terça-feira, 4 de dezembro de 2012

As raízes nazistas da causa palestina

ESCRITO POR FELIPE MELO



MeinkampfemárabeA aliança entre os grupos muçulmanos envolvidos com Hajj al-Husseini e o governo nazista não era meramente tática. Ela era essencial, estratégica, pois envolvia um ponto nevrálgico de ambas as ideologias: o extermínio dos judeus.


O expediente mais comum utilizado para criticar ações israelenses contra seus inimigos, notadamente os grupos terroristas palestinos, é efetuar comparações entre judeus e nazistas de todas as maneiras possíveis: quando alguma ação militar é executada contra o Hamas, centenas de vozes se erguem para denunciar o “Holocausto palestino” perpetuado pelo “Estado sionista” (ou sionazista, em alguns casos), acusam o Estado de Israel de limpeza étnica, de supremacismo judaico, de apartheid, dentre outras coisas. Os tradicionais meios de comunicação de massa – canais televisivos, jornais de grande circulação – e os não tão tradicionais – como os blogueiros estatólatras de plantão – utilizam ad nauseamesse expediente, seja de modo explícito ou sub-reptício. Abundam cenas e relatos de destruição, dor, sofrimento e tristeza na Faixa de Gaza como se se tratasse, de fato, de uma limpeza étnica, enquanto se ignora solenissimamente os milhares foguetes palestinos que chovem sobre as cidades israelenses – provocando destruição, dor, sofrimento, tristeza e, acima de tudo, terror.
Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lênin, possuía uma máxima interessante: “acuse o seu inimigo daquilo que você é”. Os grupos terroristas palestinos – que dominam tanto a propaganda quanto as modernas técnicas terroristas – seguem esse conselho há décadas, e não é à toa: as origens da “resistência” palestina à “ocupação” judaica no Oriente Médio é algo que tem origem em uma convenientemente ignorada aliança entre o nacional-socialismo alemão e a causa palestina.

A raiz dos grupos terroristas palestinos – OLP, FPLP, Fatah, Hamas – e de sua ideologia pode ser atribuída a um homem: Hajj Amin al-Husseini. O pai de Hajj, Muhammad Tahir al-Husseini, foi Qadi (chefe do Supremo Conselho Islâmico) em Jerusalém e primeiro Grão Mufti da cidade. Nomeado ao posto pelas autoridades otomanas na década de 1860, Tahir al-Husseini incitou a perseguição contra imigrantes judeus, chegando a conseguir a aprovação de uma lei que proibia a aquisição de terras por parte de judeus em Jerusalém e áreas circunvizinhas. Em 1908, quando Muhammad Tahir al-Husseini morreu, o posto de Grão Mufti de Jerusalém foi ocupado por seu filho mais velho, Kamil al-Husseini.
A postura de Kamil foi bastante diferente daquela adotada por seu pai: buscou uma política mais apaziguadora do que Muhammad Tahir com relação aos judeus e, quando o Império Otomano ingressou na Primeira Guerra, demonstrou simpatia e abertura aos britânicos. Com a derrota dos turcos, em 1918, diversos territórios do Império Otomano foram divididos entre França, Inglaterra e Rússia, estabelecendo-se o Mandato Britânico da Palestina por volta de 1920. Nessa mesma época, Hajj al-Husseini organizou um levante armado contra os judeus que já habitavam a região da Palestina, o que levou a muitas mortes e à destruição de diversas propriedades de imigrantes judeus. O pretexto para esse levante foi o apoio dado pelas autoridades britânicas à Declaração de Balfour (1917), que pedia a criação de um Estado judeu na região da Palestina.

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Hajj Amin al-Husseini (1895 - 1974)
No ano de 1921, com a morte de Kamil, Hajj assumiu o posto de Grão Mufti de Jerusalém e de líder do Supremo Conselho Islâmico. Adotando uma postura completamente diferente da do irmão, Hajj al-Husseini não apenas ressuscitou a agressiva política antissemita de seu pai, Muhammad Tahir, como foi além e recrudesceu-a: viajou por todos os países árabes da região com vistas a formar uma grande liga antijudaica. Seu objetivo não era garantir que houvesse Palestina para os palestinos, mas era a perseguição aos judeus que garantisse ou sua expulsão, ou seu extermínio.

