papel ao dizer que os Estados Unidos usaram informação
israelense sobre a região ocidental do Iraque em sua busca por lançadores de
mísseis Scud.3

MITO
"Israel foi beneficiado pela Guerra do Golfo".

FATO
É verdade que Israel se beneficiou da destruição da capacidade militar do
Iraque pela coalizão encabeçada pelos Estados Unidos, mas o custo foi enorme.

Mesmo antes do início das hostilidades, Israel teve que rever o seu orçamento
de defesa para manter suas forças em estado de alerta máximo. Os ataques
dos mísseis iraquianos justificaram a prudência israelense em manter sua
força aérea permanentemente no ar. A guerra exigiu que o orçamento de
defesa fosse elevado em mais de US$ 500 milhões. Outro investimento de
US$ 100 milhões foi necessário para a defesa civil.

Os 39 mísseis Scud que caíram em Tel-Aviv e Haifa causaram danos enormes:
3.300 apartamentos e outras construções foram afetados na Grande Tel-
Aviv e 1.150 pessoas retiradas desses locais tiveram que ser alojadas em
dezenas de hotéis, a um custo de US$ 20 mil por noite.

Além dos custos diretos da preparação militar e dos danos à propriedade, a
economia israelense também foi afetada pela impossibilidade de muitos
israelenses trabalharem sob as condições de emergência. A economia
funcionou com 75% da capacidade normal durante a guerra, resultando
num prejuízo líquido para o país de US$ 3,2 bilhões.4

O maior preço que Israel pagou foi o de vidas humanas. No total, 74
pessoas morreram em conseqüência dos ataques de Scuds – duas por
impacto direto, quatro por asfixia provocada pelas máscaras de gás e as
demais de ataques cardíacos.5

Um comitê das Nações Unidas que lida com pedidos de reparação contra o
Iraque referentes à Guerra do Golfo de 1991 aprovou mais de US$ 31 milhões
a serem pagos a empresas e indivíduos israelenses. A decisão de 1999 teve
origem numa decisão de 1992 do Conselho de Segurança, exigindo que o
Iraque indenize as vítimas da Guerra do Golfo.6 Em 2001, a Comissão de
Compensação das Nações Unidas destinou US$ 74 milhões a Israel, devido
aos ataques dos mísseis Scud.
A Comissão rejeitou a maior parte do US$ 1 bilhão solicitado por Israel.7


MITO
"Israel nada fez para proteger os
palestinos dos ataques dos Scuds".

FATO
O jornal Los Angeles Times reconheceu o dilema de Israel de distribuir máscaras
de gás à sua população. A distribuição de máscaras de gás foi calculada
segundo estimativas – baseadas em parte nas ameaças de Saddam Hussein,
antes da guerra – dos locais onde o perigo para a população era maior. Foi
dada prioridade, em primeiro lugar, à área costeira Tel-Aviv-Haifa, com uma
forte e extensa densidade populacional, bem como a Jerusalém, a segunda
cidade do país. Por ordem de prioridade, vinham áreas urbanas menores,
seguidas das zonas rurais dentro de Israel e, finalmente, os territórios
ocupados. A experiência corrobora a solidez dessa ordenação. Os cidadãos
israelenses são os mais ameaçados pelas armas iraquianas ilegais, não os
palestinos da Cisjordânia, que são partidários de Saddam.8

A grande maioria dos palestinos não escondeu seu apoio ao Iraque e muitos
foram vistos sobre os telhados de suas casas festejando, enquanto choviam
Scuds sobre as cidades israelenses.9 Diante do apoio dos palestinos a Saddam
Hussein e à preocupação do ditador iraquiano com eles, Israel considerou
improvável que os territórios ocupados fossem atacados.

Os tribunais israelenses ordenaram que os militares distribuíssem máscaras
de gás a todos os residentes dos territórios. Isso estava sendo feito, mas a
guerra terminou antes que todos os palestinos as tivessem recebido.
Importante: não há notícias de que algum palestino tenha sido morto ou
ferido por ataques de Scuds.

MITO
"O Iraque nunca foi uma ameaça para Israel".

FATO
Desde que chegou ao poder, o presidente iraquiano, Saddam Hussein, tornouse
um líder dos países árabes que rejeitavam qualquer acordo com Israel. Em
2 de abril de 1990, sua retórica tornou-se mais ameaçadora: "Juro por Deus
que faremos com que o nosso fogo devore metade de Israel caso eles tentem
fazer algo contra o Iraque".

Saddam afirmou que a capacidade das armas químicas de seu país só se
comparava à dos Estados Unidos e à da União Soviética e que ele aniquilaria
qualquer um que ameaçasse o Iraque com uma bomba atômica, usando "o
dobro em agentes químicos".10

Muitos dias depois, Saddam declarou que a guerra com Israel não terminaria
até que todo o território controlado pelos israelenses retornasse às mãos
árabes e acrescentou que o Iraque poderia lançar armas químicas contra Israel
a partir de diversos locais.11 O líder iraquiano também fez a alarmante revelação
de que, no caso de Israel atacar o Iraque, seus comandantes tinham liberdade
para lançar contra-ataques sem consultar o Alto Comando. O chefe da Força
Aérea iraquiana afirmou em seguida que tinha ordens para atacar Israel se
os israelenses atacassem o Iraque ou qualquer outro país árabe.12

Em 18 de junho de 1990, Saddam afirmou na Conferência Islâmica, em
Bagdá: "Caso eles (os israelenses) ataquem o Iraque ou os árabes, atacaremos
com todas as armas que possuímos". Disse ainda que "a Palestina foi roubada"
e exortou o mundo árabe a "recuperar os direitos usurpados na Palestina e
libertar Jerusalém do cativeiro sionista".13

A ameaça de Saddam aconteceu após a revelação de que Grã-Bretanha e os
Estados Unidos haviam frustrado uma tentativa de contrabando de detonadores
nucleares Kryton, de fabricação americana, para o Iraque.14 O serviço
de inteligência britânico M16 preparara uma avaliação secreta três anos antes
de Hussein ordenar um esforço máximo para desenvolver armas nucleares.15

Depois que Saddam usou armas químicas contra sua própria população curda,
em Halabja, em 1988, poucas pessoas duvidaram de sua determinação de
usar armas nucleares contra judeus em Israel, se tivesse oportunidade.
Os temores israelenses aumentaram ainda mais devido a informações
veiculadas na imprensa árabe, a partir de janeiro de 1990, de que Jordânia e
Iraque haviam formado "batalhões militares conjuntos" compostos de
unidades de terra, ar e mar. "Esses batalhões servirão como forças de
emergência para fazer frente a qualquer agressão ou ameaça estrangeira
contra qualquer um dos dois países", afirmou um jornal.16 Além disso, diziase
que os dois países haviam formado um esquadrão aéreo conjunto.17 Este
seria o primeiro passo para uma força militar árabe unificada, revelou o
colunista jordaniano Munis al-Razaz: "Se não nos apressarmos em formar
uma força militar árabe unificada, seremos incapazes de enfrentar as
ambições sionistas apoiadas pelos EUA", afirmou.18

Dado o histórico da formação de alianças árabes como um prelúdio para um
plano de ataque, Israel viu essas iniciativas e declarações com preocupação.
Em abril de 1990, funcionários da alfândega britânica encontraram tubos
prontos para serem carregados sobre um navio iraquiano fretado, que se
acreditava serem parte de um canhão gigante que permitiria a Bagdá lançar
mísseis nucleares ou químicos sobre Israel ou Irã.19 O Iraque negou que
estivesse fabricando um "supercanhão", mas após a guerra soube-se que
chegou a construir tal arma.20

O Iraque emergiu da sua guerra com o Irã como uma das maiores e mais bem
equipadas forças militares do mundo. Tinha um milhão de soldados testados
em batalha, mais de 700 aviões de combate, seis mil tanques, mísseis balísticos
e armas químicas. Embora os EUA e seus aliados tenham conquistado
uma vitória rápida, a magnitude do arsenal de Hussein só foi conhecida após
a guerra, quando os investigadores das Nações Unidas encontraram evidências
de um vasto programa para construir armas químicas e nucleares.21

O Iraque também serviu de base de grupos terroristas que ameaçavam Israel,
entre eles a OLP e o Conselho Revolucionário Fatah de Abu Nidal.
Após a invasão iraquiana ao Kuwait, Saddam Hussein continuou ameaçando
atacar Israel caso seu país fosse atacado pelos americanos. "Se os EUA nos
atacarem", afirmou em dezembro de 1990, "Tel-Aviv será o próximo alvo,
tenha ou não Israel participado do ataque".22

Numa entrevista coletiva após seu encontro com o secretário de Estado
americano James Baker, em 9 de janeiro de 1991, o ministro das Relações
Exteriores iraquiano, Tarik Aziz, foi perguntado se, no caso de guerra, o
Iraque atacaria Israel. Ele respondeu: "Sim, com absoluta certeza".23
Por fim, Saddam cumpriu sua ameaça.

MITO
"Sadam Hussein jamais se interessou por armas nucleares".

FATO
Em 1981 Israel se convenceu de que o Iraque estava a ponto de produzir armas
nucleares. Para impedir a fabricação de uma arma que, segundo acreditavam,
seria certamente dirigida contra eles, os israelenses lançaram um ataquesurpresa
e destruíram o complexo nuclear de Osirak. Israel foi muito criticado
na época. Em 19 de junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas
condenou por unanimidade a incursão. Os críticos minimizaram a importância
do programa nuclear do Iraque, argumentando que, pelo fato de Bagdá ter
assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e permitido que suas
instalações fossem inspecionadas, os temores israelenses eram infundados.

Só após o Iraque invadir o Kuwait é que dirigentes americanos passaram a
reconhecer publicamente que Bagdá desenvolvia armas nucleares e estava
muito mais próximo de alcançar seu objetivo do que se pensava antes.
Novamente, muitos críticos argumentaram que o governo dos EUA estava
apenas buscando uma justificativa para uma guerra com o Iraque.

Meses depois, após as forças aliadas terem anunciado a destruição das instalações
nucleares do Iraque, os inspetores das Nações Unidas descobriram que
o programa de Saddam para fabricação de armas nucleares era maior até
mesmo do que os israelenses imaginavam. Analistas pensavam que o Iraque
era incapaz de enriquecer urânio para fabricação de bombas, mas os pesquisadores
de Saddam usaram diversos métodos (inclusive um tido como obsoleto)
que, acreditaram, teria permitido ao Iraque fabricar pelo menos uma bomba.

MITO
"A OLP manteve-se neutra na Guerra do Golfo".

FATO
OLP, Líbia e Iraque foram os únicos membros que se opuseram a uma resolução
da Liga Árabe que pedia uma retirada iraquiana do Kuwait. Os líderes da
Intifada enviaram um telegrama de felicitações a Sadam Hussein,
descrevendo a invasão do Kuwait como o primeiro passo em direção à
"libertação da Palestina".24

O líder da OLP, Yasser Arafat, desempenhou um papel decisivo na sabotagem
de uma reunião árabe de cúpula convocada na Arábia Saudita a fim de discutir
a invasão. Segundo o New York Times, Arafat "desviou a atenção da reunião
de cúpula planejada e colaborou para que essa naufragasse" ao aparecer no
Egito com um "plano de paz" concebido pelo ditador líbio Muamar Kadafi.25

