"Um milhão de palestinos foram
expulsos por Israel entre 1947 e 1949".
FATO
Os palestinos deixaram seus lares entre 1947 e 1949 por uma série de
razões. Prevendo uma guerra, milhares de árabes ricos se foram, outros
milhares foram convencidos por seus líderes a saírem do caminho dos
exércitos invasores e alguns foram expulsos de casa. A maioria simplesmente
fugiu para não ficar no fogo cruzado de uma batalha.
Muitos árabes afirmam que entre 800 mil e um milhão de palestinos
tornaram-se refugiados entre 1947 e 1949. O último censo feito pelos
britânicos, em 1945, encontrou 1,2 milhão de árabes residentes permanentes
na Palestina. Um censo do governo de Israel de 1949 contou 160 mil árabes
vivendo no país após a guerra. Em 1947, 809.100 árabes viviam na mesma
área.1 Isso significa que não mais que 650 mil árabes palestinos poderiam ter
se tornado refugiados. Um relatório do mediador das Nações Unidas para a
Palestina chegou a um número ainda menor (472 mil) e calculou que apenas
360 mil refugiados árabes necessitavam de auxílio.2
Embora tenha se ouvido falar muita coisa sobre a situação dos refugiados
palestinos, pouco se diz sobre os judeus que fugiram dos países árabes. Durante
os debates das Nações Unidas em 1947, os líderes árabes os ameaçaram. Por
exemplo, o delegado do Egito afirmou na Assembléia Geral: "A vida de um milhão
de judeus nos países muçulmanos seria posta em perigo com a partilha".3
O número de judeus que fugiram dos países árabes nos anos que se seguiram
à independência de Israel foi quase o dobro do de árabes que deixaram a
Palestina. Muitos judeus só tiveram permissão para levar pouco mais do que
a roupa do corpo. Esses refugiados não desejavam ser repatriados. Pouco se
sabe deles porque não permaneceram como refugiados por muito tempo.
Dos 820 mil refugiados judeus entre 1948 e 1972, 586 mil foram reassentados
em Israel a um custo muito alto e sem qualquer compensação dos
governos árabes que confiscaram seus patrimônios.4 Em conseqüência disso,
Israel sustenta que qualquer acordo para compensar os refugiados palestinos
também deve incluir a compensação árabe pelos refugiados judeus. Até
agora os países árabes têm se recusado a pagar qualquer quantia às centenas
de milhares de judeus que foram obrigados a abandonar suas propriedades
naqueles países. Até novembro de 2003, 101 das 681 resoluções da ONU
sobre o conflito do Oriente Médio referiram-se diretamente aos refugiados
palestinos. Nenhuma mencionou os refugiados judeus dos países árabes.5
O contraste entre a recepção a refugiados judeus e palestinos é ainda maior
quando se leva em conta a diferença no deslocamento cultural e geográfico
experimentado pelos dois grupos. A maioria dos refugiados judeus viajou
centenas – alguns viajaram milhares – de quilômetros até um pequeno país
cujos habitantes falavam um língua diferente. A maioria dos refugiados
árabes jamais saiu de fato da Palestina; eles viajaram uns poucos quilômetros
até o outro lado da linha de armistício, permanecendo dentro da vasta nação
árabe da qual são parte lingüística, cultural e étnica.
MITO
"Os judeus deixaram claro, desde o início, que não
tinham intenção de viver em paz com seus vizinhos árabes".
FATO
Em numerosas ocasiões, os líderes judeus aconselharam os árabes a
permanecer na Palestina e a se tornarem cidadãos de Israel. A Assembléia
dos Judeus Palestinos apresentou esse apelo em 2 de outubro de 1947:
"Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para manter a paz
e estabelecer uma cooperação benéfica a ambos (judeus e árabes).
