segunda-feira, 6 de agosto de 2007

8. A Guerra de Atrito, 1967-1970

MITO
"Israel foi responsável pela Guerra de Atrito".

FATO
O presidente egípcio Gamal Nasser pensou que, pelo fato de a maior
parte do exército israelense ser formada por reservistas, não poderia resistir
a uma longa guerra de atrito. Ele acreditava que Israel seria incapaz de
suportar o fardo econômico e que as baixas constantes minariam o moral
israelense. Para levar adiante essa estratégia de enfraquecer Israel
lentamente, Nasser ordenou ataques esporádicos, de maneira a não
provocar, como resposta, uma guerra total.

Já em 1o de julho de 1967, o Egito passou a bombardear as posições
israelenses próximas ao Canal de Suez. Em 21 de outubro de 1967, afundou
o destróier israelense Eilat, matando 47 pessoas. Alguns meses depois, a
artilharia egípcia passou a bombardear posições israelenses ao longo do
Canal de Suez e a emboscar patrulhas militares israelenses. Essa sangrenta
Guerra de Atrito (ou Guerra de Desgaste), como ficou conhecida, durou três
anos. O balanço de mortes israelenses entre 15 de junho de 1967 e 8 de
agosto de 1970 (quando foi declarado um cessar-fogo) foi de 1.424 soldados
e mais de cem civis. Foram feridos dois mil soldados e 700 civis.1


MITO
"O Egito encerrou a Guerra de Atrito e tentou um acordo
com Israel, apenas para que Jerusalém o recusasse".

FATO
No verão de 1970, os Estados Unidos convenceram Israel e Egito a aceitarem
um cessar-fogo. Este foi planejado para levar a negociações sob os auspícios
das Nações Unidas. Israel declarou que aceitaria o princípio da retirada dos
territórios que havia capturado.

Contudo, em 7 de agosto, os soviéticos e egípcios instalaram sofisticados
mísseis terra-ar SAM-2 e SAM-3 na zona restrita de 51,5 km de profundidade
ao longo da faixa ocidental do Canal de Suez. Isso era uma clara violação do
acordo de cessar-fogo, que proibia a apresentação ou a construção de
qualquer instalação militar nessa área.

A revista americana Time destacou que o reconhecimento dos EUA
"mostrava que os 36 mísseis SAM-2 introduzidos furtivamente dentro da
zona de cessar-fogo constituíam apenas a primeira linha do mais maciço
sistema antiaéreo jamais criado".2

As fotos de satélite do Departamento de Defesa dos EUA demonstraram conclusivamente
que os 63 postos de SAM-2 estavam instalados numa faixa de
125,5 km entre as cidades de Ismailia e Suez. Três anos depois, esses mísseis
proporcionaram cobertura aérea ao ataque-surpresa do Egito contra Israel.3

Apesar das violações egípcias, foram retomadas as conversações patrocinadas
pelas Nações Unidas – mais uma prova de que Israel estava propenso à paz.
Todavia, as conversações foram rapidamente interrompidas pelo enviado
especial das Nações Unidas, Gunnar Jarring, quando aceitou a interpretação
egípcia da Resolução 242 e pediu o recuo total de Israel para as linhas de
demarcação anteriores a 5 de junho de 1967.

Nessas bases, o Egito expressou, em carta para Jarring de 20 de fevereiro de
1971, sua disposição "de estabelecer um acordo de paz com Israel". No
entanto, essa suposta moderação mascarava um invariável irredentismo4
egípcio e a negativa de aceitar uma paz de fato, como mostravam as extensas
reservas e pré-condições da carta.

As sentenças cruciais acerca de um "acordo de paz com Israel" sequer foram
publicadas ou transmitidas no Egito. Além disso, este se recusava a entrar
em conversações diretas com o Estado judeu. Israel buscou pelo menos
transformar a esforçada missão de Jarring por meio de conversações indiretas,
ao dirigir todas as cartas não a ele, mas diretamente ao governo egípcio. O
Egito se recusou a aceitá-las. Imediatamente após a carta a Jarring, Anuar
Sadat, o novo presidente do Egito, dirigiu-se a uma reunião do Conselho
Nacional Palestino (CNP) no Cairo. Ele prometeu apoiar a OLP "até a vitória"
e declarou que o Egito não aceitaria a Resolução 242.5

Cinco dias depois de Sadat sugerir que estava pronto para fazer a paz com
Israel, Mohamed Heikal, confidente de Sadat e editor do jornal semi-oficial
Al-Ahram, escreveu:

"A política árabe nesta etapa tem apenas dois objetivos. O
primeiro, a eliminação dos traços da agressão de 1967 por
intermédio da retirada israelense de todos os territórios que
ocupou naquele ano. O segundo é a eliminação dos traços da
agressão de 1948 por meio da eliminação do próprio Estado de
Israel. Todavia, isso ainda é um objetivo abstrato e indefinido, e
alguns de nós temos nos equivocado ao partirmos do último
passo antes do primeiro."6


MITO
"O Egito sempre quis a paz com Israel entre 1971 e 1973.
A recusa de Israel provocou a Guerra do Yom Kippur".

FATO
Com o colapso da missão de Jarring, os Estados Unidos empreenderam uma
nova tentativa e propuseram um acordo provisório entre Israel e Egito, pedindo
a retirada parcial do Estado judeu do Canal de Suez e a abertura dessa via
marítima. Israel estava disposto a entrar em negociações sem pré-condições,
mas Sadat exigiu que Israel concordasse, como parte do acordo provisório,
em recuar definitivamente para as antigas fronteiras de 1967. Na prática,
Sadat estava buscando una garantia adiantada do resultado das "negociações".
Isso era inaceitável para Israel e demonstrou que Sadat não estava
efetivamente interessado na paz.


Notas
1 Alguns historiadores consideram que a guerra de atrito começou em 1968 ou
1969. Estamos usando a linha do tempo de Chaim Herzog. Chaim Herzog. The
Arab Israeli Wars. (New York: Vintage Books, 1984, pág. 195-221; Nadav Safran.
Israel: The Embattled Ally. (Massachusetts: Harvard University Press, 1981, pág. 266.
2 Time (14 de setembro de 1970).
3 John Pimlott. The Middle East Conflicts From 1945 to the Present. (New York: Crescent
Books, 1983, pág. 99.
4 Irredentismo: defender o regate de terras consideradas sob domínio estrangeiro (NT).
5 Rádio Cairo (27 de fevereiro de 1971).
6 Al-Ahram (25 de fevereiro de 1971).

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