Ibrahim Nafei, editor do jornal Al-Ahram, que testemunhou a cena, contou
que Arafat se esforçou para derrubar qualquer resolução anti-iraquiana na
reunião da Liga Árabe no Cairo, em agosto de 1990. Ele "foi de delegação em
delegação, juntamente com Tarik Aziz, o ministro das Relações Exteriores
iraquiano, que ameaçava abertamente alguns delegados do Golfo e outros
árabes, dizendo que o Iraque iria virá-los de cabeça para baixo", escreveu
Nafei.26

Em Amã, na Jordânia, um dirigente da OLP advertia que combatentes palestinos
haviam chegado ao Iêmen. "Esperamos que eles façam operações suicidas
contra as tropas dos EUA na Arábia Saudita, no caso de os americanos avançarem
contra o Iraque", declarou. "Há mais de 50 mil combatentes palestinos"
no Kuwait e no Iraque, prosseguiu, "que defenderão os interesses de Iraque".27

Abul Abas, do Comitê Executivo da OLP, ameaçou que "qualquer alvo
americano irá se tornar vulnerável" no caso de os Estados Unidos atacarem
o Iraque.28

Em Jenin, em 12 de agosto, mil palestinos marcharam gritando: "Saddam,
você é um herói, ataque Israel com armas químicas".29

Segundo algumas fontes, a OLP desempenhou um papel ativo na conquista
do Kuwait pelo Iraque. O planejamento logístico para a invasão iraquiana foi
baseado, ao menos em parte, em dados de inteligência fornecidos por
membros e partidários da OLP residentes no Kuwait. Um diplomata árabe foi
citado pelo London Independent dizendo que, ao chegar ao Kuwait,
funcionários iraquianos "foram imediatamente até suas casas e os levaram,
dando ordens para que fossem trabalhar". A embaixada iraquiana havia
compilado sua própria lista de kuwaitianos tidos como pessoas-chave, disse
o diplomata. "Mas quem os ajudou? Quais foram os técnicos qualificados
que trabalharam com os kuwaitianos e conheciam toda essa informação?",
perguntou. "Os palestinos".30


"Os líderes do movimento pacifista de Israel expressaram repúdio
às ações da OLP. Seria necessária uma máscara de gás para
sobrepujar o ‘fedor repulsivo e tóxico’ da atitude da OLP quanto a
Saddam Hussein, afirmou Yossi Sarid". 31
Outro ativista, Yaron London, escreveu em carta aberta aos
palestinos dos territórios: "Esta semana vocês me provaram que
fui um grande tolo por muitos anos. Quando vocês pedirem
novamente meu apoio para os seus ‘legítimos direitos’, vão descobrir
que seus gritos de apoio a Sadam entupiram meus ouvidos".32


Quando os EUA passaram a concentrar tropas na Arábia Saudita, Arafat
definiu a operação como uma "nova cruzada que pressagia os mais graves
perigos e desastres para nossa nação árabe e islâmica". Também deixou clara
a sua opinião sobre o conflito: "Só podemos estar na trincheira adversário do
sionismo e de seus aliados imperialistas que estão hoje mobilizando tanques,
aviões e toda sua avançada e sofisticada máquina de guerra contra nossa
nação árabe".33

Assim que a guerra começou, o Comitê Executivo da OLP reafirmou apoio ao
Iraque: "O povo palestino permanece firme ao lado do Iraque". No dia seguinte,
Arafat enviou uma mensagem a Saddam saudando a luta do Iraque contra a
"ditadura americana" e descrevendo o Iraque como "o defensor da nação
árabe, dos muçulmanos e de todo homem livre".34

O entusiasmo de Arafat por Hussein ficou patente na ocasião: "Quero
aproveitar esta oportunidade para reiterar a Vossa Excelência o grande orgulho
que temos dos laços de fraternidade e do destino comum que nos une", disse
em novembro de 1991. "Trabalhemos juntos até alcançar a vitória e libertar
Jerusalém".35


MITO
"A Guerra do Golfo demonstrou por que os
países árabes precisam de mais armas dos EUA".