É agora, aqui e agora, a partir de Jerusalém, que deve partir um
chamado às nações árabes para unir forças com os judeus e o
futuro Estado judeu e trabalhar lado a lado por nosso bem comum,
pela paz e pelo progresso de soberanias equivalentes."6
Em dia 30 de novembro, dia seguinte à aprovação da partilha na ONU, a
Agência Judaica anunciou: "Por trás das celebrações espontâneas que
estamos testemunhando hoje está o desejo de nossa comunidade de buscar
a paz e sua determinação de alcançar uma cooperação frutífera com os
árabes..." 7
A proclamação da independência de Israel, em 14 de maio de 1948, também
convidou os palestinos a permanecer em seus lares e a se tornar cidadãos
em igualdade de condições no novo país:
"Em meio a uma agressão gratuita, não obstante, clamamos aos
habitantes árabes do Estado de Israel a preservar os caminhos
para a paz e fazer a sua parte no desenvolvimento do país, com
base numa cidadania plena e igualitária e por intermédio de
representatividade em todos os organismos e instituições...
Estendemos nossas mãos num gesto de paz e boa vizinhança a
todos os países vizinhos e a seus povos e os convidamos a cooperar
com a nação judaica independente pelo bem comum de todos".
MITO
"Os judeus criaram o problema dos
refugiados ao expulsar os palestinos".
FATO
Se os árabes tivessem aceitado a resolução da ONU de 1947, nenhum
palestino teria se tornado refugiado e existiria agora um país árabe
independente ao lado de Israel. A responsabilidade pelo problema dos
refugiados é dos árabes. O êxodo árabe começou nas semanas seguintes ao
anúncio da partilha do território pelas ONU. Os primeiros a deixar o país
foram 30 mil árabes ricos que previram a guerra iminente e fugiram para os
países vizinhos para esperar o fim das batalhas. Os menos abastados de
cidades mistas da Palestina se mudaram para outras totalmente árabes e
foram morar com parentes e amigos. (8) No fim de janeiro de 1948, o êxodo
era tão alarmante que o Supremo Comitê da Palestina Árabe pediu aos países
árabes vizinhos que se recusassem a fornecer vistos de entrada a esses
refugiados e lhes fechassem suas fronteiras.9
Em 30 de janeiro de 1948, o jornal Ash Sha’ab, da cidade de Iafo, publicou:
"Os desertores abandonam suas casas e seus negócios e vão viver em outro
lugar qualquer... Ao primeiro sinal de problemas, colocam o pé na estrada
para não compartilhar o fardo da luta".10
Outro jornal de Iafo, As Sarih (30 de março de 1948), criticou os habitantes
dos povoados árabes próximos a Tel-Aviv por "trazerem desgraça a todos nós
ao abandonar os povoados".11
Enquanto isso, um líder do Comitê Nacional Árabe em Haifa, Hajj Nimer el-
Khatib, afirmou que soldados árabes em Iafo estavam maltratando os
residentes. "Eles roubavam pessoas e lares. A vida tinha pouco valor e a
honra das mulheres era manchada. Esse estado de coisas levou muitos
residentes (árabes) a deixarem a cidade sob proteção de tanques britânicos".12
John Bagot Glubb, comandante da Legião Árabe da Jordânia, afirmou: "Com
freqüência, os povoados eram abandonados ainda antes de serem ameaçados
pelo avanço da guerra".13
As reportagens da época não mencionaram qualquer caso de expulsão de
árabes pelas forças judaicas. Referem-se aos árabes sempre como pessoas
que estavam fugindo. Enquanto os sionistas são acusados de "expulsar e
desapropriar" os habitantes árabes de cidades como Tiberíades e Haifa, a
verdade é bem diferente. De acordo com o plano de partilha das Nações
Unidas, as duas cidades estavam dentro das fronteiras do Estado judeu e
tanto judeus como árabes lutaram por elas. As forças judaicas tomaram
Tiberíades em 19 de abril de 1948 e toda a população de seis mil árabes foi
retirada sob supervisão militar britânica. Posteriormente, o Conselho da
Comunidade Judaica publicou a seguinte declaração: "Não os desapropriamos;
eles mesmos optaram por isso (...) Que nenhum cidadão toque em suas
propriedades".14
No início de abril, 25 mil árabes deixaram a região de Haifa após uma ofensiva
das forças irregulares lideradas por Fawzi al-Cawukji, ao ouvirem rumores de
que aviões árabes estavam prestes a bombardear as áreas judaicas ao redor
do Monte Carmelo.15 Em 23 de abril, a Haganá (força de defesa de Israel)
tomou Haifa. Um relatório da polícia britânica de Haifa, datado de 26 de abril,
explicava que "todo esforço está sendo feito pelos judeus para persuadir a
população árabe a permanecer e a seguir seu ritmo de vida normal, manter
suas lojas e seus negócios abertos com a garantia de que suas vidas e
interesses estarão a salvo".16
De fato, David Ben-Gurion enviou Golda Meir16a a Haifa para tentar persuadir
os árabes a ficar, mas ela foi incapaz de convencê-los porque estavam com
medo de serem considerados traidores da causa árabe.17 No fim da batalha,
mais de 50 mil palestinos haviam partido.
