segunda-feira, 13 de agosto de 2007

14.1 Os Refugiados

MITO
"Israel não permitiu que os palestinos retornassem a seus
lares, para que os judeus roubassem suas propriedades".


FATO
Israel não podia simplesmente concordar em permitir que todos os palestinos
retornassem, mas buscou diligentemente uma solução para o problema dos
refugiados. A atitude de Israel foi explicada por David Ben-Gurion (1 de
agosto de 1948):

"Quando os países árabes estiverem prontos para concluir um
tratado de paz com Israel, essa questão virá à tona para que se
encontre uma solução construtiva como parte do acordo geral,
e com a devida consideração por nossas contrapartidas quanto à
destruição da vida judaica e suas propriedades, os interesses de
longo prazo das populações judaicas e árabes, a estabilidade do
Estado de Israel e a durabilidade da base da paz com seus vizinhos,
a real situação e o destino das comunidades judaicas nos países
árabes, as responsabilidades dos governos árabes por sua guerra
de agressão e suas obrigações reparatórias – tudo isso será levado
em conta para a seguinte questão: se, em que medida e sob
quais condições os antigos residentes árabes do território de
Israel terão permissão para retornar".48

O governo israelense não foi indiferente à situação dos refugiados: foi criada
uma Custódia de Propriedades Abandonadas, "para evitar a ocupação ilegal
de casas vazias e estabelecimentos comerciais, administrar as propriedades
sem dono e também garantir a produção dos campos abandonados e salvar
as colheitas..." 49

O perigo implícito da repatriação não impediu Israel de permitir o retorno de
alguns refugiados e se oferecer a receber um número substancial deles
como condição para a assinatura de um tratado de paz. Em 1949, Israel se
propôs a permitir o retorno das famílias que haviam sido separadas durante
a guerra, liberar as contas dos refugiados em bancos israelenses (finalmente
descongeladas em 1953), pagar compensações por terras abandonadas e
repatriar cem mil refugiados.50

Os árabes rejeitaram todas as propostas israelenses. Eles não estavam
dispostos a adotar qualquer medida que pudesse ser interpretada como
reconhecimento de Israel e fizeram da repatriação uma pré-condição para
as negociações, o que Israel não aceitou. O resultado foi o confinamento dos
refugiados em acampamentos.

Apesar da atitude assumida pelos países árabes, Israel liberou as contas
bancárias bloqueadas dos refugiados árabes, que totalizavam mais de US$
10 milhões, pagou milhares de compensações em dinheiro e ofereceu
centenas de acres como garantias alternativas.


MITO
"As resoluções da ONU exigem que Israel
repatrie todos os refugiados palestinos".


FATO
As Nações Unidas abordaram o problema dos refugiados e adotaram a Resolução
194 em 11 de dezembro de 1948. Esta pedia aos países árabes e a Israel que
solucionassem todos os assuntos relevantes por meio de negociações, seja
diretamente ou com a ajuda da Comissão de Conciliação Palestina, estabelecida
por intermédio da resolução. Além disso, o Ponto 11 delibera:

"Deveria ser permitido aos refugiados que desejarem retornar a
seus lares e viver em paz com seus vizinhos que assim fosse
feito no menor tempo possível; que fosse paga uma compensação
pelas propriedades daqueles que decidissem não retornar e por
perdas ou danos à propriedade que, conforme os princípios do
direito internacional ou equivalente, viesse a se tornar um bem
dos governos ou autoridades responsáveis. A instrução da
Comissão de Conciliação é facilitar a repatriação, o reassentamento
e a reabilitação econômica e social dos refugiados, bem como o
pagamento de compensações" (palavras enfatizadas pelo autor).

As palavras enfatizadas demonstram o reconhecimento das Nações Unidas de que não deveria se esperar que Israel repatriasse uma população hostil
que pudesse ameaçar a sua segurança. A solução para o problema, assim
como para todos os problemas anteriores dos refugiados, exigia que pelo
menos alguns palestinos fossem reassentados em territórios árabes. Além
disso, a resolução usa a expressão "deveria", em vez de "deve", o que, em
termos legais, não é uma linguagem impositiva.

A resolução veio ao encontro da maior parte das preocupações de Israel no
tocante aos refugiados, considerados uma quinta-coluna em potencial caso
lhes fosse permitido um retorno incondicional. Os israelenses consideraram
a questão do assentamento dos refugiados uma parcela negociável de um
acordo de paz geral. Como o presidente Chaim Weizmann explicou: "Estamos
ansiosos por auxiliar nesse reassentamento desde que seja estabelecida
uma paz autêntica e que os países árabes façam a sua parte. A solução do
problema árabe só poderá ser alcançada através de um programa de
desenvolvimento para todo o Oriente Médio, para o qual Nações Unidas,
países árabes e Israel farão suas respectivas contribuições".51

Naquela época, os israelenses não imaginavam que os refugiados viessem a ser um problema importante, pois acreditavam que os países árabes
reassentassem a maior parte deles, e que poderia vir a ser estabelecido
algum tipo de acordo com os remanescentes no contexto de um acordo
geral. Entretanto, os árabes estavam tão contrários a um acordo em 1949
quanto estiveram em 1947. De fato, rejeitaram por unanimidade a resolução
das Nações Unidas.