FATO
Antes da invasão ao Kuwait, o Iraque tinha um dos maiores e mais poderosos
exércitos do mundo. Nenhum dos países do Golfo era capaz de desafiar os
iraquianos sem a ajuda direta dos EUA. O Kuwait é uma nação minúscula
que recebera US$ 5 bilhões em armamentos e, mesmo assim, não teve
qualquer chance de deter o Iraque.

Do mesmo modo, os Estados Unidos venderam à Arábia Saudita mais de US$ 40
bilhões em armas e equipamentos militares na última década do século XX.
Entretanto, isso tampouco poderia ter impedido uma invasão iraquiana. Ao
compreender esse fato, o rei Fahd finalmente permitiu que tropas americanas
se estabelecessem em seu país. Não havia estrutura militar que pudesse
compensar a pequena dimensão dos exércitos regulares nesses países.

Além disso, a rapidez com que o Iraque invadiu o Kuwait era um lembrete de
que as armas americanas poderiam facilmente cair em mãos inimigas. Por
exemplo, o Iraque se apossou de 150 mísseis antiaéreos Hawk de fabricação
americana e de alguns veículos blindados do Kuwait.

MITO
"O Iraque deixou de ser uma ameaça a
Israel após a Guerra do Golfo de 1991".

FATO
O Iraque não faz fronteira com Israel, mas desde 1948 tem sido um de seus
inimigos mais declarados. O Iraque fez de Israel o principal alvo de seus
ataques durante a Guerra do Golfo. Embora grande parte do seu arsenal de
armas não-convencionais tenha sido destruída, o Iraque permaneceu como
uma ameaça a longo prazo para a segurança de Israel. As revelações mais
recentes de que o Iraque tinha ogivas biológicas com antrax e toxinas de
botulismo prontas para o uso em 1990, e estava a ponto de concluir seu
programa para adquirir capacidade nuclear, ressaltam o quanto Israel e a
coalizão aliada estiveram próximos do desastre. Grande parte do arsenal de
armas bacteriológicas de Bagdá ainda não foi descoberta.

Saddam ainda estava claramente empenhado em rearmar o Iraque. Grande
parte do arsenal químico, as instalações nucleares e centenas de mísseis
balísticos móveis sobreviveram intactos ao conflito e Iraque continuava
resistindo aos esforços das Nações Unidas para destruí-los. Mesmo que tenha
sido obrigado a destruir muitos dos mísseis Scud remanescentes, acredita-se
que grande quantidade pode estar escondida. Além disso, assim que se levan-
tassem as sanções, Bagdá poderia reproduzir um artefato nuclear em três a
cinco anos e renovar seus agentes químicos mortais em menos de dois anos.

Inspetores de armas das Nações Unidas foram expulsos do Iraque em 1998
e, dois anos depois, o Iraque testou uma série de mísseis balísticos de curto
alcance, a fim de aperfeiçoar um novo sistema que poderia ser usado para
construir mísseis com maior alcance.36

Os complexos militares e centros de pesquisa de mísseis onde estava sendo
desenvolvido o míssil conhecido como al-Samoud foram bombardeados em
dezembro de 1998 por aviões aliados, durante a Operação Raposa do Deserto.
Nessa época, o Pentágono acreditava que a nova produção de mísseis de
Saddam Hussein havia sido desativada por um ou dois anos. Todavia, o
primeiro lançamento desse míssil ocorreu apenas seis meses depois.

Em janeiro de 2001, um desertor iraquiano declarou ao Sunday Telegraph,
de Londres, que o Iraque havia adquirido duas bombas nucleares em condições
de uso e estava trabalhando para produzir mais. Essa opinião foi ignorada,
mas numerosos estudos indicam que Saddam Hussein estava perto de
produzir armas nucleares e que o principal obstáculo vinha sendo a aquisição
do material necessário à fissão nuclear.37 Ninguém questionava o desejo de
Hussein de adquirir armas de destruição em massa.