Em Tiberíades e Haifa, a Haganá ordenou que não se poderia tocar em qualquer
patrimônio dos árabes e advertiu que quem quer que violasse as ordens seria
severamente punido. Apesar desses esforços, entre cinco mil e seis mil árabes
deixaram Haifa, muitos deles transportados por veículos militares britânicos.
O delegado da Síria nas Nações Unidas, Faris el-Khouri, interrompeu o debate
sobre a Palestina para descrever a tomada de Haifa como um massacre e
afirmou que essa ação era "ainda mais uma evidência de que, no caso de se
efetuar a partilha, o ‘programa sionista’ consistia em aniquilar os árabes que
estão dentro do Estado judeu".18
Entretanto, no dia seguinte, o representante britânico nas Nações Unidas,
sir Alexander Cadogan, afirmou aos delegados que o combate em Haifa
havia sido provocado pelos ataques intermitentes de árabes contra judeus
alguns dias antes e que os relatos de massacres e deportações não condiziam
com a verdade.19
"Dezenas de milhares de árabes, homens, mulheres e crianças,
fugiram para os subúrbios orientais da cidade em automóveis,
caminhões, carretas e a pé, em uma tentativa desesperada de
alcançar um território árabe antes que os judeus tomassem a
Ponte de Rushmiya e os impedissem de chegar a Samaria e ao
norte da Palestina. Milhares se apressaram a tomar toda
embarcação disponível – inclusive barcos a remo a fim de escapar
para a cidade de Acre".
- New York Times Times, (23 de abril de 1948).
Neste mesmo dia (23/4), Jamal Husseini, presidente do Supremo Comitê
Palestino, disse no Conselho de Segurança das Nações Unidas que, em vez
de aceitar a oferta de trégua da Haganá, os árabes "preferiram abandonar
suas casas, pertences e tudo o que possuíam no mundo e deixar a cidade".20
O cônsul-geral dos EUA em Haifa, Aubrey Lippincott, escreveu em 22 de
abril de 1948 que "os líderes árabes locais dominados pelo Mufti" estavam
exortando "todos os árabes a abandonarem a cidade, e um grande contingente
deles assim o fez".21
Uma ordem do exército emitida em 6 de julho de 1948 deixava claro que as
cidades e povoados árabes não seriam demolidos ou queimados, tampouco
os habitantes árabes seriam expulsos de seus lares.22 De fato, a Haganá
empreendeu uma guerra psicológica para estimular os árabes a abandonarem
alguns povoados. Igal Alon, comandante da Palmach (a tropa de choque da
Haganá), admitiu que os árabes de povoados vizinhos foram convencidos a
sair porque um grande exército judeu estava na Galiléia com a intenção de
atear fogo nos povoados árabes, na região do Lago Hula. Eles disseram aos
árabes para que partissem enquanto era tempo e, segundo Alon, foi isso
exatamente o que fizeram.23
No exemplo mais dramático, na área de Ramle-Lod, soldados israelenses que
tentavam proteger seus flancos e aliviar a pressão sobre Jerusalém sitiada
forçaram parte da população árabe a se deslocar para uma área a alguns
quilômetros de distância, que estava ocupada pela Legião Árabe. "As duas
cidades serviram como bases para unidades árabes irregulares que atacavam
freqüentemente comboios e assentamentos judeus nas proximidades,
barrando efetivamente a passagem de judeus pela rodovia principal para
Jerusalém".24
Como ficou claro nas reportagens sobre o que ocorrera nas cidades que
concentravam as maiores populações árabes, esses casos foram excepcionais
e resultaram numa pequena fração dos refugiados palestinos.