As discussões nas Nações Unidas sobre os refugiados haviam começado no
verão de 1948, antes de Israel completar sua vitória militar; por isso, os
árabes ainda acreditavam que poderiam vencer a guerra e permitir que os
refugiados retornassem de maneira triunfante. A opinião dos árabes foi
expressa por Emile Ghoury, secretário do Supremo Comitê Árabe:

"É inconcebível que os refugiados fossem enviados de volta aos
seus lares enquanto estes estivessem ocupados pelos judeus, já
que os últimos poderiam tomá-los como reféns e maltratá-los.
Seria o mesmo que uma evasão de responsabilidade por parte
dos responsáveis, o que servirá como um primeiro passo para o
reconhecimento árabe do Estado de Israel e da partilha".52

Os árabes exigiram que as Nações Unidas afirmassem o "direito" dos palestinos
de retornar aos seus lares e não demonstraram qualquer disposição de aceitar
menos do que isso, até que sua derrota tornou-se óbvia. Os árabes, então,
reinterpretaram a Resolução 194 como se esta garantisse aos refugiados o
direito absoluto à repatriação e têm exigido que Israel aceite essa interpretação
desde então. Independentemente da interpretação, a Resolução 194, assim
como outras resoluções da Assembléia Geral, não é legalmente obrigatória.

"A exigência palestina do ‘direito ao retorno’ é totalmente irrealista
e deveria ser solucionada por meio de compensação financeira e
reassentamentos nos países árabes".
- Hosni Mubarak, presidente do Egito53


MITO
"Israel sabotou as negociações da
Comissão de Conciliação Palestina".


FATO
No início de 1949, a Comissão de Conciliação Palestina (CCP) abriu
negociações em Lausanne, na Suíça. Os árabes insistiram para que Israel
cedesse o território vencido na guerra de 1948 e aceitasse a repatriação. Os
israelenses disseram à comissão que a solução para o problema dos refugiados
dependia da conclusão de um acordo de paz.

Israel fez uma substancial oferta de repatriação durante essas negociações.
O governo disse que aceitaria cem mil refugiados dentro de um acordo geral
do problema. Israel esperava que cada país árabe assumisse um compromisso
semelhante. Essa oferta foi rejeitada.

Em 1o de abril de 1950, a Liga Árabe adotou uma resolução que proibia seus
membros de negociar com Israel.

A CCP fez um novo esforço para reunir as partes em 1951, mas finalmente
se deu por vencida e declarou:

"Os governos árabes... não estão plenamente preparados para
implementar o parágrafo 5 da dita resolução, que clama pelo
acordo final com respeito a todas as questões importantes entre
eles e Israel. Os governos árabes, em seus contatos com a
Comissão, não evidenciam qualquer disposição de chegar a um
acordo de paz com o governo de Israel".54


MITO
"Os palestinos que queriam retornar aos seus lares
não representavam perigo à segurança de Israel".


FATO
Quando foram feitos planos para o estabelecimento de um novo país no
início de 1948, os líderes judeus na Palestina esperavam que a nova nação
incluísse uma população árabe significativa. Da perspectiva israelense, foi
dada aos refugiados a oportunidade de permanecer em seus lares e fazer
parte do novo estado. Aproximadamente 160 mil árabes optaram por isso.
Repatriar os que haviam fugido seria, nas palavras do ministro das Relações
Exteriores, Moshé Sharett, uma "loucura suicida".55

No mundo árabe, os refugiados eram vistos como uma potencial quinta coluna
dentro de Israel, assim como escreveu um jornal libanês:

"O retorno dos refugiados criaria uma grande maioria árabe que
serviria como o meio mais efetivo de reviver o caráter árabe da
Palestina, ao mesmo tempo em que formaria uma poderosa
quinta-coluna para o dia da vingança e do acerto de contas".56

Os árabes acreditavam que o retorno dos refugiados virtualmente garantiria
a destruição de Israel, um sentimento expresso pelo ministro das Relações
Exteriores do Egito, Muhamad Salah al-Din: "É notório e claro que os árabes,
ao exigirem o retorno dos refugiados para a Palestina, entendem que estes
retornem como donos da pátria, e não como escravos. Está mais do que
claro que eles significam a liquidação do Estado de Israel." (Al Misri, 11 de
outubro de 1949)

A situação dos refugiados permaneceu inalterada após a Guerra de Suez. Na
verdade, até a retórica permaneceu a mesma. Em 1957, a Conferência sobre
os Refugiados em Homs, na Síria, aprovou uma resolução que declarava:

"Qualquer discussão sobre o problema palestino que não esteja
baseada na garantia do direito dos refugiados de aniquilar Israel
será vista como uma profanação do povo árabe e um ato de
traição". (Beirut al Massa, 15 de julho de 1957).

