segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Antissemitismo islâmico: a mais ameaçadora forma de ódio aos judeus



O historiador Robert Wistrich, em entrevista ao jornal suiço Basele Zeitung, afirma que a  esquerda ocidental e os islâmicos compartilham o mito de que Israel é uma intrusão colonial, “branca” e ocidental no Oriente Médio e lembra que o Irmandade Muçulmana tem pretensões totalitárias desde que foi criada, em 1928.

Pergunta: Em seu trabalho enciclopédico, Uma Obsessão Letal: O Anti-Semitismo Desde a Antigüidade até a Jihad Global[1], o senhor apresenta o anti-semitismo islâmico como um perigo existencial para a civilização moderna. Poderia explicar?

Resposta: Em minha opinião, o anti-semitismo islâmico é, de longe, a forma mais dinâmica e ameaçadora de anti-semitismo existente no mundo contemporâneo. Ele combina o flagelo do terrorismo islâmico, a difusão da jihad [guerra santa], o ódio ao Ocidente, a negação do Holocausto e o “antissionismo” genocida , que é sancionado pelo Estado no Irã. O triunfo dramático da Irmandade Muçulmana no Egito e o crescimento alarmante dos movimentos militantes salafistas por todo o Oriente Médio árabe fizeram crescer em muito o nível de ameaça mundial.

Pergunta: Existe uma conexão histórica entre o fascismo europeu e o islamismo?
Resposta: A Irmandade Muçulmana, fundada no Egito em 1928, por Hassan al-Banna, tinha uma visão totalitária radical da transformação da sociedade, um culto à liderança, e um ódio visceral aos judeus, não tão diferente daquele do fascismo e do nacional- socialismo. Além disso, o fundador carismático do movimento nacional árabe palestino, Haj Amin el-Husseini, era um fanático genocida anti-semita, que colaborou ativamente com Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Essa tradição “aniquilacionista” de ódio aos judeus tem continuidade no movimento do Hamas palestino (uma ramificação da Irmandade Muçulmana) até os dias de hoje. Seu Pacto Sagrado[3] é um dos textos mais cruamente antijudaicos de toda a era pós-Holocausto.

Pergunta: O senhor descreveu o impacto do legado nazista sobre o islamismo radical, mas o que tem a dizer sobre o anti-semitismo da direita clássica na Europa de nossos dias?

Resposta: Tendências populistas de direita são especialmente fortes na Hungria, na Áustria, na Holanda, na Bélgica, em partes da Escandinávia e nos Estados Bálticos, na Europa Oriental e até mesmo na Suíça. Tampouco estão imunes a França, a Alemanha e a Itália. Diante de uma crise econômica mundial alarmante, do possível colapso da Zona do Euro, do espectro da globalização e da maciça migração dos países mais pobres do Sul para a Europa, essas tendências negativas provavelmente crescerão. O anti-semitismo é parte dessa síndrome mais ampla.

Pergunta: Em seu mais recente livro[2], o senhor com freqüência critica severamente as atitudes esquerdistas do Ocidente com relação a Israel e à chamada “Questão Judaica”. Como o senhor explica a hostilidade esquerdista?

Resposta: A esquerda está sofrendo de amnésia aguda. Ela se esqueceu, por exemplo, que o presidente egípcio Nasser e seus aliados árabes ameaçaram abertamente jogar os judeus ao mar em 1967. Até o presente dia, o Hamas, o Hezb’allah [Partido de Alá] e seus defensores iranianos, para não mencionar muitos Estados árabes, constantemente difundem sua intenção de erradicar o “câncer” sionista do mapa do Oriente Médio. Portanto, eu pergunto às pessoas da esquerda – esta é uma posição “progressista”? Dificilmente. A esquerda também se esqueceu que houve uma presença judaica ininterrupta na Terra Santa muito antes do nascimento do islamismo – e, a despeito da interminável opressão, juntamente com perseguições e massacres dos romanos, bizantinos, cruzados e muçulmanos, essa colonização judaica continuou até a emergência do moderno movimento sionista.

Pergunta: Por que o senhor acha que tantos esquerdistas são pró-islâmicos hoje?

Resposta: A esquerda ocidental e os islâmicos compartilham o mito de que Israel é uma intrusão colonial, “branca” e ocidental no Oriente Médio. Ambos os grupos abraçaram uma visão radicalmente distorcida dos palestinos como “judeus” indefesos, subjugados e cruelmente abusados por israelenses fascistas. Por detrás dessa simbologia demoníaca há uma visão anti-semítica de Israel e da América como incorporações gêmeas da maldade capitalista-imperialista. Desnecessário dizer que essa mitologia está totalmente desconectada da realidade empírica.

Pergunta: À luz de suas atuais tendências, o senhor vê algum futuro para os judeus europeus? Se morasse na Europa, ficaria ou se mudaria?

Resposta: Pessoalmente, creio que o futuro em longo prazo dos judeus europeus é desanimador. Eu não desejaria decidir por eles sobre qual futuro escolher, mas estou convencido de que a terra de Israel é a única pátria espiritual e política possível para o povo judeu. Também devemos nos lembrar de que foi na cidade de Basiléia que Theodor Herzl proclamou em primeira mão, em 1897, para o mundo judeu e gentio mais amplo, o nascimento do sionismo moderno. Em seu diário, ele profetizou que dentro de cinqüenta anos iria surgir inevitavelmente um Estado Judeu. Naquela época, muitas pessoas o repudiaram como sendo charlatão e sonhador. Mas sua profecia tornou-se realidade e por ela devemos ser gratos.

Notas:

1. Robert Wistrich, A Lethal Obsession: Anti-Semitism from Antiquity to the Global Jihad [Uma Obsessão Letal: O Anti-Semitismo desde a Antiguidade até a Jihad Global], Random House, 2010.

2. Robert Wistrich, From Ambivalence to Betrayal: The Left, The Jews, and Israel [Da Ambivalência à Traição: a Esquerda, os Judeus e Israel], University of Nebraska Press, 2012.

3. Estatuto do Hamas: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html.

Robert Wistrich é professor de História Européia e Judaica Modernas na Universidade Hebraica de Jerusalém. Desde 2002 é diretor do Centro Vidal Sassoon de Pesquisa Sobre o Anti-Semitismo. O destacado autor, historiador e estudioso israelense foi entrevistado sobre as sombras mais prevalentes do antissemitismo por Hansjörg Müller, editor do Baseler Zeitung, um jornal em língua alemã de Basiléia, Suíça. A reportagem foi publicada na edição de 12 de setembro de 2012. Com a autorização de Müller, o Professor Wistrich traduziu a entrevista para o inglês. A versão em português foi baseada nessa tradução.

Nenhum comentário: