sexta-feira, 6 de abril de 2012

Palestinos de Gaza – Instrumentos do Hamas

http://frankherles.wordpress.com/2009/02/01/palestinos-de-gaza-instrumentos-do-hamas/


O jornal italiano Corriere della Sera, edição de 22 de janeiro de 2009, em uma reportagem bem documentada (entrevistas gravadas, fotos, vídeos) que está sendo traduzida para diversos idiomas e comentada em todo o mundo, está gerando grande repercurssão, censuras e, como esperado, controversias: os palestinos de Gaza são, em grande parte, instrumento do Hamas, “vivendo em constante clima de terror, medo e insegurança, usados como escudos humanos quando vivos e como propaganda de guerra quando mortos, especialmente se crianças, mulheres ou idosos”.

Nas entrevistas que deram origem ao artigo, palestinos da Faixa de Gaza revelaram ao mundo fatos não divulgados pela grande imprensa, a exemplo de como o Hamas se utiliza da população civil; usa escolas, mesquitas, hospitais, prédios públicos, da mídia e/ou densamente habitados em operações militares de ataque e defesa; prende, tortura e assassina adversários políticos; usa parte expressiva da mídia mundial como instrumento útil e barato para sua guerra publicitária.

Leia o artigo “‘Abitanti di Gaza accusano i militanti islamici: “Ci impedivano di lasciare le case e da lì sparavano“‘. – Moradores de Gaza acusam militantes islâmicos: “Estamos impedidos de deixar nossas casas e atiram de lá”.

Por Lorenzo Cremonesi*

“Vão embora, vão embora, saiam daqui agora! Vocês querem que os israelenses nos matem? Vocês querem que nossas crianças sejam bombardeadas? Levem suas armas e mísseis para longe da gente agora”, gritavam muitos habitantes da Faixa de Gaza para terroristas do Hamas e seus aliados da Jihad Islâmica. Os mais corajosos se organizaram e bloquearam as portas de seus pátios e portas de acessos aos telhados. Mas por mais que pedissem e implorassem, os terroristas não escutava ninguém: “Traidores! Colaboradores de Israel! Espiões do Fatah! Covardes! Os soldados da Jihad (Guerra ‘Santa’) vão castigá-los! Mesmo porque, assim como nós, todos vocês também morrerão! Combatendo os sionistas estamos todos destinados ao paraíso! Não estão satisfeitos de morrermos juntos?”. E assim, gritos furiosos, arrombavam portas e janelas, e escondiam-se em andares superiores, nos quintais; utilizavam ambulâncias da ONU e veículos de outras agências de ajuda humanitária, e não apenas como transporte, mas também para atacar forças israelenses; faziam barricadas ao lado de hospitais, escolas, mesquitas, prédios da ONU e outras agências de ajuda internacional.

Matando seus próprios ‘irmãos’

Em muitos casos os terroristas abriram fogo contra palestinos que bloqueava as estradas de suas casas na tentativa de salvar suas famílias, e em alguns que procuravam parentes nas ruas e atravessou o caminho dos jihadistas. Abu Issa, 42 anos, habitante do bairro de Tel Awa, afirma que “os ‘milicianos’ do Hamas provocavam os israelenses constantemente, fazendo de tudo para que eles abrissem fogo contra casas e prédios com civis, de onde disparavam nos sionistas. Eram na maioria rapazes entre 16 a 17 anos, armados com metralhadoras, granadas e morteiros. Não podiam fazer nada contra os tanques ou jatos. Sabiam que eram muito mais fracos. Mas queriam que eles [os israelenses] disparassem sobre nossas casas para depois acusá-los de crimes de guerra. Praticamente todos os prédios mais altos de Gaza bombardeados pelos israelenses, como o Dogmoush, Andalous, Jawarah, Siussi e tantos outros, tinham em seus telhados rampas de lançamento de foguetes ou observatórios do Hamas. Também colocaram lançadores de foguetes próximo do grande depósito da ONU, que depois foi incendiado.” “E o mesmo ocorreu nos edifícios de vilarejos ao longo da linha da fronteira, instalaram lançadores de Qassam e também foram atingidos pela fúria louca e punitiva dos sionistas”, complementa a prima de Issa, Um Abdallah, de 48 anos.

As testemunhas concordaram em falar conosco sob condição de que seus verdadeiros nomes não fossem revelados. E mesmo assim foi difícil obter estes testemunhos, pois “o medo do Hamas” e o seu controle da população “é uma sindrome coletiva na Faixa de Gaza”.