Pode-se traçar um paralelo com a época da Revolução Americana, durante a
qual muitos colonos leais à Inglaterra fugiram para o Canadá. Os britânicos
queriam que a recém-criada república permitisse que esses colonos
retornassem para reclamar suas propriedades. Benjamin Franklin rejeitou
essa sugestão numa carta ao negociador britânico Richard Oswald, de 26 de
novembro de 1782:

"Seus ministros exigem que recebamos novamente em nosso
meio aqueles que foram nossos mais amargos inimigos e
devolvamos propriedades àqueles que destruíram as nossas; e
isso enquanto as feridas que nos causaram ainda sangram!" 57


MITO
"Os refugiados palestinos foram
ignorados por um mundo indiferente".


FATO
A Assembléia Geral votou em seguida, em 19 de novembro de 1948, pelo
estabelecimento do Auxílio das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos
(UNRPR – United Nations Relief for Palestinian Refugees) para dar ajuda aos
refugiados. A UNRPR foi substituída, em 8 de dezembro de 1949, pela Agência
de Auxílio e Obras das Nações Unidas (UNRWA – United Nations Relief and
Works Agency) e recebeu um orçamento de US$ 50 milhões.

A UNRWA foi concebida para dar continuidade ao programa de ajuda iniciado
pela UNRPR, com as obras públicas substituindo a ajuda direta e promovendo
o desenvolvimento econômico. Os autores do plano previram que a ajuda
direta seria quase totalmente substituída por obras públicas, com a assistência
remanescente a ser fornecida pelos governos árabes.

Mas a UNRWA tinha poucas chances de êxito porque buscava resolver um
problema político valendo-se de um enfoque econômico. Em meados dos
anos 1950, ficou evidente que nem refugiados nem países árabes estavam
preparados para cooperar nos projetos de desenvolvimento em larga escala
previstos originalmente pela Agência como um modo de aliviar a situação
dos palestinos. Ambos não estavam dispostos a contribuir com qualquer
plano que pudesse ser interpretado como um fomento ao reassentamento.
Preferiram se prender à sua interpretação da Resolução 194 que, segundo
acreditavam, finalmente resultaria na repatriação.



MITO
"Os países árabes contribuem para a maior parte
dos fundos de auxílio aos refugiados palestinos".

FATO
Enquanto os refugiados judeus provenientes dos países árabes não tiveram
qualquer ajuda internacional, os palestinos receberam milhões de dólares
por intermédio da UNRWA. Inicialmente, os Estados Unidos contribuíram
com US$ 25 milhões e Israel com US$ 3 milhões. O total de garantias árabes
alcançou US$ 600 mil.

Durante os primeiros 20 anos, os Estados Unidos contribuíram com mais de
dois terços dos fundos, enquanto os países árabes continuaram contribuindo
com uma fração mínima. Israel doou mais fundos à UNRWA do que a maioria
dos países árabes. Os sauditas não igualaram a contribuição de Israel até
1973; Kuwait e Líbia, até 1980. Mais recentemente, em 1994, Israel deu
mais à UNRWA do que todos os países árabes, com exceção da Arábia Saudita,
Kuwait e Marrocos.

Os Estados Unidos ainda são, de longe, o maior contribuinte, doando US$ 90
milhões em 2000, 31% da receita de US$ 293 milhões obtida pela
organização. Enquanto isso, apesar de todo o seu apoio retórico aos palestinos,
os países árabes contribuíram apenas com 2% do orçamento da UNRWA.58

Após transferir a responsabilidade, virtualmente, a toda a população palestina
na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, para a Autoridade Palestina, Israel não
controla mais os acampamentos de refugiados e deixou de contribuir com a
UNRWA. Enquanto isso, além de receber contribuições anuais da UNRWA
para os refugiados, a Autoridade Palestina recebe bilhões de dólares em
auxílio internacional e, ainda assim, tem fracassado em construir uma única
casa que permita a pelo menos uma família mudar-se de um acampamento
de refugiados para uma moradia permanente. Dado o montante de auxílio
(US$ 5,5 bilhões desde 1993) que a Autoridade Palestina recebe, é chocante
e ultrajante que mais de meio milhão de palestinos estejam sendo obrigados
por seus próprios líderes a permanecer em acampamentos imundos.

MITO
"Os países árabes sempre receberam bem os
palestinos e fizeram o melhor para reassentá-los".

FATO
A Jordânia foi o único país árabe que recebeu os palestinos e lhes concedeu
cidadania (até hoje, a Jordânia é a única nação árabe onde os palestinos,
como grupo, podem se tornar cidadãos). O rei Abdula considerava palestinos
e jordanianos um só povo. Por volta de 1950, ele anexou a Cisjordânia e
proibiu o uso do termo Palestina em documentos oficiais.59

Embora os dados demográficos indicassem um amplo espaço para
reassentamento na Síria, Damasco se recusou a aceitar quaisquer refugiados,
exceto aqueles que pudessem recusar a repatriação. A Síria também desistiu
de reassentar 85 mil refugiados entre 1952 e 1954, embora tenham sido
oferecidos fundos internacionais para bancar o projeto. Também se esperava
que o Iraque aceitasse um grande contingente de refugiados, mas o país não
se mostrou receptivo. O Líbano insistiu que não tinha espaço para os
palestinos. Em 1950, a ONU tentou reassentar 150 mil refugiados de Gaza
na Líbia, mas a iniciativa foi refutada pelo Egito.

Após a guerra de 1948, o Egito passou a controlar a Faixa de Gaza e seus
mais de 200 mil habitantes, mas não permitia que os palestinos entrassem
no Egito ou fossem para qualquer outro lugar. A administração egípcia dos
palestinos de Gaza era tão ruim que a rádio saudita comparou o regime de
Nasser em Gaza ao de Hitler na Europa ocupada da Segunda Guerra Mundial.60

"Os países árabes não querem resolver o problema dos refugiados.
Pretendem mantê-lo como uma ferida aberta, uma afronta às
Nações Unidas e uma arma contra Israel. Os líderes árabes não
se importam se os refugiados estão vivos ou mortos".
- Ralf Garroway, ex-diretor da UNRWA,
em agosto de 1958.61

Em 1952, a UNRWA criou um fundo de US$ 200 milhões para dar casas e
empregos aos refugiados, mas o fundo permaneceu intocado. Pouco tem
mudado no decorrer dos anos. Os governos árabes freqüentemente oferecem
empregos, casas, terras e outros benefícios a árabes e não-árabes, porém
excluem os palestinos. Por exemplo, a Arábia Saudita decidiu não aproveitar
refugiados palestinos desempregados para aliviar sua escassez de mão-deobra
no fim da década de 1970 e início da de 1980. Em contrapartida,
milhares de sul-coreanos e outros asiáticos foram recrutados para preencher
os postos de trabalho.

A situação piorou ainda mais com o advento da Guerra do Golfo. O Kuwait,
que empregava um grande contingente de palestinos – embora lhes negasse
cidadania – expulsou mais de 300 mil deles. "Se há pessoas que constituem
uma ameaça à segurança, como país soberano temos o direito de excluir
qualquer um que não queiramos", declarou o embaixador do Kuwait nos
Estados Unidos, Saud Nasir Al-Sabá (Jerusalem Report, 27 de junho de 1991).
Atualmente, os refugiados palestinos no Líbano não gozam de benefícios sociais
e nem de direitos civis, tendo acesso muito restrito à educação e à saúde pública.

A maioria depende inteiramente da UNRWA como o único provedor de educação,
saúde, serviços e bem-estar social. Considerados estrangeiros, os refugiados
palestinos são proibidos por lei de trabalhar em mais de 70 negócios e profissões.62

Os refugiados palestinos consideravam a ONU responsável pela melhoria da
sua situação; todavia, muitos estavam insatisfeitos com o tratamento
dispensado por seus irmãos árabes. Alguns, como o líder nacionalista palestino
Musa Alami, se mostravam incrédulos: "É uma vergonha que os governos
árabes impeçam os refugiados árabes de trabalhar em seus países, lhes
fechem a porta na cara e os aprisione em acampamentos".63

Entretanto, a maioria dos refugiados focou seu descontentamento nos "sionistas", aos
quais preferiram culpar por sua situação.

MITO
"Milhões de palestinos estão
confinados em acampamentos imundos".

FATO
Em meados de 2003, o número de refugiados palestinos nos registros da
UNRWA havia alcançado 4,1 milhões, muitas vezes o número que deixou a
Palestina em 1948. Menos da terça parte dos refugiados palestinos registrados,
cerca de 1,2 milhão, vive em 59 acampamentos de refugiados reconhecidos
na Jordânia, no Líbano, na Síria, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os outros
dois terços de refugiados registrados vivem dentro e na periferia de grandes e
pequenas cidades dos países que os receberam, e em geral nas imediações dos
acampamentos oficiais na Cisjordânia e Faixa de Gaza.64


MITO
"Israel forçou os refugiados palestinos a
permanecer nos acampamentos da Faixa de Gaza".