MITO
"A invasão árabe teve pouco impacto sobre os palestinos".
FATO
Assim que começou a invasão, em maio de 1948, a maioria dos árabes
remanescentes na Palestina partiu para países vizinhos. Surpreendentemente,
em vez de agir como uma "quinta-coluna" estrategicamente valiosa
para combater os judeus desde Israel, os palestinos optaram por buscar a
segurança em países árabes, confiantes de poder retornar em breve. Um
líder nacionalista palestino da época, Musa Alami, revelou a atitude dos
árabes que fugiam:
perderam tudo. Todavia, permaneceu uma sólida esperança: os
exércitos árabes estariam prestes a entrar na Palestina para salvar
o país, fazendo com que as coisas retomassem o seu curso normal;
iriam punir o agressor e lançar o sionismo opressivo, com seus
sonhos e perigos, ao mar. Em 14 de maio de 1948, uma multidão
de árabes estava nas estradas que conduziam às fronteiras da
Palestina, saudando com entusiasmo os exércitos que avançavam.
Passaram-se dias e semanas suficientes para o cumprimento da
sagrada missão, mas os exércitos árabes não salvaram o país.
Pelo contrário, perderam as cidades de Acre, Sarafand, Lyda,
Ramle e Nazaré, a maior parte do sul e o restante do norte. Então,
a esperança se foi." (Middle East Journal, outubro de 1949)
Assim que as batalhas chegaram às áreas antes tranqüilas, os árabes passaram
a vislumbrar a possibilidade da derrota. Quando isso se converteu em realidade,
o êxodo aumentou – mais de 300 mil partiram depois de 15 de maio – e 160
mil árabes ficaram no Estado de Israel.25
Embora a maior parte dos árabes tivesse partido em novembro de 1948,
houve aqueles que optaram por ir embora mesmo após o fim das hostilidades.
Um caso interessante foi a retirada de três mil árabes de Faluja, um povoado
situado entre Tel-Aviv e Beer Sheva:
"Observadores acreditam que, com uma orientação adequada
após o armistício israelense-egípcio, a população árabe poderia
ter permanecido numa situação privilegiada. Eles declaram que o
governo israelense lhes deu garantias de segurança pessoal e de
propriedade. Entretanto, nenhum esforço foi feito pelo Egito, pela
Transjordânia e nem mesmo pela Comissão de Conciliação para
a Palestina, das Nações Unidas, para orientar os árabes de Faluja em
uma direção ou outra". (New York Times, 4 de março de 1949)
MITO
"Os líderes árabes jamais estimularam os palestinos a fugir".
FATO
Há uma enormidade de provas demonstrando que os palestinos foram estimulados
a deixar seus lares para abrir caminho aos exércitos árabes invasores.
"O problema (dos refugiados) é conseqüência direta da guerra
que os palestinos – e os países árabes ao redor – têm lançado".
- Benny Morris, historiador israelense
A revista The Economist, crítica freqüente dos sionistas, publicou em 2 de
outubro de 1948: "De 62 mil árabes que antes viviam em Haifa, não há mais
do que cinco mil ou seis mil. Diversos fatores influenciaram sua decisão de
buscar segurança na fuga. Há poucas dúvidas de que os fatores mais fortes
foram os anúncios feitos via rádio pelo Supremo Executivo Árabe, exortando
os árabes a partir... Era dito claramente que os árabes que permanecessem
em Haifa e aceitassem a proteção dos judeus seriam considerados renegados".
A reportagem da batalha por Haifa pela revista Time (3 de maio de 1948) foi
semelhante: "A retirada em massa, provocada em parte por medo, em parte
por ordens dos líderes árabes, converteu o bairro árabe de Haifa numa cidade
fantasma... Com a retirada dos trabalhadores árabes, seus líderes esperavam
paralisar Haifa".
Benny Morris, o historiador que documentou esses acontecimentos, descobriu
que os líderes árabes estimulavam seus correligionários a partir. O Comitê
Nacional Árabe de Jerusalém, seguindo instruções do Supremo Comitê Árabe
de 8 de março de 1948, ordenou que mulheres, crianças e idosos de diversas
partes de Jerusalém abandonassem suas casas: "Qualquer oposição a esta
ordem (...) é um obstáculo à guerra santa (...) e impedirá as operações dos
combatentes nesses distritos" (Middle Eastern Studies, janeiro de 1986).