A vida sob um fio

Quem ousa contar uma versão diferente da narrativa imposta pela “muhamawa” (a resistência) torna-se automaticamente um “amil” (colaborador do inimigo), pagando com sua própria vida e pondo a vida de toda sua família em risco. Se Israel ou o Egito tivessem permitido aos jornalistas estrangeiros entrarem logo em Gaza, tudo teria sido bem mais fácil. “Jornalistas locais são continuamente ameaçados pelo Hamas, isto não é um fato novo no Oriente Médio. Infelizmente as sociedades dos países árabes não possuem tradições cultural de direitos humanos. Sob o governo de Yasser Arafat as perseguições e censuras da imprensa eram frequentes e comuns. Com o Hamas é muito, muito pior”, sustenta Eyad Sarraj, conhecido psiquiatra da Cidade de Gaza. “E há outro dado que emerge com evidência cada vez maior quando se visita clínicas, hospitais e as famílias das vítimas do fogo israelense. Na realidade o número de vítimas parece ser muito mais baixo do que os quase 1300 mortos e 5.000 feridos relatados pelo Hamas e repetidos por oficiais da ONU, da Cruz Vermelha e outras organizações ditas humanitárias. O número de mortos podem ser não mais do que 500 ou 600, a grande maioria são rapazes entre 17 e 23 anos, que foram recrutados e treinados pelo Hamas, que literalmente os enviou ao massacre”, diz um médico do hospital de Shifah, que categoricamente se recusa ser identificado, temendo por sua vida e de sua família. “Mesmo jornalistas locais sabem que já fizemos chegar aos ouvidos de chefes do Hamas ‘o por que de insistirem em aumentar o número de vítimas?’ E mais estranho ainda é que as organizações não-governamentais e a impresa, ocidentais na maioria, repitam essas informações sem nenhuma verificação! No final a verdade poderá vir à tona, a exemplo do ocorrido em Jenin, em 2002. Inicialmente falou-se em 1500 mortos- e a imprensa mundial divulgou como sendo verdade absoluta -, mas depois comprovou-se que o número de mortos palestinos foi 54, incluíndo pelo menos 45 guerrilheiros mortos em combate”.

Números Inflados

Como é que chegamos a esses números?

Masoda Al Samoun, 24 anos, nos explica essa matemática política: “Tomamos como exemplo o caso do massacre da família Al Samoun, do bairro de Zeitun. Quando as bombas atingiram suas casas eles reportaram 31 mortos – isto foi registrado pelo Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Logo depois, quando os corpos foram resgatados dos escombros o número de vítimas foi dobrada para 62 e adicionado ao total geral – que já contava com as 31 mortes inicialmente informadas.” E há um detalhe interessante: “O que tornou a situação ainda mais confusa foi a atuação de forças especiais israelenses que, disfarçados como guerrilheiros do Hamas, com faixa verde na testa com a frase: ‘Não há outro Deus que não Alá, e Maomé é o seu profeta’. Essas tropas sionistas infiltravam-se nos becos para criar o caos e obter informações estratégicas. Gritavamos para que fossem embora, pois temíamos severas represálias dos sionistas. Mais tarde entendemos que eram israelenses.” Basta visitar qualquer hospital para constatar que os números estão errados. Muitos leitos estão vazios no Hospital Europeu de Rafah, um dos hospitais que deveria estar mais envolvido com as vítimas da “Guerra dos Túneis. O mesmo vale para o Hospital Nasser, em Khan Yunis. Dos 150 leitos do hospital particular Al-Amal, somente 5 estão ocupados. Na Cidade de Gaza, o Hospital Wafam – construído com doações beneficentes islâmicas da Arábia Saudita, Qatar e outros países do Golfo Pérsico – já havia sido evacuado em virtude de ter sido bombardeado por Israel em fins de dezembro – este hospital era conhecido por muitos como sendo um dos quarteis-general do Hamas e onde se recuperaram diversos combatentes da guerra civil contra a Fatah, em 2007. Os outros estavam no Al Quds, que por sua vez foi bombardeado na segunda semana de janeiro.

Dissimulação, Prisões, Torturas, Assassinatos…

Isto é narrado por Magah al Rachmah, 25 anos, que vive perto dos quatro prédios do complexo de saúde, hoje seriamente danificado, nos diz: “Os homens do Hamas se esconderam principalmente no prédio que hospeda os oficias administrativos do Al Quds. Usavam ambulâncias e uniformes de motoristas e enfermeiros – que eram obrigados a fazerem isso - com símbolos de paramédicos para confundir, fugir e atacar os israelenses”. Tudo isso contribuiu para reduzir o número de vagas em leitos nos institutos de saúde em Gaza. Até o Shifah, o maior hospital da cidade, está muito longe de registrar plena ocupação. No entanto, aparentemente, suas instalações subterrâneas foram densamente ocupadas. “O Hamas instalou ali suas princiapis células de emergência, salas de interrogatórios para prisioneiros do Fatah e da Frente Laica de Esquerda que foram evacuados da prisão bombardeada de Saraja”, dizem ‘militantes’ da FDLP. Esta tem sido uma guerra dentro da guerra, entre o Fatah e o Hamas, que apesar do considerável número de prisões, torturas e mortes segue ignorada pela imprensa! No entanto, as organizações humanitárias locais, por mais que sejam controladas pela OLP, contam que ocorreram “dezenas de execuções, casos de tortura e seqüestros nas últimas três semanas”, todos perpetrados pelo Hamas. Um dos casos mais comentados é o de Achmad Shakhura, 47 anos, que viveu em Khan Yunis. Shakhura foi irmão de Khaled, braço direito de Mohammad Dahlan (ex-chefe dos serviços secretos de Yasser Arafat, que hoje vive no exílio), raptado por ordem do chefe da polícia secreta do Hamas, Abu Abdallah Al Kidra. Torturado, teria tido seu olho direito arrancado e e finalmente sido executado no dia 15 de janeiro.

* Lorenzo Cremonesi, jornalista italiano, correspondete internacional no Oriente Médio do diário Corriere della Sera.

Fonte

1. Jornal Corriere della Sera, edição de 22 de janeiro de 2009.


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