FATO
Durante os anos em que Israel controlava a Faixa de Gaza, foi feito um esforço
consistente para que os palestinos pudessem viver em moradias permanentes.
Eles se opuseram à idéia porque os frustrados e amargurados habitantes dos
acampamentos serviram de mão-de-obra das diversas facções terroristas.

Além do mais, os países árabes pressionavam rotineiramente pela adoção
das resoluções das Nações Unidas que exigiam de Israel que desistisse da
remoção dos refugiados palestinos dos acampamentos de Gaza e Cisjordânia,
preferindo manter os palestinos ali como símbolos da "opressão" israelense.

Atualmente, os acampamentos estão nas mãos da Autoridade Palestina,
mas pouco tem sido feito para beneficiar essas pessoas. A jornalista Netty
Gross visitou Gaza e perguntou a um dirigente palestino o motivo pelo qual
não haviam desmantelado os acampamentos. Ele lhe disse que a Autoridade
Palestina havia adotado uma "decisão política" de nada fazer pelos agora
quase 500 mil palestinos que vivem nos acampamentos até que haja
conversações sobre o status final com Israel. (Jerusalem Report, 6 de julho
de 1998). Até hoje a Autoridade Palestina não investiu um centavo dos
bilhões de dólares que tem recebido em ajuda estrangeira para construir
moradias permanentes para os refugiados.

MITO
"Refugiados sempre são repatriados. Só os
palestinos são impedidos de retornar a seus lares".

FATO
Apesar da intransigência árabe, ninguém esperava que o problema dos
refugiados persistisse. John Blandford Jr., diretor da UNRWA, escreveu em
seu relatório de 29 de novembro de 1951 que esperava que os governos
árabes assumissem a responsabilidade pela ajuda a partir de 1952. Além
disso, enfatizou a necessidade de encerrar as operações de assistência:
"Operações sustentadas de assistência contêm inevitavelmente o germe da
deterioração humana".65 Na verdade, os palestinos são o único povo sem
Estado a ser tutelado pela comunidade internacional.

Outro país seriamente afetado pela guerra foi a Finlândia, forçada a abrir
mão de quase um oitavo de seu território e absorver mais de 400 mil refugiados
(11% da população nacional) vindos da União Soviética. Ao contrário de
Israel, estes eram os derrotados da guerra. Não houve qualquer ajuda para o
seu reassentamento.

Talvez uma analogia ainda melhor possa ser vista na integração, pela Turquia,
de 150 mil refugiados turcos provenientes da Bulgária, em 1950. A diferença
entre o tratamento dispensado pelos turcos a seus refugiados e o dos países
árabes aos palestinos foi a atitude dos respectivos governos.

O acordo para Israel pagar compensações aos palestinos que fugiram durante
1948 contrasta com o tratamento dispensado aos 12,5 milhões de alemães da
Polônia e Tcheco-Eslováquia que foram expulsos após a Segunda Guerra Mundial
e autorizados a levar somente os bens que pudessem carregar. Eles não
receberam qualquer compensação pelas propriedades confiscadas. Os efeitos
da Segunda Guerra Mundial nas fronteiras e na população polonesas foram
considerados "fatos consumados" que não foram revertidos após a guerra.

"A Turquia vem tendo um problema maior com refugiados do
que a Síria ou o Líbano e quase tão grande quanto o do Egito (...)
Contudo, raramente se ouve falar deles porque os turcos têm
feito um bom trabalho de reassentamento (...) A grande diferença
está no espírito. Os turcos, relutantes como estavam em aceitar
esse fardo, aceitaram-no como uma responsabilidade e passaram
a trabalhar para cumpri-lo o mais rapidamente possível".66

Caso os árabes quisessem aliviar o sofrimento dos refugiados, poderiam ter
adotado facilmente uma atitude semelhante à da Turquia.

A partilha entre Índia e Paquistão, em 1947, resultou em outro deslocamento
de população em massa. Os oito milhões de indianos que fugiram do Paquistão
e os seis milhões de muçulmanos que deixaram a Índia temiam se converter
em minorias dentro de seus respectivos países. Assim como os palestinos, quiseram
evitar ser surpreendidos em meio à violência que envolveu suas nações.

Todavia, em comparação com o conflito árabe-israelense, a troca de populações
foi considerada a melhor solução para o problema das relações comunitárias
entre ambos os países. Apesar do enorme contingente de refugiados e da
relativa pobreza das duas nações envolvidas, nenhuma organização
internacional de auxílio foi estabelecida para auxiliá-las no reassentamento.