Morris contou também que, no início de maio, unidades da Legião Árabe
haviam ordenado a saída de todas as mulheres e crianças da cidade de
Beisan. O Exército de Libertação Árabe também informou que ordenara a
evacuação de outro povoado ao sul de Haifa. Segundo Morris, a saída de
mulheres e crianças tinha o objetivo de "causar desânimo nos homens que
haviam sido deixados para trás, a fim de guardar os lares e campos,
contribuindo, em última instância, para a evacuação final dos povoados.
Esse tipo de retirada em duas fases – mulheres e crianças primeiro; os
homens em seguida, semanas depois – ocorreu em Cumía, no Vale de Izreêl,
entre os beduínos de Awarna, na Baía de Haifa e em diversos outros lugares".
Quem deu essas ordens? Líderes como o primeiro-ministro iraquiano Nuri
Said, que declarou: "Esmagaremos o país com nossas armas e arrasaremos
qualquer lugar onde os judeus procurem refúgio. Os árabes devem levar
suas mulheres e filhos para locais seguros até que o combate tenha terminado".26
Edward Atiyah, secretário do Escritório da Liga Árabe em Londres, escreveu
em seu livro Os árabes: "Esse êxodo em massa ocorreu em parte incentivado
pela imprensa árabe, em parte por declarações irresponsáveis de alguns
líderes árabes, garantindo que seria apenas uma questão de semanas para
que os judeus fossem derrotados pelos exércitos dos países árabes e os
palestinos pudessem retornar e recobrar a posse do seu país".27
Em suas memórias, Haled al Azm, o primeiro-ministro sírio em
1948-49, também admitiu o papel dos árabes na tarefa de
persuadir os refugiados a partir:
"Desde 1948 estamos exigindoo retorno dos refugiados a seus lares. No entanto,
somos os primeiros a estimulá-los a partir. Apenas uns poucos meses
separaram a convocação que lhes fizemos para partir e o nosso
apelo às Nações Unidas para deliberar sobre o seu retorno".28
"Os refugiados acreditavam que sua ausência não duraria muito e que
estariam de volta em uma ou duas semanas", declarou o monsenhor George
Hakim, um bispo da Igreja Católica Ortodoxa Grega da Galiléia, ao jornal de
Beirute Sada al-Janub (16 de agosto de 1948). "Seus líderes lhes prometeram
que os exércitos árabes esmagariam as ‘gangues sionistas’ rapidamente e
que não havia qualquer motivo para pânico ou temor de um longo exílio".
Em 3 de abril de 1949, a Estação de Transmissão do Oriente Próximo (Chipre)
afirmou: "Não se deve esquecer que o Supremo Comitê Árabe estimulou a
fuga dos refugiados de seus lares em Iafo, Haifa e Jerusalém".29
"Os países árabes estimularam os palestinos a abandonar seus lares
temporariamente a fim de abrir caminho para os exércitos árabes invasores",
conforme o jornal jordaniano Filastin (19 de fevereiro de 1949).
Um refugiado citado no jornal jordaniano Ad Difaa (6 de setembro de 1954)
afirmou: "O governo árabe nos disse: ‘Saiam para que possamos entrar’. Por
isso saímos, mas eles não entraram".
"O secretário-geral da Liga Árabe, Azam Pasha, garantiu aos povos árabes
que a ocupação da Palestina e de Tel-Aviv seria tão simples quanto um
desfile militar", afirmou Habib Issa ao jornal libanês nova-iorquino Al Hoda
(8 de junho de 1951). "Ele salientou que eles já estavam nas fronteiras e
todos os milhões que os judeus haviam investido nas terras e no
desenvolvimento econômico seriam facilmente espoliados, pois seria uma
simples questão de lançá-los judeus no Mediterrâneo (...) Os árabes da
Palestina foram aconselhados fraternalmente a deixar sua terra, lares e
propriedades e se estabelecer temporariamente nos países-irmãos vizinhos,
para não deixar que as armas dos exércitos árabes invasores os arrasassem".