O clima antijudaico alimentado diuturnamente por Hajj al-Husseini era um fator de grande instabilidade na região, o que provocava confrontos diários entre judeus e árabes palestinos. Em 23 de agosto de 1928, uma sexta-feira, três árabes foram mortos no bairro judeu de Mea Shearim, em Jerusalém; durante o sermão na Mesquita de Al-Aqsa, o Grão Mufti conclamou todos os fiéis islâmicos a atacar os judeus de Mea Shearim. Após as preces na mesquita, uma grande multidão afluiu para o bairro judeu e atacou seus habitantes, que não foram pegos de surpresa. O saldo foi de 249 mortos (116 árabes, 133 judeus) e aproximadamente 600 feridos, judeus em sua maioria. Um ano depois, dois outros atos bárbaros contra os judeus na Palestina tiveram lugar na região: o primeiro foi em 24 de agosto na cidade de Hebron, onde 67 judeus foram assassinados e centenas ficaram feridos – muitos deles mutilados; o segundo foi em Safed, onde 18 judeus foram mortos e 80 ficaram feridos. Esses pogroms foram convocados pelo próprio Grão Mufti de Jerusalém, que vinha sustentando que os sionistas estavam tentando tomar de assalto a Mesquita de Al-Aqsa. Não havia qualquer complô do tipo.



Árabes promovendo o pogrom de Hebron.
Ao longo da década de 1930, a perseguição promovida pelo Grão Mufti de Jerusalém contra os habitantes judeus da região da Palestina alçou um nível internacional jamais visto até então. Entre os dias 7 e 17 de dezembro de 1931, Hajj al-Husseini promoveu em Jerusalém o Congresso Islâmico Mundial, que reuniu 130 delegados de 22 países. O congresso foi uma grande demonstração antijudaica, com diversas declarações conclamando pela perseguição aos judeus e o boicote a suas empresas em todo o mundo. Também por essa época, o Grão Mufti apoiou entusiasticamente o primeiro grupo terrorista palestino, o Al-Kaff Al-Aswad‎ (“Mão Negra”), fundado pelo clérigo sírio Izz ad-Din al-Qassam – que dá nome às Brigadas al-Qassam, o braço militar do Hamas.

Zeloso por difundir e amplificar cada vez mais seu espírito antijudaico, Hajj al-Husseini mantinha contato com diversos governos, inclusive na Europa. E foi um governante em particular que, em 1933, atraiu a mais ampla e sincera simpatia do Grão Mufti de Jerusalém: o recém-eleito chanceler alemão Adolf Hitler. Em 31 de março de 1933, Hajj al-Husseini enviou um telegrama oficial ao gabinete de Hitler informando que os muçulmanos na Palestina e ao redor do mundo viam com entusiasmo sua ascensão à chancelaria alemã. A partir desse ano, as relações entre a autoridade islâmica de Jerusalém e o governo nazista só foram aumentado e se fortalecendo. O Grão Mufti se tornou voluntariamente uma espécie de garoto-propaganda do regime nazista no Oriente Médio, sobretudo junto às autoridades e grupos islâmicos da região – em especial a Irmandade Muçulmana, que hoje governa o Egito. Com a fundação do Comitê Pan-Árabe de Bagdá, em 1934, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, de Hitler, montou um escritório oficial na Palestina, onde passou a trabalhar em estreita cooperação com as autoridades islâmicas do Oriente Médio.
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Hajj al-Husseini com Adolf Hitler, 28 de novembro de 1941.
No dia 19 de abril de 1936, Hajj al-Husseini convocou um levante geral de árabes contra os judeus na Palestina. Grupos armados de extermínio foram formados e, durante 177 dias, mais de três mil judeus foram assassinados. Dezenas de milhares de colonos judeus tiveram suas propriedades destruídas, e muitos se viram forçados a fugir da região. Os governos de Hitler e Mussolini não apenas forneceram grandes somas de dinheiro para a revolta, como também abasteceram os grupos de al-Husseini com armamentos que entravam pela Jordânia e a Arábia Saudita. A autoridade britânica na região se viu forçada a agir, o que fez com que Hajj al-Husseini fugisse em 1937 para o Líbano. Em outubro de 1939, mudou-se para Bagdá até a queda do ditador iraquiano Rashid Ali al-Gaylani, em maio de 1941, quando fugiu para Teerã. Em 8 de outubro daquele ano, os Aliados ocuparam a Pérsia, mas Hajj al-Husseini conseguiu escapar mais uma vez. Graças a uma ação da Inteligência Militar Italiana, o agora ex-Grão Mufti de Jerusalém foi para a Turquia e, de lá, para a Itália, chegando a Roma em 10 de outubro de 1941.

Hajj al-Husseini buscou apoio formal dos governos do Eixo contra os judeus na Palestina e a favor do movimento pan-árabe. Em 27 de outubro, encontrou-se pessoalmente com Benito Mussolini, que declarou seu apoio à causa palestina. Uma declaração formal foi rascunhada por al-Husseini e aprovada por Mussolini. Após esse encontro, al-Husseini foi para Berlim, onde obteve também do governo nazista a aprovação da declaração – aprovação que obteve diretamente de Adolf Hitler em 28 de novembro de 1941.
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Al-Husseini passa a Divisão SS-Handschar em revista. Atrás, à direita, o SS-Brigadeführer Sauberzweig.
A partir desse momento, as relações entre autoridades islâmicas ao redor do mundo e o Terceiro Reich estreitaram-se sobremaneira. Hajj al-Husseini tornou-se um grande propagandista de Hitler em meio às comunidades muçulmanas do leste europeu, sobretudo dos Bálcãs, e do Cáucaso. Ele foi um dos grandes mentores das divisões islâmicas da Waffen-SS, obtendo recrutas em países como Albânia, Bósnia, Iugoslávia, Croácia e Azerbaijão. Elementos culturais tipicamente islâmicos chegaram a ser incluídos nas insígnias e nos uniformes das divisões islâmicas da SS, como o tradicional fez turco. A mais importante divisão islâmica da SS foi a Divisão Handschar, croata, cujo comandante era o SS-Brigadeführer Karl-Gustav Sauberzweig.
A aliança entre os grupos muçulmanos envolvidos com Hajj al-Husseini e o governo nazista não era meramente tática. Ela era essencial, estratégica, pois envolvia um ponto nevrálgico de ambas as ideologias: o extermínio dos judeus. Em 1942, quando al-Husseini encontrou-se com Adolf Eichmann e ficou a par da chamada die Endlösung der Judenfrage (“a Solução Final da Questão Judaica”), instou Eichmann a exterminar todos os judeus, não poupando nem as crianças. E essa aliança estratégica se manteve até o fim da guerra, quando o Terceiro Reich caiu. No entanto, isso não afetou em nada os esforços de Hajj al-Husseini na promoção do extermínio de judeus no Oriente Médio. Em 1946, instalou-se no Cairo e, unindo-se novamente à Irmandade Muçulmana, utilizou sua expertise na formação das divisões islâmicas da SS para fundar os Batalhões de Alá, que se dedicavam ao assassínio de judeus. Os Batalhões de Alá foram uma das principais forças agressoras na primeira guerra enfrentada pelo Estado de Israel, que começou um dia após a sua instituição, em 1948. Até a sua morte, em 1974, Hajj al-Husseini sustentou até o fim sua posição pró-nazista em todos os seus meandros, como a negação do Holocausto.