"Se houvesse um Estado palestino, porque os líderes desejariam
que seus cidadãos em potencial fossem repatriados em outro
país? Sob a perspectiva da construção de uma nação, isso não faz
sentido. Na verdade, as discussões originais sobre repatriação
ocorreram numa época em que não havia esperança de criação
de um Estado palestino. Com a possibilidade de surgimento desse
país, os palestinos precisam decidir se querem se ver como um
país legítimo ou se é mais importante para eles manter seu
status autodefinido como refugiados oprimidos e sem pátria. Eles
absolu-tamente não podem ser as duas coisas".
- Fredelle Spiegel 67


MITO
"Se os refugiados tivessem sido repatriados,
o conflito árabe-israelense teria terminado".

FATO
Israel buscou consistentemente uma solução para o problema dos refugiados,
mas não poderia simplesmente concordar com o retorno de todos os palestinos.
Nenhuma nação, independentemente de seus acertos e erros,
poderia receber tanta gente. Seria uma quinta-coluna alimentada
pelo ódio durante 20 anos (em 1967) e inteiramente dedicada à
destruição de Israel. A readmissão dos refugiados seria equivalente
aos Estados Unidos receberem por volta de 70 milhões de inimigos
jurados do país.68

Enquanto isso, os árabes rejeitaram teimosamente negociar um acordo em
separado. O ponto crucial da questão foi falta de disposição dos países árabes
de aceitar a existência de Israel, exemplificado pelos atos beligerantes contra
o Estado judeu pelo presidente Nasser, do Egito, que nada tinham a ver com
os palestinos. Ele só estava interessado nos refugiados na medida em que
pudessem contribuir para seu objetivo final. Como ele mesmo disse a um
repórter em 1º de setembro de 1961: "Se os refugiados retornarem a Israel,
Israel deixa de existir".69


MITO
"Israel expulsou mais palestinos em 1967".

FATO
Após ignorar as advertências israelenses para ficar fora da guerra, o rei
Hussein lançou um ataque contra Jerusalém, capital de Israel. A UNRWA
calculou que, ao longo do combate, 175 mil dos seus refugiados registrados
fugiram pela segunda vez e 350 mil pela primeira. Aproximadamente 200 mil
foram para a Jordânia, 115 mil para a Síria e 35 mil saíram pelo Sinai em direção
ao Egito. A maior parte dos que partiram era proveniente da Cisjordânia.

Israel permitiu o retorno de alguns árabes da Cisjordânia. Em 1967, mais de
nove mil famílias foram reunificadas e, até 1971, Israel havia readmitido 40
mil refugiados. Em contrapartida, em julho de 1968 a Jordânia proibiu aqueles
que pretendiam permanecer na margem oriental do Jordão de emigrar de
Cisjordânia e Gaza.70

Quando o Conselho de Segurança delegou ao então secretário-geral da ONU,
U Thant, o envio de um representante para verificar o bem-estar dos civis
após o advento da guerra, este instruiu a missão no sentido de investigar o
tratamento das minorias judaicas nos países árabes, bem como dos árabes
nos territórios ocupados por Israel. Síria, Iraque e Egito se recusaram a permitir
que o repre-sentante da ONU levasse a sua investigação adiante.71

MITO
"A UNRWA é uma organização humanitária que
não tem qualquer responsabilidade pelo terror e
incitação originados nos acampamentos de refugiados".

FATO
O chefe do Escritório de Informação Pública da UNRWA, Paul McCann, afirmou
que "a UNRWA é escrupulosa na proteção de suas instalações contra o uso
indevido por qualquer pessoa ou grupo. Uma única vez, no Líbano, em 1982,
houve evidências dignas de crédito de tal uso indevido por palestinos e
lidamos com isso prontamente".72

O fato é que os acampamentos de refugiados têm sido há tempos ninhos de
terrorismo, mas as provas só foram divulgadas após Israel ter feito a Operação
Escudo de Defesa, no início de 2002. Descobriu-se que os acampamentos
administrados pela UNRWA na Cisjordânia tinham fábricas de armas de
pequeno porte, laboratórios de explosivos, depósitos de armamentos e um
grande contingente de homens-bomba e outros terroristas que usavam os
refugiados como escudos humanos.

O fracasso da UNRWA em denunciar ou impedir essas atividades viola as
próprias convenções das Nações Unidas. As resoluções do Conselho de
Segurança obrigam os representantes da UNRWA a dar "os passos apropriados
para ajudar a criar um ambiente seguro" em todas "as situações em que os
refugiados estejam (...) vulneráveis à infiltração de elementos armados".

Com relação à África, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan,
afirmou que os acampamentos de refugiados deveriam "ser mantidos livres
de qualquer presença ou equipamento militar, incluindo armas e munição".73
As mesmas regras se aplicam aos territórios em disputa.