O temor dos árabes foi naturalmente exacerbado por relatos fabricados de atrocidades
judaicas após o ataque a Deir Iassin. A população nativa carecia de líderes
que pudessem acalmá-los; seus porta-vozes, como o Supremo Comitê Árabe,
operavam em segurança desde países vizinhos e preferiam mais elevar seus
temores que aplacá-los. Os líderes militares locais ofereciam pouco ou nenhum
conforto. Numa dada situação, o comandante das tropas árabes em Safed foi
a Damasco. No dia seguinte, seus soldados se retiraram da cidade. Quando os
residentes se deram conta de que estavam indefesos, fugiram em pânico.30
Segundo o doutor Walid al-Camhawi, ex-membro do Comitê Executivo da OLP,
"foi o medo coletivo, a desintegração moral e o caos generalizado que levaram
os árabes de Tiberíades, Haifa e de dezenas de cidades e povoados ao exílio".31
Enquanto o pânico se espalhava pela Palestina, a gota inicial de refugiados se
converteu numa inundação cujos números alcançaram mais de 200 mil na
época em que o governo provisório declarou a independência do Estado de
Israel. Até mesmo o rei Abdula da Jordânia, ao escrever suas memórias, culpou
os líderes palestinos pelo problema dos refugiados: "A tragédia dos palestinos
foi que a maioria dos seus líderes os deixou paralisados com promessas, falsas
e infundadas, de que não estavam sós; que 80 milhões de árabes e 400
milhões de muçulmanos viriam instantânea e milagrosamente resgatá-los".32
"Os exércitos árabes entraram na Palestina para proteger os
palestinos da tirania sionista; todavia, ao invés disso, eles os
abandonaram, forçando-os a emigrar e deixar sua terra natal, e
os lançaram em prisões semelhantes aos guetos nos quais os
judeus costumavam viver".
- Mahmud Abbas ("Abu Mazen"),
ex-primeiro-ministro da Autoridade Palestina33
MITO
"Os palestinos tiveram que fugir para não ser
massacrados como os habitantes do povoado de Deir Iassin".
FATO
As Nações Unidas decidiram que Jerusalém seria uma cidade internacional
à parte dos países, árabe e judeu, demarcados na resolução da partilha. Os
150 mil habitantes judeus estavam sob constante pressão militar; os 2.500
judeus que viviam na Cidade Velha eram vítimas de um bloqueio árabe que
durou cinco meses antes de ser obrigado a se render em 29 de maio de 1948.
Antes da rendição e ao longo do período em que Jerusalém esteve sitiada,
comboios judeus tentavam chegar à cidade para aliviar a escassez de alimentos
que, em abril, havia se tornado crítica.
Enquanto isso, as forças árabes, que haviam se empenhado em emboscadas
esporádicas e desorganizadas desde dezembro de 1947, passaram a fazer
um esforço organizado para interromper a passagem pela rodovia que liga
Tel-Aviv a Jerusalém – a única rota de suprimentos da cidade. Os árabes
controlavam vários pontos estratégicos, o que lhes permitia ter uma ampla
visão da rodovia e atirar sobre os comboios que tentavam chegar à cidade
sitiada com suprimentos. Deir Iassin, situada numa colina de 800 metros de
altura, onde havia uma visão panorâmica dos arredores, localizava-se a
menos de 1,6 km dos subúrbios de Jerusalém e tinha 750 habitantes.34
Em 6 de abril foi lançada a Operação Nachshón, cujo objetivo era abrir a rodovia
para Jerusalém. Deir Iassin foi incluído na lista de aldeias árabes a serem
ocupadas como parte da operação. No dia seguinte, o comandante David
Shaltiel, da Haganá, escreveu aos líderes do Lechi e Irgun:
"Soube que vocês planejam um ataque a Deir Iassin. Gostaria de
destacar que a captura desse povoado e das adjacências é um
estágio do nosso plano geral. Não me oponho que levem a
operação adiante, desde que estejam aptos a manter o povoado.