Em fevereiro de 2003, o secretário de Estado americano, Colin Powell, fez
longa palestra no Conselho de Segurança das Nações Unidas e apresentou
documentos de como o Iraque ocultara suas armas, enganara inspetores e
estava dando continuidade a um programa de desenvolvimento de armas de
destruição em massa, numa violação direta às resoluções da ONU. Embora
não tenha apresentado provas de que o Iraque tivesse armas nucleares,
Powell demonstrou que os iraquianos tinham armas químicas e biológicas e
continuavam a trabalhar no desenvolvimento de armas nucleares.38

Enquanto isso, apesar de o Iraque ter acatado a Resolução 687 das Nações
Unidas, que o proibia de permitir que qualquer organização terrorista atuasse
em seu território, Bagdá ainda tinha contato com grupos e indivíduos
envolvidos com o terrorismo, aos quais oferecia refúgio. Hussein também
prometia publicamente pagar US$ 25 mil às famílias de terroristas palestinos.

MITO
"Os judeus americanos incitaram os EUA a
lutar contra o Iraque em 2003 para ajudar Israel".

FATO
Um dos argumentos mais absurdos feito pelos oponentes da guerra contra o
Iraque, em 2003, foi que os judeus americanos persuadiram o presidente
George W. Bush a lançar uma campanha militar em favor de Israel. A verdade
é que Bush decidiu que o Iraque representava uma ameaça aos Estados
Unidos porque tinha armas de destruição em massa e estava buscando obter
uma capacidade nuclear que poderia ser usada diretamente contra os
americanos ou transferida para terroristas que as usariam contra alvos
americanos. A deposição de Saddam Hussein foi planejada também para
eliminar um dos maiores patrocinadores do terrorismo.

A guerra no Iraque libertou o povo iraquiano de um dos regimes mais opressores
do mundo. Até mesmo no mundo árabe, onde muita gente foi contra a ação
americana, nenhum líder árabe saiu em defesa de Saddam Hussein.
É verdade que Israel se beneficia da eliminação de um regime que lançou 39
mísseis contra seu território em 1991, pagou palestinos para estimulá-los a
atacar israelenses e liderou uma coalizão de países árabes comprometidos
com a sua destruição. No entanto, também é verdade que muitos países
árabes se beneficiaram da deposição de Saddam Hussein, em particular a
Arábia Saudita e o Kuwait. Por isso, essas nações permitiram que as forças
aliadas usassem seus países como base de operações.

Quanto ao papel dos judeus americanos, é importante lembrar que esses
constituem menos de 3% da população dos EUA. A afirmação de que seriam
os maiores defensores da guerra não condiz com a verdade. Pelo contrário, a
comunidade judaica tinha divisões semelhantes às demais do país como um
todo e a maioria das principais organizações judaicas evitara deliberadamente
assumir qualquer atitude sobre a guerra. Enquanto isso, pesquisas de opinião
pública mostraram que uma maioria significativa de americanos apoiou a
política do seu presidente com relação ao Iraque.

Alguns críticos têm sugerido que proeminentes funcionários judeus do
governo Bush empurraram os EUA para a guerra. Na verdade, poucos judeus
fazem parte do governo americano e nenhum deles está entre os principais
assessores de Bush – secretário de Defesa, secretário de Estado, vicepresidente
ou assessor de Segurança Nacional.

A afirmação de que os judeus americanos são mais leais a Israel do que aos
Estados Unidos ou de que têm uma influência imprópria sobre a política
americana para o Oriente Médio é um exemplo de anti-semitismo.

Infelizmente, alguns críticos da guerra no Iraque optaram pela velha tese de
culpar os judeus por uma política com a qual discordavam, em vez de submeter
seus argumentos ao debate.

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