As escolas sob a jurisdição da UNRWA também são problemáticas. A UNRWA
recebe crédito por ajudar na criação dos currículos palestinos que, entre
outras coisas, não mostram Israel em mapa algum. As escolas estão cheias
de pôsteres dedicados aos homens-bomba. Em 1998, o Departamento de
Estado dos EUA solicitou que a UNRWA investigasse denúncias de que o
material escolar da Autoridade Palestina continha referências anti-semitas.
Um livro ensinava que "traição e deslealdade são traços de caráter dos
judeus", mas a UNRWA disse que isso não era ofensivo porque descrevia
verdadeiros "eventos históricos". Por fim, o Departamento de Estado informou
ao Congresso que "a apresentação da UNRWA dava mostras de caracterizações
e conteúdo anti-semitas" nos livros escolares da Autoridade Palestina.74


Notas
1 Arieh Avneri. The Claim of Dispossession. New Jersey: Transaction Books, 1984, pág.
272; Kedar, Benjamin. The Changing Land Betwen the Jordan Sea. Israel: Yad Izhak
Ben-Zvi Press, 1999, pág. 206; Paul Johnson. A History of the Jews. New York:
Harper & Row, 1987, pág. 529.
2 Relatório do progresso do mediador das Nações Unidas na Palestina. Submetido ao
secretário-geral para transmissão aos membros das Nações Unidas. Registros Oficiais
da Assembléia Geral: 3a Sessão, Suplemento 11 (A/648), Paris, 1948, pág. 47, e Suplemento
11A (A/689 e A/689/Add.1, pág. 5; e Conclusões do Relatório do Progresso do
Mediador das Nações Unidas na Palestina (16 de setembro de 1948). Nações Unidas.
doc. A/648 (parte 1, pág. 29; parte 2, pág. 23 e parte 3, pág. 11) (18 de setembro de 1948).
3 New York Times (25 de novembro de 1947).
4 Avneri, pág. 276.
5 Jerusalem Post (4 de dezembro de 2003).
6 David Ben-Gurion. Rebirth and Destiny of Israel. New York: Philosophical Library,
1954, pág. 220.
7 Isi Liblier. The Case of Israel. Austrália: The Globe Press, 1972, pág. 43.
8 Joseph Schechman. The Refugee in the World. New York: A.S. Barnes and Co., 1963,
pág. 184.
9 I.F. Stone. This is Israel . New York: Boni and Gaer, 1948, pág. 27.
10 Ash Sha’ab (30 de janeiro de 1948).
11 As Sarih (30 de março de 1948).
12 Avneri, pág. 270.
13 London Daily Mail (12 de agosto de 1948).
14 New York Times (23 de abril de 1948).
15 Howard Sachar. A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time. New York:
Alfred A. Knopf, 1979, pág. 270; Alfred A. Knopf, 1979, pág. 332; Avneri, pág. 270.
16 Memorando secreto de 26 de abril de 1948, do superintendente de Polícia,
referente à situação geral em Haifa. Veja também seu memorando de 29 de abril.
16a Golda Meir (1898-1978). Nasceu na Ucrânia e emigrou para os Estados Unidos em
1906. Em 1921, já casada, foi para a Palestina, ainda sobre controle britânico. Atuou
em movimentos sionistas, participando ativamente da construção da nação judaica.
Foi ministra do Trabalho e das Relações Exteriores e primeira-ministra.
Renunciou em 1974, após a Guerra do Yom Kippur.
17 Golda Meir. My Life. New York: Dell, 1975, pág. 267-268.
18 New York Times (23 de abril de 1948).
19 1(24 de abril de 1948).
20 Schechman, pág. 190.
21 Relações Exteriores dos Estados Unidos, 1948, Vol. V. District of Columbia: GPO,
1976, pág. 838.
22 Tom Segev. 1949: The First Israelis. New York: The Free Press, 1986, pág. 27-28.
23 Igal Alon, em Sefer Hapalmach, citado em Larry Collins e Dominique Lapierre. O
Jerusalem! New York: Simon and Schuster, 1972, pág. 337; Igal Alon. My Father’s
House. New York: W.W. Norton and Company, Inc. 1976, pág. 192.
24 Benny Morris. Operation Dani and The Palestinian Exodus from Lydda and Ramle
in 1948, Middle East Journal (inverno de 1986), pág. 82-83.
25 Terence Prittie. Middle East Refugees, em Michael Curtis et al. The Palestinians.
New Jersey: Transaction Books, 1975, pág. 52.
26 Myron Kaufman. The Coming Destruction of Israel. New York: The American Library
Inc., 1970, pág. 26-27.