Caso não sejam capazes disso, advirto: não explodam a aldeia,
senão os moradores irão abandoná-la e, depois, as ruínas e as
casas desertas serão ocupadas por forças estrangeiras..." Além
do mais, se essas tomarem posse do povoado, isso frustrará nosso
plano de construir uma pista de aviação".35
O Irgun (Irgun Tsevai Leumi – Organização Militar Nacional) decidiu atacar
Deir Iassin em 9 de abril, enquanto a Haganá ainda estava envolvida na
batalha por Castel. Esse foi o primeiro grande ataque do Irgun contra os
árabes. Antes, o Irgun e o Lechi (Lochamê Cherut Israel – Combatentes
pela Liberdade de Israel) haviam concentrado seus ataques contra os
britânicos.
Segundo o líder do Irgun, Menahem Begin, o ataque foi feito por cem
integrantes da organização; outros autores dizem que havia algo como 132
homens de ambos os grupos. Begin declarou que um pequeno caminhão
aberto, equipado com um alto-falante, foi conduzido até a entrada do povoado
antes do ataque e transmitiu uma advertência aos civis para que evacuassem
a área, o que muitos fizeram.36 A maioria dos autores afirma que essa
advertência nunca foi feita, pois o caminhão com o alto-falante caiu numa
vala antes que pudesse transmitir o aviso.37 Um dos combatentes afirmou
que a vala estava tampada e que o caminhão seguiu caminho até o povoado.
"Um de nós falou em árabe pelo alto-falante, dizendo aos habitantes para
que depusessem suas armas e fugissem. Não sei se eles ouviram, e sei que
esses apelos não surtiram efeito".38
Ao contrário de relatos posteriores, segundo os quais o povoado estava repleto
de pessoas inocentes e pacíficas, residentes e soldados estrangeiros abriram
fogo contra os atacantes. Um dos combatentes descreveu sua experiência:
"Minha unidade invadiu e alcançou a primeira fileira de casas.
Estava entre os primeiros a entrar no povoado. Havia uns poucos
rapazes comigo, cada um incentivando os demais a avançar. No
alto da rua vi um homem com roupas cáqui correndo adiante.
Pensei que fosse um dos nossos. Corri atrás e lhe disse: "Avance
até aquela casa". De repente ele se virou, apontou-me o seu rifle
e disparou. Era um soldado iraquiano. Fui ferido no pé".39
A batalha foi feroz e durou várias horas. O Irgun sofreu 41 baixas, incluindo
quatro mortos. Surpreendentemente, após o "massacre", o Irgun acompanhou
um representante da Cruz Vermelha pelo povoado e concedeu uma entrevista
coletiva. A descrição posterior da batalha, feita pelo New York Times, foi
essencialmente a mesma de Begin. O Times disse que mais de 200 árabes
foram mortos, 40 capturados e 70 mulheres e crianças libertadas. Nenhuma
indicação de massacre apareceu na reportagem.
"De maneira paradoxal, os judeus dizem que aproximadamente 250 dos 400
habitantes do povoado foram mortos, enquanto os árabes sobreviventes
dizem que foram somente 110 de mil".40 Um estudo da Universidade Bir Zeit,
baseado em conversas com cada família do povoado, apontou 107 árabes
civis mortos e 12 feridos, além de 13 "combatentes", provando que o número
de mortos foi menor do que se dizia e que o povoado tinha de fato tropas
estacionadas ali.41 Posteriormente, outras fontes árabes sugeriram que o
número pode ter sido ainda menor".42
Na realidade, os atacantes deixaram aberto, a partir da aldeia, um corredor
de fuga e mais de 200 residentes saíram ilesos. Por exemplo, às 9h30, por
volta de cinco horas após o início do combate, o Lechi evacuou 40 idosos,
mulheres e crianças em caminhões e os levou para uma base em Sheik
Bader. Mais tarde, os árabes foram levados a Jerusalém Oriental. Vê-los em
poder dos judeus também ajudou a levantar o moral dos habitantes de
Jerusalém, que estavam desanimados com os reveses nos combates até
aquele momento.43 Outra fonte afirma que 70 mulheres e crianças foram
retiradas e entregues aos britânicos.44 Caso a intenção tivesse sido massacrar
os habitantes, ninguém teria sido retirado de casa.
Depois que os árabes remanescentes fingiram se render e, então, passaram
a atirar contra os soldados judeus, alguns destes mataram soldados e civis
árabes indiscriminadamente. Nenhuma das fontes especifica quantas
mulheres e crianças foram mortas (a reportagem do Times fala em
aproximadamente metade das vítimas; o número inicial de baixas foi obtido
a partir de fontes do Irgun).
Pelo menos uma parte das mulheres mortas se converteu em alvo porque
alguns homens tentaram se passar por mulheres. Por exemplo, o comandante
do Irgun relatou que os atacantes "encontraram homens vestidos como
mulheres e, por isso, passaram a atirar nas mulheres que não se apressavam
em descer para o local designado a reunir os prisioneiros".45 Outro membro da
Haganá contou o que ouviu de um grupo de árabes de Deir Iassin que diziam:
"Os judeus descobriram que alguns combatentes árabes haviam se disfarçado
de mulher. Eles então passaram a examinar também as mulheres. Um dos
homens que estava sendo examinado, ao perceber que fora descoberto, sacou
um revólver e disparou contra o comandante judeu, cujos amigos, enfurecidos,
dispararam em todas as direções e mataram os árabes que estavam na área".46
Ao contrário do que alegavam os propagandistas árabes da época, e desde
então, jamais foram apresentadas provas de que alguma mulher tenha sido
violentada. Pelo contrário, todo aldeão entrevistado negou tais alegações.
Assim como muitas das denúncias, isso era deliberadamente um golpe baixo
de propaganda, mas o tiro saiu pela culatra. Hazam Nusseibi, que em 1948
trabalhava para o Serviço de Transmissão Palestino, admitiu ter recebido um
pedido de Hussein Khalidi, um líder árabe palestino, para fabricar denúncias
de atrocidades. Abu Mahmud, então residente de Deir Iassin, disse a Khalidi
que "não houve estupro", mas este respondeu: "Temos que dizer isso para
que os exércitos árabes venham libertar a Palestina dos judeus".
Cinquenta anos depois, Nusseibe contou à BBC: "Esse foi o nosso maior erro. Não
sabíamos como nosso povo reagiria. Assim que ouviram dizer que as mulheres
haviam sido violentadas em Deir Iassin, os palestinos fugiram aterrorizados".47
Ao tomar ciência do ataque, a Agência Judaica expressou imediatamente o
seu "horror e repulsa" e enviou uma carta ao rei Abdula, da Transjordânia,
expressando sua comoção e sua reprovação.
O Supremo Comitê Árabe esperava que relatos exagerados de um "massacre"
em Deir Iassin fossem induzir a população dos países árabes a pressionar
seus governos para intervir na Palestina. Em vez disso, o impacto imediato
foi estimular um novo êxodo palestino.
Apenas quatro dias depois da publicação dos relatos de Deir Iassin, uma força
militar árabe emboscou um comboio que ia para o Hospital Hadassa, matando
77 judeus, entre eles médicos, enfermeiras, pacientes e o diretor do hospital.
Ficaram feridas 23 pessoas. Esse massacre atraiu pouca atenção e nunca é
mencionado pelos que são sempre rápidos em trazer Deir Iassin à tona. Além
disso, apesar de ataques como esse contra a comunidade judaica da Palestina,
onde mais de 500 judeus foram mortos nos primeiros quatro meses após a
decisão sobre a partilha, os judeus não fugiram.
Os palestinos sabiam, apesar da sua retórica em contrário, que os judeus não
tinham a intenção de aniquilá-los; se assim fosse, não teriam lhes permitido
sair de Tiberíades, Haifa ou de qualquer outra cidade. Além disso, os palestinos
podiam encontrar refúgio nos países vizinhos. Os judeus, entretanto, mesmo
que quisessem, não tinham para onde correr. Eles estavam decididos a lutar
até a morte por seu país e isso se tornou uma convicção para muitos, pois os
árabes estavam interessados em aniquilar os judeus, tal como o secretáriogeral
da Liga Árabe, Azam Pasha, deixou claro numa entrevista à BBC na
véspera da guerra (15 de maio de 1948). "Os árabes pretendem conduzir
uma guerra de extermínio e um massacre instantâneo do qual se falará da
mesma maneira como se fala dos massacres mongóis e das Cruzadas".
As referências a Deir Iassin permanecem sendo um elemento de propaganda
anti-Israel por décadas porque foi uma exceção à regra.
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