A simpatia pelo nazismo não sumiu do seio dos grupos terroristas palestinos. Ao contrário, ela ainda está muito viva. Não são poucas as referências honrosas a Hitler e as tentativas de negação do Holocausto – que ora é descrito como uma fantasia sionista, ora como uma reação legítima ao complô sionista para dominar o mundo. Mahmoud Ahmadinejad, um dos principais financiadores do Hamas, promoveu em Teerã um encontro de revisão do Holocausto. Ekrima Sa’id Sabri, Grão Mufti de Jerusalém de 1993 a 2006 por indicação Yasser Arafat, então líder da Autoridade Palestina, argumentava que “Os Protocolos dos Sábios de Sião” provavam cabalmente que os sionistas tinham capacidade para inventar uma história como o Holocausto. Izz ad-Din al-Qassam – que, como vimos, também era pró-nazista – é o nome que batiza as Brigadas al-Qassam, braço militar do Hamas, responsáveis pelo lançamento diário de mísseis contra o sul de Israel. Os ecos da influência nazista reverberam até hoje contra os judeus.
O principal objetivo dos grupos políticos e terroristas palestinos jamais foi a fundação de um Estado palestino soberano, independente e plenamente reconhecido, mas o extermínio dos judeus da face da Terra. Esse sentimento existe de maneira inequívoca e inconfundível desde meados do século XIX, e, com o passar do tempo, sofisticou-se. O empenho do Terceiro Reich em apoiar essas iniciativas no Oriente Médio prova-o além de qualquer dúvida. Chamar o Estado de Israel de sionazista é ultrajante e despropositado, mas não seria equivocado chamar o Hamas de nazislâmico.

Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UnB.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu tenho tido muita curiosidade sobre esse assunto e te parabenizo pelo artigo. Gostaria que me enviasse mais fontes de pesquisa. Eu seria muito grata. Abraços. Jane Lima (janefsl@yahoo.com)

Stewart Gilligan Griffin disse...

As origens nazistas do terrorismo árabe moderno:
http://www.beth-shalom.com.br/artigos/origensnazistas.html


A origem do anti-sionismo palestino é o nazismo:
http://israelxxpalestina.blogspot.com.br/2010/07/heil-jihad-parte-3-isla-conexao-nazista.html


Conexão islamo-nazista:
http://www.beth-shalom.com.br/artigos/islánazismo.html


Arabs were allies and supporters of Nazism:
http://israelxxpalestina.blogspot.com.br/2010/07/arabs-were-allies-and-supporters-of.html


Alan M. Dershowitz - Ahmadinejad's Holocaust Myths
http://archive.frontpagemag.com/readArticle.aspx?ARTID=28288


The Swastika and the Crescent:
http://israelxxpalestina.blogspot.com.br/2010/07/swastika-and-crescent.html


Haj Husseini and the Arab Riots of 1920:
http://www.eretzyisroel.org/~samuel/britainriots.html


Haj Amin al Husseini:
http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/husseini.html


Muftism and Nazism: World War II Collaboration Documents:
http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/nazis.html


The Arab/Muslim Nazi Connection Bosnian Moslems recruited the Nazi SS by Yasser Arafat's 'Uncle':
http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/recruited.html


The Farhud, the Mufti inspired Krystallnacht
in Iraq, 1941:
http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/farhud.html


Videos com testemunho dos sobreviventes do Farhud no Iraque (pogrom inspirado no nazismo e comandado pelo Mufti de Jerusalem, tio de Arafat):
http://youtu.be/jlfB8zmZLyU
http://youtu.be/MHezpxCnyOA
http://youtu.be/mNP97Ho7nsk


The Syrian-Iraqi Baath party and its Nazi beginnings:
http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/baath.html

Benaiah Cabral disse...

Parabéns de fato pelo artigo. Não imaginava que um brasileiro já tivesse escrito algo assim. Tudo perfeitamente lógico e visível mesmo em uma leitura imparcial da história mal documentada por nossos meios de informação. O que se ensina, atualmente, aos jornalistas e formadores de opinião?