27 Edward Atiyah. The Arabs. Londres: Penguin Books, 1955, pág. 183.
28 The Memoirs of Haled al Azm. Beirute, 1973, Parte 1, pág. 386-387.
29 Samuel Katz. Battleground-Fact and Fantasy in Palestine. New York: Bantam Books,
1985, pág. 15.
30 King Abdallah. My Memoirs Completed. Londres, Longman Group, Ltd., 1978), pág.
16 (geralmente se escreve Abdula, mas está Abdala em suas memórias).
31 Schechman, pág. 186.
32 Yehoshofat Harkabi. Arab Attitudes to Israel. Jerusalém: Israel Universities Press,
1972, pág. 364.
33 Falastin a-Thaura (março de 1976).
34 Dayr Yasin, Universidade Bir Zeit.
35 Dan Kurzman. Genesis 1948. Ohio: New American Library, Inc., 1970, pág. 141.
36 Menahem Begin. The Revolt. New York: Nash Publishing, 1977, pág. 20-26, 162-163.
37 Veja, por exemplo, Amos Perlmutter. The Life and Times of Menahem Begin. New
York: Doubleday, 1987, pág. 214; J. Bowyer Bell. Terror Out of Zion. New York: St.
Martin’s Press, 1977, pág. 292-296; Kurzman, pág. 142.
38 Uri Milstein. History of Israel’s War of Independence, Vol. IV. Lanham: University
Press of America, 1999, pág. 262.
39 Milstein, pág. 262.
40 Kurzman, pág. 148.
41 Sharif Kanaana e Nihad Zitawi. Deir Iassin, Monografia 4, Projeto de Documentação
de Povoados Palestinos Destruídos. Bir Zeit: Centro de Documentação da
Universidade Bir Zeit, 1987, pág. 55.
42 Sharif Kanaana. Reinterpreting Deir Iassin. Universidade Bir Zeit (abril de 1998).
43 Milstein, pág. 267.
44 Rami Nashashibi. Deir Yasin. Universidade Bir Zeit (junho de 1996).
45 Testemunho de Yehoshua Gorodenchik em Jabotinsky Archives.
46 Milstein, pág. 276.
47 Israel and the Arabs: the 50 Year Conflict, BBC.
48 Sachar, pág. 335.
49 Schechtman, pág.268.
50 Prittie em Curtis, pág. 66-67.
51 New York Times (17 de julho de 1949).
52 Telegraph (Beirute) (6 de agosto de 1948), citado em Schechtman, pág. 210-211.
53 Jerusalem Post (26 de janeiro de 1989).
54 Suplemento 18 do Relatório da Comissão de Conciliação Palestina para os Registros
Oficiais da Sexta Sessão da Assembléia (A/1985), citado em Pablo Azcarate. Mission
in Palestine, 1948-1952. District of Columbia: Middle East Institute, 1996, pág. 177.
55 Moshe Sharett. Israel Positions and Problems. Middle Eastern Affairs (maio de 1952),
pág. 136.
56 Jornal libanês Al Said (16 de abril de 1950), citado em Prittie em Curtis, pág. 69.
57 The Writings of Benjamin Franklin. New York: The Macmillan Company, 1905, pág. 626.
58 Relatório do Comissário-Geral da Agência de Auxílio e Trabalho das Nações
Unidas (UNRWA) para os Refugiados Palestinos no Oriente Próximo, 1 de julho de
2000 a 30 junho de 2001.
59 Discurso no Parlamento, 24 de abril de 1950, Abdallah Memoirs, pág. 13; Aaron Miller.
The Arab States and the Palestine Question. District of Columbia: Center for
Strategic and International Studies, 1986, pág. 29.
60 Leibler, pág. 48.
61 Prittie em Curtis, pág. 55.
62 UNRWA.
63 Musa Alami. The Lesson of Palestine. Middle East Journal (outubro de 1949), pág. 386.
64 UNRWA.
65 Schechtman, pág. 220.
66 Des Moines Register, editorial (16 de janeiro de 1952).
67 Jerusalem Report (26 de março de 2001).
68 New York Times, editorial (14 de maio de 1967).
69 Leibler, pág. 45.
70 UNRWA Annual Reports (1 de julho de 1966 a 30 de junho de 1967), pág. 11-19;
(1 de julho de 1967 a 30 de junho de 1968), pág. 4-10; (1 de julho de 1968 a 30
de junho de 1969), pág. 6; (1 de julho de 1971 a 30 de junho de 1972), pág. 3.
71 Maurice Romani. The Case of The Jews from the Arab Countries: A Neglected Issue.
Tel-Aviv: World Organization of Jews from Arab Countries, 1977, pág. 34.
72 Paul McCann, carta ao editor do The Weekly Standard (28 de maio de 2002).
73 Isabel Kershner, "The Refugees Choice?, Jerusalem Report (12 de agosto de 2002), pág. 24.
74 David Tell, resposta a McCann, The Weekly Standard (28 de maio de 2002).

Nenhum comentário: